![Unicórnio português desiste de investir no INEM:](/assets/img/blank.png)
O unicórnio português anunciou no final do mês de janeiro que estaria interessado em disponibilizar um mecanismo de inteligência artificial (IA) para integrar no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), mas voltou atrás depois de se deparar com o estado do serviço de emergência. “O sistema do INEM é obsoleto, frágil e quem está a geri-lo não tem noção disso", alerta, em entrevista ao Expresso.
A ferramenta de IA cedida pela Sword Health iria facilitar o trabalho de receção de emergências, ocupando-se da receção das chamadas. Permitiria, ainda, recuperações mais rápidas e com resultados promissores, enquanto aliviava a pressão sobre um sistema de saúde que enfrenta dificuldades para satisfazer as necessidades crescentes dos pacientes.
No entanto, a empresa anuncia que não vai poder avançar com o projeto porque, segundo os técnicos, o sistema de emergência médica está num estado “assustador”. O robô está criado e pronto para ser instalado gratuitamente neste momento, mas é preciso mudar "muita coisa", começando pela reformulação do sistema de informação, que acusa anos de falta de manutenção.
Vergílio Bento explica que “não é possível integrar a solução no sistema de informação do INEM para as chamadas serem roteadas para o operador humano ou para a IA. O estado do sistema de informação assemelha-se à ponte em Entre-os-Rios. Caiu porque não teve manutenção e antevemos um desastre, um colapso no INEM, dado o sistema de informação que tem”.
Por usa vez, a direção do INEM acredita que têm existido “avanços” no funcionamento do instituto, adiantando ao Expresso que os sistemas de informações “estão a ser alvo de intervenções e de investimentos com vista à modernização”.
Ao contrário do que foi relatado por Vergílio Ferreira, o INEM diz que "estão já em curso ações a médio e longo prazo, que contribuem para o objetivo de otimização do trabalho realizado nas centrais médicas”. E, de forma a "garantir uma otimização do funcionamento do Centro de Orientação de Doentes Urgentes", estão focados em "dotar o mapa de pessoal com todos os profissionais que precisa”.
Um INEM sem profissionais ou incompetente?
O testemunho de Vergílio Bento contraria esta ideia. “A equipa ficou perplexa com a incapacidade dos técnicos, mais ainda por se tratar de um sistema crítico, absolutamente essencial", conta. "O sistema está em risco e não pode acontecer. É um sistema crítico, as pessoas vivem ou morrem com base nesse sistema", continua.
O CEO sublinha que a preocupação com o INEM é urgente e recusa qualquer envolvência com o instituto: "Dizemos a verdade, livres, porque não temos nem esperamos contratos com o Governo. Não devemos nem queremos favores e alguém tem de dizer o que está a acontecer no INEM. O feedback da equipa é que estamos perante uma bomba-relógio.”
E, por isso, a Sword Health garante que é preciso mudar coisas "absolutamente básicas", como a triangulação das chamadas. “Faltam coisas básicas num sistema que afeta milhares de pessoas e em situação crítica”, lembra, começando pelos técnicos de emergência, que "estão em burnout porque sabem a importância do seu trabalho e têm de encontrar soluções para quem telefona.”
Existe solução para o INEM?
Para Vergílio Bento, a solução passa por “pedir uma auditoria para mapear todas as fragilidades”. A prioridade é associar uma localização às chamadas: “Se for um número fixo, tem sempre uma morada associada e se for um telemóvel é só fazer a triangulação das torres celulares, uma tecnologia básica e já com 15 anos”, diz o engenheiro.
No fundo, a empresa multi milionária não consegue avançar com a colaboração, "porque não pode mudar o sistema do INEM", constata o CEO. Passa a bola para a equipa do INEM e defende que "é preciso que sejam os colaboradores externos, que fizeram o sistema, a fazê-lo". E, para isso, "é precisa pressão, que não existe”, revela.
O INEM reitera que além do investimento na inovação, estão ainda a ser desenvolvidas medidas no sentido da "priorização de preenchimento da escala de trabalho, a presença física de médicos em todos os turnos ou a adaptação do número de profissionais por turno, de forma a melhor responder aos períodos com maior volume de chamadas”.
Estas medidas deverão ser apresentadas ainda no verão, de acordo com o Expresso.
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