"Evidentemente", a repressão e a tortura "existem há 30 anos, não são um fenómeno novo na Rússia", comentou em conferência de imprensa Mariana Katzarova, relatora especial das Nações Unidas sobre a situação dos direitos humanos nesse país.

"Mas agora, depois da invasão em larga escala [da Ucrânia], tornou-se numa estratégia concertada, uma ferramenta para sufocar o espaço cívico, para silenciar todos os antiguerra ou dissidentes, qualquer um que não esteja de acordo com as políticas e as autoridades russas", acrescentou.

Este novo relatório, apresentado à Assembleia Geral das Nações Unidas, conclui que a tortura tornou-se uma ferramenta de repressão "no interior [do país] e de agressão no exterior".

"São raras as vezes em que as autoridades russas têm de prestar contas. Esta impunidade contribuiu para a sua 'normalização' na sociedade e a 'legitimação' de uma cultura de violência", sustenta o documento.

A relatora, cujos pedidos para visitar a Rússia não foram respondidos, descreve detalhadamente uma "ampla gama de métodos brutais" de tortura utilizados pela polícia russa, em particular para "conseguir" confissões ou para "castigar" e "humilhar" reclusos nas prisões.

O documento refere-se particularmente ao método de "tortura psicológica" conhecido como "Shizo" — as "celas disciplinares individuais", nas quais são colocados em isolamento certos opositores, como foi o caso de Alexei Navalny, que morreu na prisão em fevereiro de 2024 — e ao desterro em pavilhões psiquiátricos.

"Desde o início da mobilização [militar] parcial em setembro de 2022, os comandantes do Exército russo recorreram à tortura e aos maus-tratos contra os objetores de consciência, os combatentes alistados e os militares regulares que se negam a obedecer às ordens de lutar contra a Ucrânia", acrescenta o texto.

Concretamente, o documento refere-se à existência de "pelo menos 15 locais de detenção não oficiais próximos da linha de frente, onde são mantidas centenas de pessoas que são submetidas a tortura como punição".