“Digam o que quiserem, façam o que fizerem, mas esta posse constitucional não conseguiu ser impedida e é uma grande vitória para a democracia venezuelana”, disse Maduro no seu discurso de investidura na Assembleia Nacional, negando que tenha havido qualquer irregularidade com o processo eleitoral.

A tomada de posse de Maduro foi rodeada de controvérsia por a oposição o acusar de ter realizado um golpe de Estado, em denúncias que foram repetidas por parte da comunidade internacional.

A PUD insiste que o antigo diplomata Edmundo González Urrutia venceu as eleições presidenciais de 28 de julho e anunciou que a oposição venezuelana inicia uma nova etapa de luta pela democracia e a liberdade, o que apelidou de "resistência democrática".

"Com a usurpação do poder de Nicolás Maduro da Presidência da República, apoiada pela força bruta e ignorando a soberania popular expressada de forma contundente em 28 de julho, consumou-se um golpe de Estado contra os direitos do povo venezuelano", defende a PUD num comunicado, momentos depois de Maduro ter tomado posse para um terceiro mandato consecutivo.

Na mesma nota é referido que "a PUD, o povo venezuelano comprometido com a democracia, os diferentes setores que compõem a sociedade civil", assim como "a comunidade internacional que tem sido um aliado desta causa", vão iniciar hoje uma nova etapa da luta "pela liberdade da Venezuela em todo o território nacional e em todos os setores que compõem" a nação venezuelana.

"Devemos fazer sentir um comportamento permanente e ativo de resistência democrática, até que a Constituição nacional e especialmente a soberania popular sejam respeitadas", salienta.

A plataforma da oposição recorda que no dia 28 de julho de 2024 pelo menos 7.443.584 venezuelanos "disseram alto e em bom som" que Edmundo González Urrutia é quem deve tomar posse como presidente "para conduzir os destinos do país durante os próximos seis anos, em conformidade com a Constituição da Venezuela".

"No dia das eleições presidenciais e nos meses que se seguiram, Maduro e aqueles que o mantêm no poder tiveram a oportunidade de reconhecer que a maioria do povo venezuelano manifestou-se a favor de uma mudança, que tinham perdido o apoio do soberano, e que tinham de abrir a possibilidade de se reconstruírem a partir da oposição".

No entanto, frisa a PUD, a decisão foi no sentido contrário e "a liderança enriquecida e sectária decidiu avançar com a mentira de resultados que nunca foram publicados pelo Conselho Nacional Eleitoral" e "que contrastam com a verdade inscrita nos 25.000 registos eleitorais que estão nas suas mãos e que escondem como parte da maior fraude perpetrada na Venezuela contra a vontade do povo".

"Edmundo González Urrutia é quem deve ser empossado como presidente legítimo da República Bolivariana da Venezuela, hoje ou amanhã, porque foi isso que a maioria dos venezuelanos decidiu, sabendo que só a mudança é a garantia do país próspero a que todos quererão regressar. A vontade do povo que votou com esperança será respeitada; unidos, conseguiremos!", conclui a plataforma.

O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tomou hoje posse para um terceiro mandato, apesar de a oposição reivindicar vitória nas eleições presidenciais de julho e após protestos no país sul-americano e no estrangeiro contra a repressão exercida pelo seu governo.

Maduro prestou juramento de posse perante a Assembleia Nacional (parlamento) controlada pelo partido no poder, um dia depois da principal líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, ter anunciado ter sido brevemente detida pelas forças de segurança do Estado, acusação negada pelo governo.

EUA e Reino Unido denunciam posse de Maduro e impõem sanções

Os Estados Unidos da América (EUA) condenaram hoje a posse "fictícia" de Nicolás Maduro como Presidente da Venezuela, enquanto o Reino Unido o classificou como "ilegítimo", com ambos os países a imporem novas sanções contra o seu regime.

“Maduro demonstrou mais uma vez o seu total desrespeito pelas normas democráticas e está a proceder a uma tomada de posse ilegítima”, disse aos jornalistas o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, John Kirby.

