O dia 9 de abril, no Reino Unido, significou o início da chamada Operação "Forth Bridge", nome de código para os preparativos do funeral do príncipe Filipe, duque de Edimburgo, que acontece a 17 de abril, na capela de São Jorge, no castelo de Windsor.

Contudo, alguns pormenores do que vai acontecer foram definidos pelo próprio príncipe, que participou ativamente na preparação do seu funeral — que pretendia discreto —, incluindo no projeto de modificação do veículo, um jipe, que transportará o seu caixão.

Quando morre um membro da família real, o protocolo a seguir é complexo — ainda mais quando se vive numa pandemia. Vejamos o que está em causa.

Como vai decorrer a cerimónia?

Entre os dias que separam a morte e o funeral, o caixão do duque de Edimburgo está numa capela privada em Windsor, coberto com o estandarte pessoal de Filipe e adornado com uma coroa de flores.

No sábado, a cerimónia ganha rumo com uma procissão cerimonial dentro do recinto do Castelo de Windsor, informou o Palácio de Buckingham. A urna, transportada inicialmente por membros da guarda da Rainha, vai ser depositada num Land Rover modificado para este efeito. Ao seu lado estarão militares e a família real vai caminhar atrás do veículo que transporta o corpo do príncipe Filipe, mas nem todos os elementos. Isabel II vai para a capela de São Jorge no seu carro oficial. O trajeto terá início às 14h45 (a mesma hora em Lisboa).

Durante a procissão, serão ouvidos disparos de armas e o sino de Windsor vai tocar. Quando o caixão passar para o claustro, vai ser tocado o Hino Nacional — God save the Queen —, pela banda da guarda de honra.

A cerimónia tem continuidade com um minuto de silêncio nacional, às 15h00, com o caixão parado no segundo patamar dos degraus oeste da capela. Posteriormente, o caixão vai ser recebido no topo pelo reitor de Windsor e pelo arcebispo de Canterbury. A boina naval e a espada do duque de Edimburgo vão ser colocados no caixão antes do serviço fúnebre e as suas insígnias estarão em destaque nas almofadas no altar. Decorrida a cerimónia, o príncipe Filipe vai ser sepultado na Capela Real em São Jorge.

Porquê um funeral real e não de Estado?

"Embora os arranjos cerimoniais sejam reduzidos, a ocasião celebrará e reconhecerá a vida do duque e dos seus mais de 70 anos de serviço à Rainha, ao Reino Unido e à comunidade", disse um porta-voz do palácio quando foram divulgados os primeiros pormenores sobre o funeral do príncipe Filipe.

Entre os aspectos abordados, foi sabido imediatamente que o funeral teria honras reais e não de Estado, cumprindo um pedido em vida do príncipe Filipe. Todavia, este processo está também relacionado com o protocolo real: geralmente, os funerais de Estado estão reservados aos monarcas — embora Isabel II tenha aberto uma exceção neste tipo de cerimónia aquando do falecimento do primeiro-ministro Winston Churchill, em 1965.

Já em 2013, o funeral da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher teve honras militares, a segunda mais alta honra, a seguir ao funeral de Estado, com militares dos três ramos das Forças Armadas britânicas a acompanhar o cortejo fúnebre entre o Palácio de Westminster e a Catedral de São Paulo. Na altura, as honras atribuídas a Margaret Thatcher, figura controversa, geraram uma onda de contestação.

Assim, o funeral de Filipe — um funeral cerimonial real — irá seguir as mesmas linhas gerais das cerimónias de 1997 e 2002, quando morreram, respetivamente, a princesa Diana de Gales e a Rainha-Mãe, Isabel, mulher do rei Jorge VI. Na prática — aos olhos de quem assiste —, as cerimónias chegam a ser bastante semelhantes, registando diferenças, por exemplo, ao nível do transporte do caixão: no funeral de Estado este é carregado por oficiais da marinha, em vez de ser colocado numa carruagem puxada por cavalos ou num carro concebido para o efeito, como no caso do duque de Edimburgo.

Quem vai estar presente?

A cerimónia vai respeitar as diretrizes do governo britânico de regras de combate à pandemia de Covid-19, que restringe a 30 o número de pessoas autorizadas a estar presentes em funerais — sem contar com o clero e com quem transporta a urna. Prevê-se, devido à pandemia, a utilização de máscaras para o serviço fúnebre, bem como um coro reduzido (apenas quatro pessoas).

Além disso, foi ainda referido que nem todos os elementos que participam na procissão vão entrar na capela de São Jorge. Assim, apenas participam na cerimónia fúnebre os membros da família real, que ficarão sentados segundo um sistema de bolhas, caso vivam juntos, e a cerca de 2 metros se não for esse o caso. A Rainha deverá ficar sentada sozinha.

