A 30 de outubro, os Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar manifestaram-se em frente ao Parlamento, assinalando o início de uma greve às horas extraordinárias, para exigir a revisão da carreira e melhores condições salariais.
A ministra da Saúde reconheceu esta terça-feira a "enorme falta de recursos no INEM" e que as medidas de contingência anunciadas hoje surgem devido à indisponibilidade dos técnicos de emergência pré-hospitalar para fazerem horas extraordinárias. “Tivemos até há 48 horas com uma enorme esperança de que esta situação com um grupo profissional que valorizamos muito pudesse ter alguma resolução, pelo menos algum compasso de espera até nos voltarmos a sentar para debater, discutir, e, acima de tudo, rever a sua carreira, que faz todo o sentido como assumimos”, disse Ana Paula Martins.
Hoje, após a reunião com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, em Lisboa, o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), Rui Lázaro, afirmou que "estão reunidas as condições para terminar a greve".
"Esta greve foi a demonstração de um 'grito de revolta' perante as condições, porque os quadros do INEM estão incompletos e os problemas vão continuar até que as medidas comecem a fazer efeito", continuou.
"Pretendemos ambos, sobretudo, chegar a um entendimento que nos permita não só suprimir a greve, mas acima de tudo garantir as condições necessárias para que se comece a reverter o estado a que a emergência médica chegou, que não é de agora, que já vem de alguns anos desta parte, que se tem agravado muito pelo número de técnicos que tem vindo a diminuir, fruto de uma carreira muito pouco atrativa e um salário demasiado baixo", salientou Rui Lázaro.
O presidente do STEPH anunciou a assinatura de "um protocolo negocial que iniciará neste mês, com a primeira reunião".
"Será para pôr em prática as medidas em que convergimos e, sendo assim, estão reunidas as condições para que nós de imediato possamos levantar a greve às horas estas que está em vigor desde o dia 30", declarou.
O impacto da greve
No sábado passado, o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar afirmava que duas pessoas tinham morrido nos três dias anteriores por atrasos no atendimento na linha 112, considerando que as condições continuavam a agravar-se "por escassez" de profissionais.
Em comunicado, o STEPH adiantava que “estes exemplos de colapso do sistema de emergência médica sucedem-se” e sublinhava que, “na última segunda e quinta-feira”, tinham existido no CODU “mais de 100 chamadas em simultâneo em espera para serem atendidas”.
Ao mesmo tempo, o sindicato garantia que exemplos como aqueles “sucediam-se frequentemente”, pois “o baixo número de TEPH [Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar] para atender chamadas nas centrais de emergência, bem como o elevado número de meios encerrados por falta destes técnicos tem aumentado e as consequências estão à vista”.
Já na última segunda-feira, um total de 46 meios de emergência do INEM estiveram parados devido à greve, que provocou ainda mais de 100 chamadas para o 112 em espera, anunciava o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar.
"O número total de pessoas a atender as chamadas do 112 aproximou-se de um terço do que deveria ser um turno normal”, adiantava à Lusa, no início da semana, o vice-presidente do sindicato, Rui Cruz, salientando que os dados refletiam a adesão à paralisação da administração pública, mas também à greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar.
As greves tiveram uma “repercussão muito significativa” nos quatro Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) existentes em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro, o que fez com que “houvesse um número muito diminuído de técnicos a atender as chamadas da linha 112”, avançava o dirigente sindical.
A meio da manhã de segunda-feira, “ultrapassou-se a barreira das 100 chamadas em espera que não diminuiu até à hora de almoço”, referia Rui Cruz, ao apontar o exemplo do CODU de Lisboa, o maior do país, que teve "apenas quatro pessoas a atender as chamadas, quando devia ter 18”.
"Já tivemos registo de mais 120 chamadas em espera, com algumas delas com tempo de aproximadamente 30 minutos, que são reflexo da carência de técnicos para atender essas chamadas", dizia ainda o vice-presidente do STEPH, adiantando que eram esperados efeitos semelhantes aos registados para o turno da tarde.
Contudo, por volta das 18h00, de acordo com o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, estavam cerca de 60 chamadas para o número de emergência 112 em espera a nível nacional, com uma diminuição do tempo médio de espera em relação ao turno da manhã.
Em relação aos meios parados, o vice-presidente do STEPH avançava à Lusa que, no turno que se iniciou às 16h00, o total de meios parados eram 44, a maioria dos quais ambulâncias de emergência médica nas cidades do Porto e Lisboa.
Segundo Rui Cruz, ao nível dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), estavam a funcionar seis postos de atendimento do 112 no Norte, três no Centro, um em Lisboa e Vale do Tejo e “zero no Algarve”, cujas chamadas foram reencaminhadas para os CODU de outras regiões.
Os constrangimentos geraram “inevitavelmente atrasos, quer no atendimento das chamadas devido ao número diminuído de técnicos que estão no CODU, e uma resposta mais demorada quando os meios são acionados, porque, para fazer face à carência de alguns destes meios, estão a ser acionados meios de outras localidades, que têm de percorrer uma distância maior para chegar até à vítima”, referia o dirigente sindical.
Foram noticiadas mortes por falta de assistência pré-hospitalar, algumas em investigação, mas o primeiro-ministro veio hoje alertar que não estão confirmadas as causas dos óbitos e reconheceu que os profissionais estão exauridos e que o Governo herdou o caos no INEM.
*Com Lusa
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