Numa manifestação onde se liam cartazes a lembrar ao Ministério da Cultura a “expropriação” do Stop, mas muitos, também, a criticar a atuação do município, na sequência da retirada de mais de 100 lojistas na última terça-feira, o protesto seguiu ruidoso até cerca das 19:30, altura em que rumaram, a pé, até ao centro comercial, situado a poucos quilómetros.
Bruno Costa, da associação Alma Stop, explicou à Lusa que estão à procura do “consenso entre as duas associações e com os demais lojistas” sobre a proposta recebida da câmara.
“A proposta não poderá ser aceite apenas pelas duas associações, mas também pelas outras pessoas, que têm o mesmo direito de representatividade. No caso do Alma Stop, há pontos que precisam de ser revistos (…), queremos certificar-nos de que podemos fazer cargas e descargas para as salas e estamos a estudar uma contraproposta que vá ao encontro das pretensões da câmara”, disse sobre a questão do horário de utilização do espaço passar a ser de 12 horas.
Questionado se o que vão propor é um alargamento do horário, respondeu “talvez, mas não só”.
“Espero que ainda esta semana haja uma resposta”, disse apenas.
Entre os muitos que seguravam cartazes, João Alves, organizador de concertos, revelou à Lusa “haver vários interesses, de várias pessoas e, por isso, [encontrar uma solução] é complicado”.
“O Stop tem muitos administradores e a câmara tem gente lá dentro que não se entende”, acusou, antes de explicar a sua lógica: “eu organizo concertos e se não há bandas não há concertos, mas se as bandas não tiverem onde ensaiar não podem dar concertos”.
Francisca Oliveira, neta de um “proprietário de uma loja no Stop”, interrompeu uma conversa a três para contar que descobriu o centro comercial “quando era muito jovem” e que sempre gostou de “lá ir ouvir a música”.
“Acho inadmissível a forma como são tratados os músicos e os trabalhadores, porque também há lá lojistas e esta forma de forma de despejar as pessoas não é digna, ainda por cima pessoas que contribuem para a Cultura da nossa cidade”, acrescentou.
João Candal argumentou que “toda a gente que lá trabalhava no centro comercial tinha noção de que as condições de segurança não eram as ideais”.
“O protesto não é por causa disso, mas pela forma como a câmara geriu as coisas. Se tinha noção de que o espaço estava nessas condições há décadas e reconhece ser um espaço valioso, por que não arranjou uma solução antes?”, questionou o jovem.
No mesmo ímpeto, afirmou que o “Stop não é um caso isolado”, mas a “expressão de tudo o que tem acontecido nos últimos tempos [no Porto], seja com o jardim da Boavista, o que aconteceu com a marcha [LGBT+) e com o matadouro, que afinal já não vai ser um espaço artístico”.
“Recorrentemente a câmara está a secundarizar a Cultura para dar espaço ao crescimento de empresas de imobiliário”, acusou.
Em Lisboa, na Praça do Rossio, frente ao Teatro D. Maria II, mais de uma centena de pessoas associaram-se ao protesto que ocorria 300 quilómetros a norte, vendo-se cartazes onde se lia “Stop é património cultural” e a cara de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, com orelhas gigantes.
No protesto estavam cidadãos de Lisboa e do Porto, entre eles, alguns que afirmaram ser músicos.
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