Em dia de inauguração das novas instalações e celebração do 10.º aniversário, os responsáveis do Centro de Atendimento e Acompanhamento a Mulheres Vítimas de Violência (P'ra ti) da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), divulgaram hoje os dados e números referentes aos 10 anos de funcionamento do centro.
No dia em que também se celebra o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, Ilda Afonso, diretora técnica do P'ra ti, adiantou que das 2.700 mulheres e crianças atendidas entre 2009 a 2019, maioritariamente dos concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia e Gondomar, 257 casos eram de "risco elevado".
Dos 2.700 casos atendidos, 1.080 mulheres receberam apoio social, 1.024 apoio psicológico e 759 apoio jurídico, sendo que foram várias as mulheres que receberam "mais do que um tipo de assistência".
Durante a apresentação dos dados, Ilda Afonso salientou também que, durante estes 10 anos, foram atendidas presencialmente e por telefone cerca de 36.129 vítimas, com idades entre os 16 e 86 anos, e que "um terço destas utentes já tinham feito, pelo menos, um pedido de ajuda para a situação de violência".
Quanto à ligação da vítima com o agressor, 75% afirmam ser vítimas do marido, namorado ou companheiro e 15% de ex-companheiros ou ex-maridos.
"Cerca de 60% das nossas utentes descrevem, à chegada, uma escalada de violência, por isso é que resolvem pedir ajuda. Começam a perceber que as coisas não vão mudar para melhor", disse a responsável, adiantando que 15% das vítimas subvalorizam as agressões e 10% já tentaram o suicídio.
No que concerne aos filhos e filhas das vítimas que passaram pelo P'ra Ti, a idade média é de 12 anos, sendo que a maioria é "ainda dependente da progenitora", adiantando que em mais de 80% dos casos, o pai é o agressor e, em 15% dos casos, é o padrasto.
Relativamente aos apartamentos de autonomia, intitulados LAAR (Liberdade, Autonomia, Afeto e Recuperação), que o centro gere em Vila Nova de Gaia, no âmbito de um protocolo assinado em 2015 com a autarquia, por lá já passaram, desde novembro de 2015, 19 mulheres e 12 crianças.
"Destas, autonomizaram-se 11 mulheres e oito menores, sendo que a maioria necessitou de um ano para a sua autonomização, duas necessitaram de um ano e meio e as restantes saíram nos primeiros seis meses", afirmou Ilda Afonso, acrescentando que, neste momento, residem nos apartamentos cinco mulheres e três menores.
Segundo Ilda Afonso, a taxa de sucesso dos apartamentos LAAR é de 79%, sendo que o P'ra Ti aguarda agora a implementação de uma solução idêntica na cidade do Porto.
Também presente na sessão de inauguração, Miguel Cardoso, diretor do Centro Distrital de Segurança Social do Porto, salientou a necessidade de se “combater este flagelo”.
“Este problema é paradigmático e demonstrativo (...) porque a violência de género e contra as mulheres é um indicador de que a nossa sociedade não terá avançado tanto quanto deveria", afirmou Miguel Cardoso, adiantando que é preciso "olhar para o problema de forma séria".
"Este é um problema que está enraizado, e está enraizado de tal ordem que começa a ser assustador também perceber a dimensão e as minorias de focos que estão implementados", concluiu.
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