Ele disse “yes, we can” (sim, nós podemos) e chegou à Casa Branca em 2008. O seu discurso fazia soar a esperança que existia por uns Estados Unidos mais justos, sem descriminação racial e com oportunidades iguais. Tal e qual como no sonho de Martin Luther King.
Foi Nobel da Paz no ano seguinte, pôs fim ao embargo a Cuba, disse que o amor tinha vencido quando o casamento entre pessoas do mesmo sexo passou a ser legal a nível nacional. Tirou tropas do Afeganistão e Iraque e não houve “boots on the ground” (botas no terreno) para combater o autoproclamado Estado Islâmico. Prometeu fechar Guantánamo. Não conseguiu. Mas mudou, à sua maneira, os Estados Unidos.
Teve de lidar com o Senado e o Congresso com maiorias republicanas, mas foi conseguindo pequenas vitórias ao longo do mandato, como o ObamaCare. O programa de saúde pública que meteu as seguradoras a tremer com a possibilidade do fim do monopólio privado de saúde. O ObamaCare foi implementado, com falhas, mas permitiu o acesso de 20 milhões de americanos a planos de saúde mais acessíveis, num país sem serviço nacional de saúde como tradicionalmente o conhecemos.
Encerrou, de certa forma, o capítulo 11 de Setembro com a morte do cérebro dos ataques, Bin Laden. Teve de lidar, com as novas formas de terrorismo internacional, nomeadamente com o ataque a uma discoteca frequentada pela comunidade homossexual em Orlando por um alegado membro do Estado Islâmico.
Nos seus dois mandatos atravessou um período de crise internacional, que começou com a queda do gigante financeiro Lehman Brothers, no ano em que assumiu o cargo. Resistiu. Foi reeleito. Viu o desemprego disparar e reduziu-o para menos de 5%, neste momento. Criou 14 milhões de empregos. Criou teoricamente, porque nestas coisas são muitos os fatores que condicionam a evolução da economia e não apenas um presidente, mas foi essencial na recuperação da confiança económica.
Mas a postura amigável de um presidente que ia a talk shows e se ria em público como um qualquer cidadão americano fez o mundo acreditar que ele era diferente. E que vai deixar legado: o legado Obama.
Começou por ser considerado um outsider dentro do seu partido. Quando se lançou nas primárias de 2008 era senador do Illinois, mas estava na sombra de uma democrata poderosa e experiente, Hillary Clinton. Soube impor o seu discurso. Foi lutando. Estado a estado. No final das primárias teve menos votos do que Clinton, mas conseguiu conquistar mais delegados. Defrontou o republicano John McCain nesse ano, e Mitt Romney em 2012. Ganhou ambas as votações com larga margem.
Trouxe um cão de água português para a Casa Branca. Abriu portas da sua nova casa a programas de televisão e rádio. Estreou-se no Twitter (@potus) e tem milhões de seguidores por todo o mundo.
Combateu as alterações climáticas, ratificou o acordo de Paris em setembro deste ano e negociou um acordo nuclear com o Irão.
Foi acusado de não ter nascido nos Estados Unidos pelas maiores teorias da conspiração, mas divulgou a cédula de nascimento. Lá estava a prova: Obama nasceu no Havai, para desespero daqueles que acreditavam nos rumores que por aí circulavam.
O último ano de mandato ficou marcado por uma série de ataques raciais entre a polícia e cidadãos negros. Com vários norte-americanos a serem abatidos por forças policiais, sem que fosse efetivamente comprovado o seu perigo. É também neste contexto que surge com grande força Donald Trump e o seu discurso populista.
Mete-se agora ao lado da candidata que internamente defrontou, Hillary Clinton. Espera que o seu trabalho tenha continuidade pela mão da primeira mulher nomeada por um dos dois grandes partidos americanos.
Sobre Trump, usou ironia: “Orange is not the new black” (o laranja não é o novo preto, numa referência à série de comédia dramática “Orange is the new black”).
Durante oito anos teve a mais difícil profissão do mundo. Agora está em modo de despedidas. A democracia exige novas ideias e novas pessoas, e ao fim de dois mandatos o desgaste já se nota na expressão de Obama.
Vai tirar férias. Comprar um smartphone, algo que lhe é agora muito condicionado por razões de segurança. Quem sabe ir comer a um restaurante de fast food como tantas vezes fez ao longo do mandato, mas, desta vez, longe das câmaras. Uma vida nova sem seguranças e sem a pressão de, no fundo, ter o país mais influente do mundo às costas. E que largas costas, Obama!
E como disse no último jantar dos correspondentes na Casa Branca, um clássico da sua presidência, "tenho apenas mais duas palavras a dizer: Obama Out (Obama "fora")".
Obama ended his final White House Correspondent’s Dinner with two words, “Obama Out" and a "Mic Drop." #awesome #dab pic.twitter.com/RNlXF0dWAW
— Trenton Tuggle (@trentonttuggle) 1 de maio de 2016
Esta é uma reportagem que está inserida num especial rumo às Eleições Americanas que se realizam a 8 de novembro deste ano.
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