E pronto, temos guerra. Era só o que nos faltava. Ainda nem nos livrámos das máscaras cirúrgicas e já estamos a encomendar máscaras de gás. Tudo isto a despeito de todos os meus apelos para que a guerra não acontecesse. Incrível, tanta gente nas redes sociais a dizer que a guerra era evitável e o Putin a não ligar nenhuma. Ainda por cima, está perfeitamente comprovado que a paz é uma opção substancialmente melhor do que a guerra. A guerra, como sabem, é incómoda. De resto, a guerra ocorre numa altura em que os hippies, que costumavam vestir as t-shirts do “make love not war”, estão ocupados, não a fazer amor, mas a aderir a movimentos anti-vacinas. Tudo a correr mal, portanto.
Não é que a guerra não seja bom entretenimento, mas entretém mais quando é retratada em documentários com imagens em arquivo elaborados décadas após a conclusão da guerra. Não me oponho às guerras do passado nem às guerras do futuro, mas por mim proibiam-se as guerras do presente. Também por causa do sofrimento que inflige na espécie através da morte e do trauma, mas sobretudo porque é muito difícil entender a guerra no preciso momento em que ela acontece. Não há documentários, não há séries de ficção aclamadas, não há musicais da Broadway, não há videojogos que nos transportem com impressionante detalhe para o teatro de operações.
Ou seja, para entender a guerra que agora parece estar a eclodir, somos forçados a dedicar tempo a um procedimento imprudente chamado “ler as notícias”. Quanto a mim, recuso-me. Não contam comigo para ter infindáveis separadores abertos para tentar perceber quem são os separatistas. Para compreender o que se passa na guerra, vou optar antes pela estratégia que me traz mais paz: confiar em tudo o que a pessoa que fala português com sotaque do Leste da Europa está a dizer na televisão.
Contudo, o facto de não entender a guerra não me deslegitima de escrever sobre ela num órgão de comunicação social. Aliás, até o valida. Seria uma irresponsabilidade conceder espaço mediático aos entendidos em geopolítica nesta altura. Viram o que aconteceu com os virologistas? Agora, até anúncios fazem. Em tempo de crise, todas as abordagens a temas complexos que não sejam superficiais devem ser evitadas a todo o custo, sob pena do cidadão cometer o delito de “tentar perceber o que está a passar”.
Dito isto, segue a minha opinião: segundo apurei, a Rússia é maior do que a Ucrânia. Salvo alguns casos em que pessoas de baixa estatura dominam artes marciais, esta diferença pode revelar-se fatal. Talvez não fosse má ideia enviar Rúben Amorim para o campo de batalha, uma vez que este se revelou muito competente na liderança do underdog.
Em segundo lugar, sou a favor de sanções. A UEFA já admitiu retirar a final da Champions da Rússia, eu sugiro ir mais longe: todos os países participantes na Eurovisão devem dar os doze pontos à Ucrânia na final. O Putin vai ficar danado, até porque gosta de ser ele próprio a angustiar a comunidade LGBT russa.
Em terceiro lugar, temos a questão da dependência alemã do gás russo. A minha sugestão é muito clara: comprem noutro lado. Por exemplo, o merceeiro da terra dos meus avós deixou de entregar as bilhas em casa — e eles não tiveram pudor em mudar de fornecedor. Evidentemente, é preciso coragem política para aguentar com as trombas com que o merceeiro descartado vai ficar. Outra hipótese, é apostarem na abordagem francesa: deixem pura e simplesmente de tomar banho.
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