Nos últimos anos, há uma tendência clara, apontada por todos os estudos feitos sobre o tema: há menos jovens a participar em partidos políticos, há menos participação política em geral. Quer seja nos partidos, nas associações ou nos sindicatos. E, além disso, há uma redução da identificação ideológico-partidária.
Em 2005, um artigo de Pedro Magalhães, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, realçava a imagem negativa que os portugueses têm da política, com os números a serem particularmente graves nas camadas mais jovens. Estudos posteriores confirmam um agravamento desta tendência, com uma redução sucessiva da participação política.
Por estes dias, a propósito da inclusão de Leonor Rosas na lista de candidatos à Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda, voltou a ser discutida a temática da participação jovem na política.
Por um lado, surgiram críticas que incidiam sobre o facto de a candidata, uma estudante de 21 anos ser filha de Fernando Rosas, professor catedrático e um dos fundadores do partido, ou não ter experiência profissional. Por outro, surgiam contra-argumentos que apontavam que, em vez de ser valorizada a inclusão de uma jovem, lhe era feita a exigência de ter a experiência que aos 21 anos não poderia ter, ou era proposto que fosse prejudicada por ser filha de quem é.
Ambas as reações são legítimas, mas enraízam-se num problema mais complicado. A política funciona em circuito fechado, com um discurso e uma linguagem próprios, que afastam o cidadão comum. Nenhum partido político pode dizer o contrário. Acham que a maior parte dos jovens dos 15 aos 30 anos teria paciência ou interesse para ouvir os vossos congressos? Nem vou falar em ler programas eleitorais de 90 ou 100 páginas.
A maior parte dos cidadãos nunca foi filiado num partido e não tem o mínimo interesse nisso. E ainda continua por provar que a generalidade dos partidos esteja interessada na participação massiva dos cidadãos, sendo disso exemplo os poucos mecanismos de abertura à sociedade que existem em cada um deles.
Leonor Rosas, que rapidamente os mordazes comentadores do Twitter trouxeram no regaço como exemplo de um prolongamento eterno das mesmas elites políticas, pode ser um exemplo de como a participação familiar em organizações político-partidárias induz os mais jovens a participarem também. Em 2016, um paper da investigadora Patrícia Tomás, do Observatório Político, sublinhava isso mesmo: há maior propensão para os jovens serem militantes partidários se tiverem alguém na família que já o é ou foi.
Provavelmente, o problema não está na família Rosas, que há séculos tem capacidade e posição para participar politicamente, mas sim em todas as outras famílias que, sucessivamente, se foram afastando do processo político e partidário, por o verem como algo que lhes é alheio e, diria mesmo, estranho.
A bolha política está frequentemente a falar para si própria. Quantos de nós já nos demos conta de vermos noticiários inteiros a discutir polémicas e escândalos dos quais não ouvimos ninguém falar no café, no autocarro ou na mesa de jantar lá de casa?
A nível europeu, onde o desencanto com os partidos também é crescente, vão resistindo na participação cívica os clubes e associações desportivos, as associações juvenis e as organizações locais. Em comum, todas estas organizações têm o facto de terem propósitos claros e concretos na vida das pessoas.
Isto é mais simples de dizer do que de fazer, mas provavelmente não devíamos ficar-nos por criticar o facto de alguém com um apelido que já conhecemos estar numa lista de candidatos, mas devíamos estar a incentivar os nossos amigos, a quem reconhecemos capacidades de liderança, altruísmo e iniciativa, a participarem e a chegarem-se à frente num partido. Porque também nos partidos o que conta são os números e, se formos muitos a querer mudar as coisas, elas vão mesmo acabar por ter de mudar.
Rebenta a bolha.
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