Um ano depois do 7 de outubro da infâmia cometida pelo Hamas, a eliminação agora do chefe que todos viam como o temível inimigo nº1 de Israel, tem o efeito de reabilitar a imagem de Netanyahu aos olhos dos israelitas. Se em 8 de outubro de 2023, o dia seguinte à barbárie cometida pelo Hamas, Netanyahu passou a ser visto pela opinião pública israelita, mesmo do campo político dele, como principal responsável pela impensável falha quer dos serviços de inteligência para segurança, quer da resposta rápida militar a travar o assalto do Hamas, agora, após o 28 de setembro de 2024, Netanyahu recupera muito do apoio que pareia definitivamente perdido e ressurge forte diante dos adversários políticos. É previsível que as sondagens votem a colocá-lo como a referência para o eleitorado de direita que é maioritário em Israel.
Netanyahu ganha mais uma vida política, neste pico de emoção pelo golpe bombista que elimina quem todos viam como o pior inimigo. Mas continua a haver em Israel quem não lhe perdoe a insensibilidade com o destino dos ainda 101 reféns levados pelo Hamas.
No mesmo sábado em que ficou oficializado o anúncio da morte de Nasrallah, centenas de familiares dos reféns e muitas mais pessoas juntaram-se diante do ministério da Defesa em Telavive onde o próprio Netanyahu estava em reunião, dispuseram-se ao corpo a corpo com a gente da segurança e gritaram por negociações para regresso dos reféns.
os serviços secretos israelitas, para além de terem tomado a escuta da rede de comunicações da Hezbollah, infiltraram toupeiras no topo da estrutura liderada por Nasrallah – é a explicação para a qualidade da informação de que a Mossad dispôs para em 10 dias eliminar quase toda a estrutura de comando da Hezbollah.
Netanyahu recuperou, mas não cala a oposição interna. Estratego, decidiu que precisava de um golpe de grande efeito para dar a volta à rejeição crescente e que parecia imparável. Serviu-se do golpe que os serviços secretos e militares estavam (confirmam fontes militares israelitas) há muitos meses a preparar. Obviamente, os serviços secretos israelitas, para além de terem tomado a escuta da rede de comunicações da Hezbollah, infiltraram toupeiras no topo da estrutura liderada por Nasrallah – é a explicação para a qualidade da informação de que a Mossad dispôs para em 10 dias eliminar quase toda a estrutura de comando da Hezbollah.
Tudo foi cuidado na comunicação para que Netanyahu apareça como o líder da operação triunfante. A começar pela distribuição da fotografia em que o chefe, a partir de Nova Iorque, logo após ter discursado na ONU em tom como sempre desafiador, dá a ordem para que avance a operação, batizada de “Nova Ordem”: dez aviões F-15 do esquadrão 69, a força mais de elite da aviação militar israelita entraram pelo espaço aéreo do Líbano, em poucos minutos atingiram a vertical de Dahiyeh, bairro feudo da Hezbollah na zona sul da cidade de Beirute, e largaram 80 toneladas de explosivos em cima de seis edifícios com uma dúzia de andares e em cuja subcave estava reunida a liderança da Hezbollah que tinha estado a ouvir o discurso de Netanyahu na ONU.
Hassan Nasrallah, 64 anos de idade, há 32 na liderança da Hezbollah, é um dos que ficaram soterrados naquele “ground zero” na capital libanesa. Foram necessárias várias horas de busca até que fosse encontrado o corpo sem vida do chefe carismático da Hezbollah. A dimensão do ataque e a cratera produzida numa zona densamente habitada fez pensar que o número de mortes há-de contar-se em centenas.
Há uma estranheza: o tom moderado da condenação pelos estados árabes do golpe terrorista (obviamente matou muitos civis que nada têm a ver com a Hezbollah) de Netanyahu num país que deve ser Estado soberano, mas que infelizmente não o tem sido.
É notório que muito do islão sunita está a sorrir com a decapitação do mais poderoso movimento xiita fora do Irão.
De Teerão é prometida vingança. Também já tinha sido proclamada há dois meses quando Israel abateu na capital iraniana o líder do Hamas.
Este golpe contra a Hezbollah acontece quando o presidente iraniano, Pezeshkian, considerado como um moderado em comparação com os ultrarradicais que controlam quase todo o poder no Irão, está em Nova Iorque onde, para além de discursar na ONU, multiplica reuniões bilaterais em que negoceia o levantamento das sanções ocidentais que asfixiam o Irão. Apesar do assassinato de Nasrallah, a agenda de Pezeshkian não foi alterada.
Provavelmente, para o Irão, pelo menos o do presidente Pezeshkian, o mais importante neste momento é que haja alívio das sanções ocidentais e que Israel não ataque em solo iraniano. A diplomacia ocidental mostra querer entender-se com Pezeshkian. Talvez seja um modo para tentar travar a mais guerra que Netanyahu pretende.
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