Trata-se de um valor que, de acordo com uma estimativa daquela associação, avançada hoje pelo Jornal de Notícias, deverá cair, em 2020, para apenas 400 milhões de euros, uma quebra de 80% no volume de negócios que a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE) considera que “estará perto da realidade”.
“Não existe esse levantamento, em tão pouco tempo, mas, de facto, há uma ideia generalizada no setor de que a não-realização dos grandes eventos está a mexer com as pessoas que são contratadas para trabalhar e com as empresas, mas também com as economias locais”, disse à agência Lusa o diretor da APEFE, Luís Pardelha.
Apesar do estudo sobre o impacto económico dos festivais de música, publicado no relatório da Aporfest, indicar que, dos dois mil milhões de euros de impacto, apenas 3,04 milhões são gastos em alojamento próximo do local dos festivais e 5,5 milhões em consumo, Luís Pardelha insiste no prejuízo económico que o cancelamento da maioria dos festivais poderá ter nas economias locais e um pouco por todo o país, em contraste com as grandes cidades.
“O impacto de um NOS Alive em Lisboa é grande, mas não tem o impacto de um Paredes de Coura naquela vila e nas suas pessoas que, nas semanas que antecedem o festival, realizam uma boa parte da sua faturação anual”, sublinhou o empresário.
Dos 287 festivais que acontecerem um pouco por todo o território português em 2019, apenas 134 se mantiveram este ano (dos quais 29 acontecem pela primeira vez), 53 foram cancelados e 14 adiados, segundo números avançados pela Aporfest à agência EFE.
A grande parte do impacto económico, no entanto, acontece durante o verão, uma vez que é o período que concentra o maior número de festivais e também os eventos de maior envergadura, com 75% dos eventos a terem lugar entre 15 de junho e 15 de setembro, de acordo com o relatório da Aporfest.
NOS Alive, MEO Sudoeste, RFM Somni, MEO Marés Vivas e Vodafone Paredes de Coura, os cinco maiores festivais em número de espetadores, segundo o relatório da Aporfest, realizam-se todos no verão, numa listagem onde o primeiro evento realizado fora desta época estival é o NOS Primavera Sound, em 9.º lugar, que ocorre logo no início de junho.
Em declarações à EFE, o diretor da Aporfest, Ricardo Bramão, previu que “haverá festivais que não voltarão a realizar-se”, e estimou que serão necessários “três a quatro anos, pelo menos, para que se volte a recuperar a normalidade nos festivais”.
Motivo pelo qual a APEFE sugeriu ao Ministério da Cultura que criasse “algum tipo de campanha para transmitir confiança às pessoas que consomem cultura”.
“Até agora não é conhecido nenhum caso de início de cadeia de contágios que tenha acontecido nalgum evento cultural e isso significa que todos os promotores têm tido cuidados máximos para que a segurança das pessoas seja mantida. Mais importante do que os apoios às empresas, queremos é permissão para voltar a trabalhar e que o governo nos ajude a reconquistar a confiança das pessoas, porque há essa componente psicológica muito importante”, justificou Luís Pardelha.
O diretor da APEFE, de resto, lembra que o setor foi “mais penalizado até que o turismo”, e que a retoma está a ser “muito suave, lenta e pequena”, uma vez que até mesmo os eventos municipais, normalmente de menor dimensão, não se vão realizar na sua esmagadora maioria, o que “devia preocupar o próprio governo e o Ministério da Economia”.
“O impacto negativo na economia das empresas, do comércio e da hotelaria é absurdo e só teremos uma noção mais realista daqui a uns meses, uma vez que agora ainda estamos a atravessar uma espécie de ressaca. Mas, se é que alguém ainda não entendeu, a não-realização de todos estes eventos acaba por ter um impacto negativo em toda a economia das cidades e do país inteiro, porque há muita gente que vem para um festival e acaba por viajar não apenas na cidade onde se realiza o evento”, afirmou Luís Pardelha.
Em 21 de maio, o parlamento aprovou por maioria uma proposta de lei do Governo que estabelece a proibição da realização de “festivais e espetáculos de natureza análoga” até 30 de setembro, que foi promulgada pelo Presidente da República e publicada em Diário da República em 29 do mesmo mês.
A lei “estabelece medidas excecionais e temporárias de resposta à pandemia de covid-19 no âmbito cultural e artístico, festivais e espetáculos de natureza análoga”.
Comentários