O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou ontem a Samarcanda, no Uzbequistão, para participar na cimeira de chefes de estado da Cooperação de Xangai. O encontro com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, no início da tarde de quinta-feira, será o mais aguardado.

Recorde-se que este será o primeiro encontro cara-a-cara entre Xi Jinping e Vladimir Putin depois da invasão russa à Ucrânia.

Na sua agenda para esta conferência estão dois temas quentes: a Ucrânia, onde Putin leva mais de seis meses de guerra, ainda que continue a referir-se internamente ao conflito como uma "operação especial militar"; e Taiwan, depois da visita de duas comitivas norte-americanas, a primeira com a presidente da Câmara dos Representantes e a segunda com a senadora norte-americana Marsha Blackburn, o que fez escalar as tensões entre a ilha e Pequim, que respondeu levando a cabo vários exercícios militares e sanções comerciais.

Este encontro entre os líderes dos dois países acontece numa altura em que Putin está cada vez mais isolado pelos Estados Unidos e pelos parceiros Europeus.

Ainda ontem, no discurso do Estado da União, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, reiterou o apoio incontestado à Ucrânia, a manutenção das sanções à Rússia, sendo este o cenário que traçava: “Putin vai falhar (...). O setor financeiro da Rússia está em modo de suporte de vida pelas nossas sanções. A indústria russa está parada. Quero deixar bem claro que as sanções são para ficar e quero dizer que ficarão até que se resolva esta crise”.

Os EUA, por sua vez, continuam a enviar ajuda militar a Kiev, o que o presidente Volodymyr Zelensky reconheceu ser fundamental no esforço para recuperar território às forças russas. A última semana tem sido marcada pelos ganhos significativos na contraofensiva ucraniana: 6.000 quilómetros quadrados de território, segundo as forças de Kiev, sobretudo a nordeste, na região de Kharkiv, onde fica a segunda maior cidade do país, e em Kherson, um ponto estratégico de acesso ao Mar Negro.

A Rússia respondeu ao recuo com bombardeamentos em Kharkiv, mas começam a ser mais audíveis as críticas dos nacionalistas russos, que exigem às chefias militares e mesmo a Putin uma mão firme — e definitiva — para que a Rússia saia vitoriosa deste conflito. Começam também a levantar-se apelos à mobilização nacional de tropas na Rússia, o que iria contrariar a narrativa que o Kremlin construiu internamente, de que não se está perante uma guerra aberta. Por outro lado, a ideia do exército invencível russo, começa também a cair por terra, colocando-se em causa a moral das tropas russas. Putin tem várias opções pela frente, mas todas terão consequências políticas.

Para Putin, o encontro com Xi pode contrariar a imagem de uma Rússia isolada e projetar uma imagem de força.

O líder chinês, por seu turno, está sob pressão interna devido à sua política covid-zero, que continua a manter milhões em confinamento. O impacto no desenvolvimento económico é grande e está a atrair críticas internacionais quando direcionada a minorias étnicas. Acresce a isto a tensão latente com Taiwan, cuja soberania a China reclama, considerando-a uma província rebelde desde que os nacionalistas do Kuomintang ali se refugiaram em 1949, após perderem a guerra civil contra os comunistas.

Desde a visita de Pelosi, em agosto, os EUA iniciaram negociações comerciais com Taiwan e deram passos no sentido de oferecer apoio militar à ilha — o que aumenta o fosso diplomático também entre Washington e Pequim.

Tudo isto quando Xi Jinping está a semanas de um encontro com a liderança do Partido Comunista e precisa de projetar poder. Esta é também uma oportunidade para reiterar o seu papel enquanto líder global, refere o The New York Times, assinalando que se trata da primeira viagem internacional desde que esteve em Myanmar, em 2020.

A última vez que Xi Jinping e Putin estiveram juntos foi em fevereiro, antes do início da guerra na Ucrânia, por altura do arranque dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim. À data, resultou deste encontro um firmar de uma amizade "sem limites" e críticas à influência dos EUA nas suas regiões, recorda o The New York Times.

A China recusou-se a criticar Putin pela invasão da Ucrânia e é um importante cliente do petróleo russo, tendo adquirido níveis recorde desta matéria-prima em maio, junho e julho, ajudando a Rússia a colmatar o efeito das sanções ocidentais.

Na agenda de Putin, à margem deste evento, consta reuniões com o presidente do Irão, Quirguistão, Paquistão, Turquia e Índia. Por seu lado, Xi Jinping efetuará duas visitas de Estado, ao país anfitrião da cimeira e ao Cazaquistão, naquela que será a primeira viagem do presidente da China ao estrangeiro desde a pandemia de covid-19.

Os dois líderes estão em Samarcanda para participar na 22.ª edição da cimeira de chefes de Estado da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, sigla em Ingês), um grupo de segurança geopolítica regional.

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