São cada vez mais os sinais de mudança em direcção ao futuro. Se é certo que a vida na Terra se gere por períodos, com extinções em massa que permitem a evolução e diversificação dos diferentes grupos de organismos, também é certo que o período que se avizinha nos poderá extinguir a nós ou, na melhor das hipóteses, criar um contexto que torna muito difícil a nossa permanência no planeta. Há evidências que tornam afirmações como esta são demasiado óbvias para serem ignoradas.
Podemos aceitar e agir para atrasar o inevitável - quem sabe até evitar - ou ignorar e esperar que não nos toque a nós - mesmo sabendo que vai acontecer - ou, simplesmente, procurar contribuir para melhorar o estado das coisas. É o que muitas marcas e figuras públicas estão a fazer, num processo claro de adopção de novas práticas ou, quem sabe, num aproveitamento da onda verde para fazer mais uns cobres. A verdade é que não temos como saber onde começa e acaba a verdadeira intenção dos que, publicamente, defendem um novo sentido para a nossa vida, modos de vida e hábitos alimentares, menos ainda como perceber se as grandes marcas não estão a aproveitar-se do medo de um futuro muito negro para lançarem a esperança através da criação de produtos e de uma comunicação que defende o Planeta. Não sabemos. Fala-se cada vez mais abertamente da forma como a reciclagem é apenas uma panaceia para um mal maior enquanto nos alivia a consciência e afasta o lixo da vista. O greenwashing é outro dos temas quentes do momento e, nós por cá, sem saber onde começa e acaba a verdade.
Sabemos, no entanto, que no Árctico os ursos polares fazem cada vez mais quilómetros para procurarem alimentos e que se aproximam de cidades para encontrarem comida; a base militar de Alert registou, em Julho, temperaturas nunca vistas de 21 graus centígrados (temperatura habitual é de 6 graus) e os cientistas, um pouco por todo o mundo, gritam perigo. O gelo no Árctico está a derreter muito mais depressa do que o previsto e tal, associado a outros factores, pode significar, a curto prazo, que, aqui em Portugal, deixamos de ter praias e que o cenário geral se aproximará das características do Norte de África. Agora imaginem-se a viver permanentemente em Marraquexe, essa cidade linda, na qual talvez não estejamos preparados para viver todos os dias.
Kim Kardashian, suposta rainha dos tablóides virtuais, anunciou recentemente a sua decisão de substituir todos os seus casacos de pele, ao mesmo tempo que tem vindo a promover uma alimentação vegan nos media sociais, à semelhança do que outros famosos vêm fazendo: da Baywatch Pamela Anderson ao Terminator Schwarzenneger, passando por Jaden Smith (filho de Will Smith), Jason Momoa, o Aquaman, a recente teen crush Billie Eilish ou a já não tão jovem Miley Cirus, que afirma não ter filhos enquanto não salvarmos o mundo. Os tempos são de mudança, como escreveu Pamela Anderson numa carta endereçada a Kardashian em 2017, apelando à sua consciência a favor dos animais. A Prada anunciou que vai deixar de usar pele de animais e já há algum tempo que a Adidas se vem posicionando como a marca desportiva mais amiga do ambiente, com vários produtos feitos a partir de plástico reciclado, incluindo a sua parceria com a designer activista Stella McCartney.
Até que ponto tudo isto é, também, poder de comunicação? Não sei, mas sei que, apesar de um óbvio aparente apelo ao consumo de algumas marcas e celebridades, numa lógica que substitui o plástico por outros materiais e a carne e os lacticínios por outros ingredientes (a propósito, um vídeo de vacas adultas que pisam relva pela primeira vez, depois de uma vida confinadas ao estábulo para produzirem leite), interessa perceber que há, nestas marcas e celebridades, um ponto em comum: o reconhecimento das alterações climáticas e da necessidade de mudarmos o nosso estilo de vida. Contudo, não creio que tenhamos, todos, de virar veganos, mas sei que tudo apela ao consumo, algo que sim, precisamos refrear, aproveitando o que já temos e recorrendo a formas diferentes de fazer as coisas, recuperando práticas simples, evitando reciclar. Como assim, evitando reciclar, essa prática que nos venderam nos anos 90 como solução?
Como os famosos, é tempo de abraçar a causa, (re)aprender, porque esta coisa de sermos amigos do ambiente passa muito por abandonarmos velhas práticas para adoptarmos as práticas velhas ou seja, formas antigas de fazer as coisas que o consumismo desenfreado das últimas décadas nos fez achar que não valiam nada. Valem. Muito disto começa por dizer 'não': não à necessidade de comprar mais - roupa, móveis e objectos, produtos de beleza e limpeza -, de usar palhinhas para beber sumos ou caipirinhas, de comprar com embalagens e aceitar sempre mais um saco de plástico à saída da loja, de comprar novo e a estrear - porque segunda mão é coisa de pobre -, de deitar fora sem arranjar - porque é mais barato comprar novo. Às vezes é. Outras vezes não há quem arranje ou não há peças de substituição. Precisaremos mesmo daquilo que se estragou?
Pensar como antigamente pode ser um princípio, mesmo quando é mais barato deitar fora e comprar novo, recorrendo a práticas mais conscientes e sustentáveis que são, na verdade, uma forma mais feliz de vivermos a vida, muitas vezes gastando menos, ao contrário do que se apregoa.
Comentários