Não faltavam indícios de que isto podia acontecer. O filme de Hollywood passado em Marrocos mais popular de sempre - Casablanca - acaba com um voo para Portugal. Respeitando a história, Marrocos continua na senda de destituir reis portugueses. Eles defenderam o seu bastião, nós perdemos outro S. Sebastião. Depois de eliminarem Portugal e Espanha, não era injusto que renomeássemos a península para Al-Andalus.
Vingando conquistas antigas, a área de Marrocos esteve mais congestionada durante 90 minutos do que a Avenida de Ceuta em hora de ponta. Eles é que têm o deserto, mas nós é que apanhámos seca. No fundo, fomos incompetentes como turistas. Toda a gente sabe que, quando se visita o meio-campo de Marrocos, é preciso saber regatear. Espaço, sobretudo. Mas nós fomos anjinhos e acabámos a pagar o preço de uma passagem para Lisboa por um bilhete de autocarro.
Alguns de nós ficaram estupefactos, outros estavam cientes de que podíamos perder com o país que nos fornece estupefacientes. Fernando Santos, que só fuma cigarros, não estava à espera que os charros de pólen marroquino adormecessem a equipa portuguesa. Perguntámos a Marrocos o que é que eles achavam de nos facilitarem o caminho para o título e eles responderam "haxixe muito mal".
Não sei quantos maços Fernando tinha levado para o Catar, mas hoje era preciso mais tabaco. Desta vez, não houve um Lucky Strike, que é como quem diz um charuto do Éder, para nos safar à última. É sem surpresa que este Mundial acaba a bater mal a Cristiano Ronaldo: no início, deu uma entrevista sem filtro; no fim, ficou com os olhos vermelhos.
Fernando Santos será o grande culpado desta eliminação? Penso que não. Condenar Santos pelos seus insucessos faz tanto sentido como congratulá-lo pelas suas vitórias. É que, em 2016, as coisas alinharam-se para que vencêssemos. Hoje, alinharam-se para que perdêssemos. No jogo contra Marrocos, calhou-nos o mesmo equipamento, o mesmo árbitro e o mesmo canal a transmitir (SIC) a derrota com a Correia. Estava escrito nas estrelas. Desvalorize-se tudo o que tenha a ver com a polémica Ronaldo: o que regeu o insípido percurso de Fernando Santos à frente da seleção nunca foi o astro, mas os astros.
Se queremos responsabilizar alguém de forma objetiva pela pífia campanha portuguesa neste Mundial, eu diria para despedirmos a Sorte. Há seis anos, a sorte levou Fernando Santos a um portal que nos transportou para a glória. Em 2022, o selecionador só conseguiu mesmo entrar no Portal das Finanças. E esse, já sabemos, nunca traz boas notícias.
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