"As novas possibilidades de tratamento e transmissão de informação vieram dar a oportunidade às entidades que, não sendo do setor bancário, foram ao longo do tempo acumulando grandes bases de dados e experiência no respetivo tratamento automático de grandes massas de informação. Essa experiência garante uma vantagem competitiva face aos incumbentes: as suas extensas bases de dados, capacidades analíticas e de processamento de dados são fatores competitivos que lhes permitem explorar atividades financeiras ajustadas ao perfil de cada cliente", disse Carlos Costa na conferência Banking Summit, em Lisboa.
Em causa estarão entidades como Google, Facebook ou Apple, e que já desenvolvem alguns serviços financeiros.
Segundo o responsável pelo regulador e supervisor bancário, enquanto os bancos têm a vantagem de ter confiança dos clientes, já estas empresas têm como vantagem as bases de dados à escala global dos seus utilizadores, bem acima das dos bancos, que são limitadas aos seus clientes e aos locais em que operam.
Para o governador, perante a digitalização da banca e a ameaça de novos operadores, há dois cenários que se avistam para os grandes bancos já existentes.
Por um lado, podem não conseguir adaptar-se e ficam limitados a ser "plataformas de captação de depósitos e de colocação de produtos" de marca branca, sem criarem produtos de valor acrescentado.
Já num segundo cenário, os bancos fazem investimentos e tornam as novas tecnologias parte do seu negócio, por exemplo através de parcerias com ?fintech', tirando "partido da confiança e notoriedade histórica" da sua marca junto dos seus clientes e criando produtos de crédito, de poupança ou de investimento ajustados.
"Estes cenários não são mutuamente exclusivos, e o resultado final poderá bem ser uma combinação de ambos", disse o Governador, admitindo "um efeito de concentração dentro do sector para criar sinergias" entre operadores.
Carlos Costa falou também da regulação impostas aos novos operadores no setor bancário, depois desta terça-feira à tarde o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) ter pedido que todos sejam sujeitos às mesmas regras.
Para o responsável, é importante que a regulação não cause entraves à adoção de novas tecnologias, que dê um "tratamento justo e equilibrado" entre os bancos existentes e novos operadores e que haja "uma atuação coordenada entre reguladores e supervisores a nível nacional e europeu", para que não haja locais com menos regras onde os operadores que aí estão tenham vantagens na concorrência com outros.
O governador falou ainda da diretiva de serviços de pagamentos (PSD2, em ingês), que ainda não entrou em vigor em Portugal, pelas implicações no setor bancário ao permitir que novos operadores (como ?fintech') façam serviços de pagamentos e acedam mesmo à informação que os bancos têm dos clientes, desde que com autorização destes.
Carlos Cosra recordou estudos que consideram que esta diretiva significa "o maior desafio à banca de retalho desde a invenção das ATM [Multibanco], há cerca de 50 anos", e que pode "colocar em risco entre 25% e 40% do produto líquido bancário".
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