O Presidente cessante da Venezuela, Nicolás Maduro, com o apoio do exército e de uma administração sob ordens do poder chavista, foi empossado hoje para um terceiro mandato de seis anos, numa cerimónia descrita como um “golpe de Estado” pela oposição venezuelana, que reivindica a vitória do seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia, nas eleições presidenciais de 28 de julho.

A administração cessante de Joe Biden aumentou hoje de 15 para 25 milhões de dólares a recompensa por informações que levem à captura de Nicolás Maduro, por crimes relacionados com tráfico de droga.

O anúncio faz parte de uma nova bateria de sanções que estão a ser impostas pelos EUA.

Além da recompensa por Maduro, os EUA oferecem 25 milhões de dólares (cerca de 24,4 milhões de euros, ao câmbio atual) por informações que levem à captura do ministro do Interior, Diosdado Cabello, e outros 15 milhões (cerca de 14,65 milhões de euros) pela prisão do ministro da Defesa, Vladimir Padrino.

O Departamento do Tesouro norte-americano (equivalente ao Ministério das Finanças) também impôs sanções económicas a oito altos funcionários do Governo venezuelano que acusa de “repressão”, incluindo o presidente da empresa petrolífera estatal PDVSA, Héctor Obregón Pérez, e o ministro dos Transportes, Ramón Celestino Velásquez.

A administração Biden, que será substituída a 20 de janeiro pela nova administração de Donald Trump, disse que vai tomar “medidas adicionais” para limitar os rendimentos de Maduro e dos seus representantes, analisando, caso a caso, o embargo dos ativos venezuelanos no estrangeiro.

Simultaneamente, os EUA vão prorrogar por mais 18 meses o estatuto de proteção temporária (TPS) concedido a milhares de venezuelanos, permitindo-lhes residir e trabalhar no país.

O anúncio de hoje não inclui o cancelamento das licenças concedidas a empresas estrangeiras, como a Chevron, para a extração de petróleo na Venezuela.

Um alto funcionário do governo norte-americano explicou, numa conferência de imprensa telefónica, que as sanções impostas são uma resposta aos “recentes acontecimentos na Venezuela, incluindo a falsa tomada de posse presidencial de Maduro”, que foi empossado depois de a autoridade eleitoral o ter proclamado vencedor das eleições, sem fornecer os resultados das mesmas, como reclamado por grande parte da comunidade internacional, incluindo Portugal.

A mesma fonte acrescentou que González Urrutia “deve ser empossado hoje como presidente da Venezuela” porque há “provas indiscutíveis” de que ganhou as eleições presidenciais de 28 de julho, de acordo com as atas apresentadas pela oposição.

Já o Reino Unido anunciou hoje sanções a “mais 15 indivíduos associados ao regime contestado de Nicolás Maduro, denunciando simultaneamente a sua reivindicação ilegítima à presidência”, escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico num comunicado.

As sanções visam, nomeadamente, vários juízes do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela.

Na nota informativa, o chefe da diplomacia britânica, David Lammy, descreve a nova presidência de Maduro — que inicia hoje um terceiro mandato – como “fraudulenta”.

David Lammy impôs a nova vaga de sanções para expressar a “séria preocupação” do executivo londrino relativamente aos resultados das eleições presidenciais na Venezuela de 28 de julho, nas quais considera terem sido cometidas “irregularidades significativas” e falta de transparência.

Entre os sancionados estão a presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Caryslia Beatriz Rodríguez, que ajudou a legitimar as eleições de 28 de julho, segundo a nota, ou o diretor do Departamento de Investigações Criminais da Direção-Geral de Contra-espionagem Militar (DGCIM), Asdrúbal José Brito Hernández.

Lammy disse que o resultado das eleições de julho “não foi livre nem justo” e “não representa a vontade dos venezuelanos”.

“As sanções de hoje enviam uma mensagem clara. O Reino Unido não ficará parado enquanto Maduro continua a oprimir, a minar a democracia e a cometer flagrantes violações dos direitos humanos”, salientou.

O político trabalhista acrescenta ainda que “todos os presos políticos devem ser libertados e a repressão continuada deve acabar” e sublinha que Londres continuará a “apoiar os venezuelanos na sua luta por um futuro democrático”.