As eleições autárquicas aproximam-se. Com elas, as máquinas partidárias e equipas independentes ultimam estratégias, concertam esforços para a eleição dos seus candidatos. Ou, como as eleições não se ganham, apenas se perdem, para a não-eleição dos candidatos opostos. Em teoria, o período eleitoral que se avizinha propicia à produção intelectual, à discussão de ideias, reacende a chama que deve definir a atividade política, ao mesmo tempo que a eleva: a necessidade de discussão de pressupostos teóricos, e da sua extrapolação para o concreto, o que afeta, no dia-a-dia, o quotidiano dos cidadãos.
No espetro de acontecimentos da vida política, as eleições para as câmaras, assembleias municipais e juntas de freguesia representam o expoente de dignificação da atividade democrática. A gestão de um concelho pauta-se, obrigatoriamente, por verdadeiras políticas de proximidade. Existe uma interação palpável, um escrutínio atento, da qual os decisores não se podem afastar. A interface entre os políticos e os cidadãos que os elegem é transparente, acessível. As decisões de uns, repercutem-se com clareza nos outros, definindo um ciclo de feedbacks que nada tem de vicioso. Pelo contrário, este é daqueles que se deve manter. Porque, uma vez mais, os ajustes, que surgem dessas avaliações, são mensuráveis na dinâmica do concelho e freguesias, e por sua vez, nas pessoas que neles habitam. E, afinal, no meio deste debate, onde ficam os jovens?
Muito se disserta sobre a alienação dos jovens da atividade política, seja ela partidária ou não. É importante perceber, em primeiro lugar, que razões podem motivar um afastamento. Apontar o tédio como justificação é um exercício preguiçoso. Não é credível que a luta de convicções, que se colocam ao dispor de um bem maior, não acicate a energia de muitas mentes, desejosas de entrar em ação. Os exercícios populistas podem apresentar-se como uma explicação compreensível. Nos últimos tempos, forças obscurantistas realimentam preconceitos antigos, daqueles que exclamam que só faz política quem se quer aproveitar dela, para cumprir objetivos sociais ou profissionais. Se este medo afasta os mais jovens, é a entrada de jovens na vida política que, paradoxalmente, o pode combater. Numa visão, porventura demasiado purista, a política necessita de pessoas que nada transportam consigo, a não ser os seus sistemas de valores, e que nada pretendem, para além de os colocar em prática.
Os números exclamam pelos jovens, e levantam o véu, sobre uma realidade que teima em não ser discutida. Portugal é um dos países com uma das maiores taxas de população envelhecida do mundo. Segundo dados recentes do INE, o país perdeu cerca de 200 000 habitantes nos últimos 10 anos, e as estimativas apontam para uma redução de 2 milhões de pessoas nas próximas quatro décadas.
Estruturalmente, é perentório mobilizar a massa jovem para a otimização concertada da melhoria da qualidade de vida do país.
As eleições autárquicas representam, então, a melhor oportunidade para capitalizar os jovens. Ninguém melhor do que estes para orientar as decisões dos líderes escolhidos, em consonância com os (novos) desafios que definem a sua geração, que condicionarão, nos anos subsequentes, como se irá viver, nos respetivos concelhos. A envolvência direta dos governantes locais e cidadãos é a motivação ideal: cada ação a traduzir a devida reação.
O modo de participação parece simples e independente da existência, ou não, de cor político-partidária. A responsabilidade é partilhada. Os políticos, adstritos a partidos ou equipas apartidárias, deverão aproveitar as semanas que antecedem as eleições para escutar, ativamente, os seus jovens. Porque não promover, com os mais novos, a criação de um grupo de trabalho? Porque não estimular esse grupo à criação de um manifesto jovem (um pacote de medidas desenhadas especificamente para a população jovem,)? Mais importante, porque não analisar as medidas, incorporá-las nos programas, e dar voz a quem as criou?
A diversidade geracional deve ser inalienável da política. Porque é a multiplicidade de perspetivas que promove a criação de impacto: o propósito que deve balizar a política, e um lembrete, vivo e constante, de porque é que se começou, em primeiro lugar.
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