Quando um líder político afronta e ameaça os direitos humanos, a receita utilizada para se justificar é simples e recorrentemente repetida num padrão de atuação. A primeira estratégia: manter-se em silêncio. Assim o têm feito tantos líderes políticos quando confrontados com os falhanços redondos em direitos humanos das políticas que seguem. Em segundo lugar, quando lhes são expostos os abusos, os líderes tentam falar de outro assunto, puxando para a agenda mediática outra coisa que desvie a atenção daquilo que lhes está a ser apontado. Em terceiro lugar, a técnica do “e então” (whataboutism) – “e então a situação daquele outro país que é pior” ou “e então os rebeldes que são uma força do mal”. Esta estratégia é utilizada não só pelos líderes, mas também já pelos seus partidários e adeptos, por fervor e desinformação ou a soldo, pagos para fazer essa propaganda.
Finalmente a última estratégia. A mais grave e frequente nos dias de hoje: a demonização de todos aqueles que defendem direitos humanos, em particular, e de todos aqueles que criticam as posições dos líderes políticos. Em muitas situações deixou de se discutir com argumentos. Responde-se com repressão, com intimidação, com ameaça e difamação. Para silenciar alguém que incomoda e afronta o poder, as formas mais eficazes de neutralização é descredibilizar, difamar, acusar, prender, matar.
O discurso de ódio e a demonização vulgarizaram-se no terreno fértil dos tempos que vivemos. A discriminação corre tão depressa quanto se propagam as notícias falsas nas redes sociais.
Estas são ferramentas, são neutras. Podem ser bem ou mal usadas. Criadas para aproximar as pessoas e democratizar a comunicação, as redes sociais permitiram que quem normalmente não tinha voz a ganhasse. Mas esta história tem um lado sombrio. Serviços gratuitos para o utilizador, as redes vão recolhendo dados e preferências pessoais para efeitos de marketing. No entanto, há informações recentes que demonstram a manipulação de dados pessoais nas redes sociais para propagação de notícias falsas com o propósito de enganar as pessoas, as levar a votar, decidir, pensar, discriminar e acusar certos grupos ou pessoas.
As redes têm difundido o discurso de ódio e discriminação de género contra as mulheres, contra pessoas LGBTIQ; têm sido usadas para manipular narrativas em cenários de guerra; têm sido usadas para alimentar e propagar a discriminação e o ódio contra os rohingya; têm sido usadas para violar a memória de Marielle Franco; têm sido usadas para demonizar o trabalho dos White Helmets na Síria; têm sido usadas contra os refugiados que procuram abrigo na Europa; têm sido usadas para difamar, demonizar e ameaçar defensores de direitos humanos, alguns dos quais pagaram já com a vida o seu trabalho e outros pagam estando presos e apresentados ao mundo como terroristas.
A narrativa da divisão e do ódio já consolidou bases eleitorais em vários países da Europa como a Hungria, Polónia, República Checa, Itália, França, Áustria.
O ódio e os preconceitos proliferam rapidamente, suportam-se no medo, na desconfiança coletiva e nas notícias falsas, que deliberadamente enganam e manipulam a opinião pública.
Vivemos hoje em alta velocidade. Corremos para tudo e falta-nos tempo para pensar, para parar, para nos informarmos em profundidade. É fácil uma pessoa ser vítima de uma notícia falsa e, indignada, ser voz e megafone da mesma. A leitura dos títulos tem o efeito não raras vezes de substituir a leitura a fundo e mastigada dos textos, para compreendermos a verdade em toda a sua complexidade e de fontes seguras e credíveis.
Mas o tempo é também de mobilização e ativismo. O mundo está em marcha. Durante o ano de 2017 milhões de pessoas mobilizaram-se para defender direitos humanos, para exigir respeito às mulheres, para instar ao fim da discriminação racial, para exortar à regulamentação da violência online. No direito de acesso à informação, as pessoas ganharam consciência conforme demonstra um inquérito do Eurobarómetro feito já em 2018 que dá conta que 83% dos europeus consideram as notícias falsas uma ameaça para a democracia e querem que as plataformas sejam transparentes nas suas escolhas editoriais.
Contra a narrativa do ódio, exijamos a verdade. Contra a narrativa da divisão e da demonização, exijamos direitos humanos, educação e acolhimento.
Mais do que vociferar de dedo em riste, o mundo necessita de braços estendidos em abraço, de corações abertos à partilha, de humanidade com fome de liberdade.
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