Pedro Cruz Morais e João Hugo Silva conheceram-se através de um programa da Demium, uma incubadora que oferece espaço para trabalhar e dá ajuda e mentoria a quem queira iniciar uma startup. Através do programa Allstartups Weekend [traduzindo à letra, é o fim de semana de todas as startups], a incubadora reúne vários indivíduos num período de três dias (sexta, sábado e domingo) e ajuda-os a encontrar uma equipa, desenvolver uma ideia e apresentá-la e ainda lhes dá a possibilidade de assistir a vários workshops sobre empreendedorismo. A equipa vencedora ganha seis meses de incubação e mentoria, espaço de trabalho e até 500 mil euros de investimento. Em troca, ficam com 15% da empresa.
Foi nesse fim de semana que, juntamente com uma terceira pessoa que, entretanto, desistiu, estes dois fundadores criaram uma ideia na qual trabalharam durante duas semanas. O suficiente para perceberem que não ia resultar e que precisavam de encontrar algo mais atrativo para o mercado. Um dos seus motes é este, “se é para falhar que seja rápido.”. Qualquer um dos dois já tinha tido os seus próprios negócios ou trabalhado em startups. Falhar era já um conceito com que estavam familiarizados.
Em tempos de pandemia e depois de algumas conversas com amigos, perceberam que a área da saúde oferece muitas oportunidades. Através desses amigos perceberam que, atualmente, o sistema de marcações de turnos para enfermeiros está obsoleto. A organização é feita, muitas vezes, numa folha de Excel, de forma muito manual e sem acesso à disponibilidade de cada enfermeiro (regra geral, os enfermeiros trabalham em mais do que uma instituição), o que originava erros, falta de pessoal em momentos críticos e muitas horas de trabalho, até se conseguirem organizar as manhãs, tardes e noites de instituições de saúde, como hospitais, lares e clínicas. Foi assim que nasceu a MyCareforce, com a missão de permitir aos enfermeiros trabalhar de modo flexível e às instituições acesso a força de trabalho de forma fácil e ágil. Para tal, criaram uma plataforma que permite, em tempo real, aceder à disponibilidade da força de trabalho e rapidamente realizar a organização dos turnos.
Dois meses depois, surgiu a oportunidade de participar numa ronda de investimento em Espanha onde, com o primeiro pitch que fizeram fora de incubadora, conseguiram um investimento de 100 mil euros.
De todo este processo, João e Pedro retiram algumas lições importantes na criação de uma startup. Perceberam, por exemplo, o quão importante é escolher o parceiro certo para estas empreitadas. É preciso capacidade emocional para lidar com o dia-a-dia duma startup que pode ser uma autêntica montanha russa de emoções. “Numa manhã, podemos ter uma reunião que correu bem, à tarde podemos ter um problema técnico para resolver e à noite a rejeição de algum potencial parceiro. Cada dia é uma surpresa.”, conta o Pedro, CEO da startup.
Perceberam também que, apesar de ainda se associar a ideia de startup a tecnologia, não é preciso depender desta. Nos dias que correm, em que há dificuldade em encontrar recursos humanos com as competências necessárias, pode ser uma mais valia poder trabalhar em open source ou com plataformas de No Code. Neste caso, o Pedro, dedicou bastante do seu tempo a aprender, sozinho, como criar a plataforma com No Code.
Acreditam que o sucesso também depende muito da capacidade de networking e que não há que ter pudores em fazer contactos. “Até agora, as pessoas têm-se mostrado muito disponíveis para ouvi-los e conhecer o projeto. As pessoas arranjam sempre tempo quando o tema é startups.”, recorda o João, COO do projeto.
Para quem queira apresentar o seu pitch, deixam dois conselhos, sejam transparentes e antecipem o maior número possível de perguntas que possam surgir. Não vale a pena esconder ou florear a realidade quando se fala com investidores experientes e é fundamental estarem bem preparados para todas as questões. Uma preparação que, neste caso, se revelou vencedora.
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