Depois de ontem ter sido noticiado que o homem de 80 anos que matou Bruno Candé com quatro tiros à queima-roupa, na rua principal de Moscavide, no passado sábado, ter negado, em interrogatório perante a PSP, qualquer motivação racista na origem do crime, surgem vários relatos de quem testemunhou, durante a semana, episódios que contradizem o homicida.
As discussões entre o ator e o idoso "tinha começado na última quarta-feira por causa da cadela [a quem terá batido] e reacendeu-se no sábado pelos mesmos motivos quando os dois homens se voltaram a encontrar na rua". Testemunhas no local confirmam esta versão dos factos, noticiada ontem pelo Expresso, e revelam vários comentários racistas que foram proferidos naquele dia.
O dono do café de Moscavide onde Bruno Candé estava quando teve as primeiras desavenças testemunhadas com o homicida, disse ao jornal Público que ouviu serem dirigidos vários insultos ao ator. O idoso terá dito “que ele era preto, que ele tinha que estar na senzala, que ele ia violar a mãe dele.”
Vânia Rodrigues, mulher do proprietário do estabelecimento onde também trabalha, disse que, até ter assistido àquela discussão na passada quarta-feira, nunca tinha visto o homem de 80 anos. Recorda, desse dia, que "o velhote andava com a bengala para cima”, que o "Bruno estava mais calmo" e de dizer ao ator: "tem calma, que ele é mais velhote e se acontece alguma coisa vais perder a razão.” Como resposta, Bruno contou-lhe os insultos racistas que terá ouvido: “fui à tua mãe e àquelas pretas de merda todas!”.
Mas os comentários não terão ficado só por ali. Júlio Martins, que trabalha na ourivesaria ao lado do banco onde Bruno foi assassinado, revela que nessa quarta-feira ouviu o idoso dizer o ator "tenho armas do Ultramar em casa e vou-te matar", acompanhado de insultos como “preto do caralho" e "vai para a tua terra”.
A partir desse dia, do café, Vânia Rodrigues passou a reparar que o alegado homicida andava a passear pela zona, com ar de quem estava à procura de Bruno, “e à procura de confusão”, relata a testemunha ao Público. Foi assim até que no sábado, Maria Silva, funcionária de uma garrafeira em frente ao banco em que ocorreu o crime, viu o homem, que conhecia como cliente, com uma arma apontada na direção de Bruno. Diz que ouviu estalos, viu a cadela aos pulos e o idoso a ir "à sua vida, como se nada fosse, de uma frieza incrível. Ainda olhou duas vezes para trás".
Num comunicado divulgado no sábado, a família de Bruno Candé Marques referiu que o ator "foi alvejado à queima-roupa, com quatro tiros, na rua principal de Moscavide", e que "o seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas".
A família mencionou que a vítima, de 39 anos, era ator da companhia de teatro Casa Conveniente desde 2010, tendo participado em telenovelas.
Também no sábado, a PSP informou, sem identificar a vítima, que um homem morreu após ter sido baleado em várias partes do corpo por outro homem com cerca de 80 anos, na Avenida de Moscavide, adiantando que o suspeito tinha sido detido e que a arma de fogo tinha sido apreendida.
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