O príncipe Harry – que se afastou dos deveres reais e que está atualmente a viver na Califórnia, comparecerá à cerimónia, mas sem a companhia da sua mulher, Meghan Markle, que se encontra grávida e não deve viajar, a conselho médico.

Para evitar ajuntamentos, o palácio de Buckingham pediu às pessoas para não se deslocarem até Windsor, sugerindo que aqueles que quiserem prestar homenagem o façam em casa, vendo a cerimónia pela televisão ou ouvindo através da rádio.

Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já anunciou que não vai estar presente, de forma a permitir que outro membro da família real ocupe o seu lugar.

Ainda sobre os membros da realeza, o The Guardian avançou que os elementos masculinos não vão usar traje militar, como é habitual nestas circunstâncias. Em causa está o facto de Harry ter perdido os seus títulos militares depois do afastamento da família real, apesar de ter servido por duas vezes no Afeganistão. Assim, para não causar constrangimentos, o protocolo determina que seja usado traje civil, com gravata preta, mas pode manter as medalhas. Outra situação semelhante é a do príncipe Andrew, que se afastou das suas funções públicas devido à sua amizade com Jeffrey Epstein.

Na tarde de quinta-feira foi conhecida a lista das 30 pessoas presentes, bem como os lugares que irão ocupar na cerimónia:

Quem caminha atrás da urna, lado a lado, por ordem:

  • Princesa Ana e Carlos, príncipe de Gales;
  • Eduardo, conde de Wessex; e André, duque de York;
  • Harry, duque de Sussex; Peter Phillips, filho da princesa Ana; e William, duque de Cambridge;
  • Vice-almirante Timothy Laurence e David Armstrong-Jones, conde de Snowdon.

Quem comparece apenas na capela:

  • Camilla, duquesa de Cornwall;
  • Sofia, condessa de Wessex;
  • Louise e James Windsor, filhos dos condes de Wessex;
  • Kate, duquesa de Cambridge;
  • Zara Tindall, filha da princesa Ana, e Mike Tindall;
  • Princesa Beatrice e Edoardo Mapelli Mozzi;
  • Princesa Eugenie e Jack Brooksbank;
  • Sarah Chatto, filha da princesa Margarida, e Daniel Chatto;
  • Ricardo, duque de Gloucester;
  • Eduardo, duque de Kent;
  • Princesa Alexandra;
  • Bernhard, Príncipe herdeiro de Baden, sobrinho-neto de Filipe;
  • Príncipe Donatus, chefe da casa alemã de Hesse;
  • Príncipe Filipe de Hohenlohe-Langenburg;
  • Penelope Knatchbull, Condessa Mountbatten de Burma.

Onde é possível assistir?

A cerimónia, de caráter privado, será transmitida no Reino Unido pela televisão e na rádio. É também esperado que alguns sites noticiosos publiquem vídeos da cerimónia, como por exemplo a CNN.

Em Portugal, a RTP 3 está a acompanhar as cerimónias fúnebres do príncipe Filipe.

Como se vive este período de luto no Reino Unido?

Em todo o Reino Unido, os edifícios governamentais e casas da monarquia mantém a bandeira nacional a meia-haste, até ao dia do funeral do duque de Edimburgo. Apenas a residência onde está a rainha — neste caso, Windsor — continua sempre com o estandarte real totalmente hasteado, uma vez que representa o soberano e a continuação da monarquia.

Em Windsor e Buckingham, muitas têm sido as pessoas que passam para deixar flores nas imediações, apesar do apelo da família real para que se evitem ajuntamentos. Como alternativa a este gesto foi até sugerido que se fizesse um donativo para uma instituição de caridade.

Mas o luto não termina no dia 17 de abril: a rainha determinou que este período dura duas semanas, tendo começado a 9 de abril. Neste tempo, os membros da família real vão usar, quando apropriado, uma faixa negra em eventos oficiais.

Por respeito, os principais partidos políticos da Inglaterra, Escócia e País de Gales suspenderam a campanha para as eleições do próximo mês.

Outros gestos têm ocorrido para marcar este período. No dia seguinte à morte de Filipe, militares britânicos dispararam saudações de 41 tiros para marcar o acontecimento, homenageando o ex-oficial da Marinha, e vários navios de guerra fizeram as suas próprias saudações em diversos pontos do planeta.

Também a Liga Inglesa fez uma homenagem ao príncipe Filipe, com um minuto de silêncio no início dos jogos que ocorreram no fim de semana após a morte. Os jogadores usaram ainda uma braçadeira preta.

Estendendo o acontecimento a todo o mundo, a família real disponibilizou um livro de condolências online, no seu site oficial, garantindo que "uma seleção de mensagens será passada aos membros da Família Real e poderá ser mantida nos Arquivos Reais para a posteridade".

(Artigo atualizado às 14h40 de 17 de abril)