Ainda que estejamos a tentar ignorar, não precisamos ser especialistas em sustentabilidade, questões ambientais ou lixo zero para ter uma pequena noção do que se está passar...
Foi um Agosto sem calor e sem ondas, depois de salpicos de dias quentes e noites abafadas aqui e ali, desde a Páscoa.
No pasa nada...
Depois, há vários anos que temos calor quase até ao Natal e é um ai Jesus que ninguém compra as decorações e os centros comerciais só têm movimento a sério quando o calendário aperta.
No pasa nada...
Há ventos e tempestades repentinas e este clima moderado da Península Ibérica transforma-se num gelo inesperado ou num calor a imitar deserto.
Novamente, no pasa nada...
Passa. Oh se passa e, para quem me está a ler em inglês, the sh*t is hitting the fan porque, ainda não me cansei de repetir, isto vai dar m*rda. Da grossa. Evitando a tradução esquisita: we’re doomed.
Os erros - grandes e pequenos - estão por todo o lado.
Precisaríamos voltar aos bancos de escola para reaprender a geografia e o clima mas, principalmente, para reaprender a viver em sociedade. Os nossos paizinhos fazem sempre o melhor que podem e sabem contudo, como mãe, revejo-me muito neste dilema de educar, ensinar, evitar repetir padrões, dando sempre o meu melhor, tentando corresponder àquilo que, para ela, será melhor, debatendo-me muitas vezes com o “se posso dar, porque razão não o irei fazer?”. E muitas vezes não o faço, tentando evitar este consumo desenfreado a que nos habituámos. Porque não podemos ter tudo o que queremos para dar o devido valor ao que podemos ter. Eu não tive tudo o que queria ou quando queria e, creio, poucos da minha geração terão tido essa sorte. Ou azar. Porque muitos dos problemas que hoje conhecemos resultam da abundância que conhecemos a partir dos anos 90, mudando completamente a nossa forma de viver. Embarcámos na euforia do crédito ao consumo, vivemos a bebedeira de quem pode comprar coisas e deixámo-nos deslumbrar. Hoje, muitos de nós tentam explicar aos pais e avós que não... não vamos deitar fora algo que pode ser arranjado, mesmo que esse período, ainda tão recente e tão impactante, tenha mudado o chip para a cultura pastilha elástica do usa-deita-fora porque é mais fácil, rápido e barato substituir do que reparar. Foram também os anos da exaltação dos doutores e engenheiros e a decadência dos trabalhos técnicos que ainda hoje são pagos a peso de ouro. Usamos gravata, mas mal sabemos pregar um prego e quando um cabo entope só nos salva o Dr. Cano, o melhor branding que vi nos últimos tempos, numa carrinha de canalizador.
Estive de férias, sai das redes, deitei-me na rede, mas não desliguei por completo do mundo, dos seus sentidos e significados. Sei bem o que aconteceu na Amazónia e que tipo de políticas têm sido adoptadas nas últimas décadas, destruindo um ecossistema com impacto global. Durante muito tempo fiz parte do grupo que prefere pensar que no pasa nada para continuar a comprar mais um objecto. Também eu me deslumbrei com o verbo ter, ao mesmo tempo que, quanto mais acumulava, mais questionava o que estava a fazer. Desenganem-se os que me tomam por paladina da verdade, aquele tipo que enche a boca para apontar o dedo aos outros, escondendo os erros do passado. Estão lá para nos recordarmos que o caminho se faz caminhando, que aprendemos todos os dias e que estamos sempre a tempo de mudar.
Entretanto mudei de casa e o meu plano para a casa nova incluía compostagem. Ainda não consegui, sequer, acabar de arrumar a garagem e montar todos os móveis em casa, mas já consegui substituir o caixote do lixo (plástico e papel) por um com menos de metade da capacidade para fazer cada vez menos lixo.
O método é psicológico pois se não tenho onde deitar o lixo, tendencialmente irei produzir menos, ser mais cuidadosa nas compras que faço. Como é mais pequeno enche mais depressa o que significa que terei de o colocar no contentor mais vezes. Novamente, a psicologia a funcionar porque passo a ter a verdadeira noção do número de vezes que me desloco com lixo de plástico e papel nas mãos. Consequentemente, estarei mais atenta antes de produzir lixo. Também optei por não usar saco de plástico para guardar o lixo de plástico e papel. Se com o papel é muito fácil, as embalagens estão a dar luta. Como as lavo mais cuidadosamente antes de colocar no caixote e como quero poupar água, tenho cada vez mais cuidado na escolha das embalagens que trago para casa. Porque, no pasa nada, mas também não custa nada abrir a pestana e fazer alguma coisa, mais que não seja, por nós. Por um Verão decente e um Inverno condizente. Sejam (ainda mais) egoístas e estabeleçam metas que vos beneficiem, mas façam alguma coisa para travar o estado das coisas.
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