Nos últimos oito anos, sempre com campeão europeu, por quatro vezes o campeão da Libertadores não chegou à final do mundial. Foi eliminado por africanos, asiáticos e centro-americanos. Se o futebol europeu disparou no domínio mundial, os latino americanos estacionaram e foram alcançados pelos rivais de outros mercados. Foi-se o tempo que a final óbvia era a reedição do formato Intercontinental que existia antes desse novo mundial da FIFA.
Portanto, a derrota do Palmeiras ontem não é nenhum vexame ou exclusividade do clube alviverde. Ainda mais para um forte Tigres, com o Ferguson das Américas (Tuca Ferreti comanda a equipa há 10 anos), Gignac e muito investimento nos últimos cinco anos. Era um confronto nivelado.
Entretanto, assim como na final da Libertadores, a equipa de Abel Ferreira apresentou um grande defeito. Faltou coragem. Como estratégia, o treinador português adotou, nas duas partidas, um estilo muito cauteloso e pareceu ter mais medo de perder do que vontade de ganhar. No jogo do Rio, era até natural, devido ao forte calor, à rivalidade local e ao equilíbrio da final. Ontem, entretanto, isso foi fatal.
No jogo contra os mexicanos, o Palmeiras até deu sinal de que poderia ditar o ritmo da partida durante o primeiro tempo, apesar de a chance mais clara de golo ter sido do adversário. Mas a segunda parte deixou evidente a falta de coragem. O Palmeiras preferiu dar a bola ao Tigres, apostar em lançamentos longos para não adiantar muito a sua linha defensiva e só atacou e criou perigo após o golo sofrido.
Repito. Não é demérito perder para o Tigres e não diminui o tamanho da conquista do Palmeiras no Continente. Mas poderia ter sido diferente a abordagem da equipa. Fica um gosto amargo na boca do adepto. Abel, mesmo tendo pouco tempo para desenvolver um trabalho mais completo, precisa sair desta derrota com o aprendizado de que, normalmente, para vencer troféus, é preciso querer ganhar mais do que não querer perder.
Por outro lado, esta derrota deveria dizer muito aos gestores do futebol brasileiro e do continente sul-americano. Para alcançar, novamente, o status de outrora, precisam de preparar as estruturas para desenvolver o produto local. É necessário voltar a manter os talentos por mais tempo e melhorar a qualidade do jogo praticado. Isso depende de tempo para treinar, de qualidade na formação de profissionais do futebol e de estrutura.
Para evitar o distanciamento, ainda maior, do futebol europeu, não se pode achar normal uma final de Libertadores com tão pouco futebol, não se pode aceitar a derrota tão naturalmente para um rival mexicano e não dá para aceitar a venda de um dos mais promissores número 9 do campeonato brasileiro para a MLS (liga norte-americana). A ambição destes garotos deve ser fazer história nos seus clubes nos seus países e estes mesmos clubes têm que ter condições de os manter por lá para colher os resultados desportivos — não só os financeiros.
Se a partir do ano que vem o Mundial terá oito clubes europeus e será disputado noutro formato, acabam praticamente com as chances de uma vitória do clube mais fraco num confronto único. O Mundial pode não valer muito para os europeus, e isso não mudará enquanto não houver um real desafio pela conquista, mas para os latinos vale muito e é preciso coragem para voltar a disputá-lo de igual para igual.
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