É assim com os jovens. Serão sempre a próxima geração que vai mudar o mundo, mantêmo-los a estudar e a tirar cursos atrás de cursos mas, quando chega a hora do emprego, temos de lhes oferecer estágios atrás de estágios, muitos não remunerados ou mal remunerados. E, em consciência, defendemos que tem de ser assim porque um jovem não tem experiência. Ou seja, não sabe fazer nada.
Considerada de forma isolada, esta visão sobre a entrada dos jovens no mercado de trabalho deveria querer dizer que somos uma sociedade que premeia a experiência. Portanto, profissionais acima dos 40 ou 50 anos não teriam qualquer problema de empregabilidade, porque são eles que as empresas querem para conduzir os seus negócios a bom porto. Na realidade, não é assim. Para muitas empresas, estes são os grupos etários das pessoas cheias de “vícios” e por isso difíceis de “reconfigurar” numa economia que rola cada vez mais rápido e muitas vezes sem nexo. Ah, e também são os grupos etários em que os profissionais já ganham um salário e não um subsídio ou um estágio e o excel dos custos não perdoa.
Recapitulemos. Os jovens, enormes promessas que nos fazem ter esperança no futuro, não são elegíveis para lugares pagos com um salário. Não têm experiência, não sabem fazer e terão de cumprir vários anos até que lhes seja reconhecido o estatuto de trabalhador inteiro. Quando lá chegam – para os que chegam a esse estatuto – estão, em regra, entre os 30 e os 35. No melhor dos cenários, têm 10 anos de vida activa plena e reconhecida como essencial pelas empresas e por essa entidade que é o mercado em geral. E depois fazem 40. Quando supostamente já sabem realmente bem o que fazem, já estiveram à prova em várias empresas, funções, contextos, já têm ideias que podem fundamentar, essa é também a altura em que o “sistema”, usando uma expressão cara a tantos, começa a descartá-los. Porque são mais caros, porque têm ideias feitas, porque são mais velhos.
Está tudo doido, ou quê?
Vivemos hoje numa sociedade que, mercê da evolução da ciência, da tecnologia, do conhecimento em geral, nos promete maior longevidade e melhor qualidade de vida. Vivemos hoje em economias que, entre os grandes buracos negros dos resgates aos bancos e a necessidade de tornar sustentáveis as premissas essenciais do Estado social, antecipam e legislam prolongamento nos anos de trabalho com reformas menores e mais tardias. Mas, na vida real, temos empresas e instituições que na sua maioria não sabem o que fazer nem com os jovens nem quando os jovens ficam mais velhos. Convenhamos que ter apenas uma década de vida activa sem estar nos holofotes da indigência por estágio, desemprego ou reforma antecipada é, no mínimo, caricato.
É indiscutível que temos temas de produtividade para resolver, em qualquer uma das faixas etárias – é um problema do país. E é um facto que ensinar e aprender a trabalhar é um processo de grande exigência que tende a ser menorizado. Saber trabalhar não é inato, não vem com os cursos, e se as empresas não estimularem, nem sequer vem com a experiência. Há pessoas qualificadas que podem passar uma vida sem saber trabalhar, mesmo que desempenhem as funções que lhes são atribuídas. A produtividade está, em muito, neste tema mal resolvido.
Ontem, o ISCTE foi anfitrião da primeira apresentação de projectos de uma turma muito especial. A primeira resultante de uma iniciativa conjunta com o IEFP em que 100 licenciados desempregados cumpriram um semestre na univerisidade em ações de formação em tecnologias de informação e comunicação. A maior parte destes alunos tinha mais de 40 anos, muitos mais de 50 - ouviu-se, aliás, várias vezes a expressão alusiva aos cabelos brancos. Pelo auditório do ISCTE passaram engenheiros, economistas, sociólogos, psicólogos, biólogos, entre outras formações. Pessoas com experiência, com boas ideias, com vontade, que, mercê uma qualquer reestruturação, ficaram desempregados. E que ontem ali estavam felizes e realizados por terem conseguido provar o que valem.
Somos um país tão bem munido de profissionais qualificados que pode assim tão facilmente descartar estas pessoas? Porque são mais velhos? Porque ganham mais? Porque alguns não tinham como saber o que eram redes sociais ou gestão digital quando tiraram os cursos há 20 ou 30 anos?
Nos idos anos 90, entrevistei pela primeira vez Belmiro de Azevedo. Foi uma entrevista longa, na Maia, na qual o líder da Sonae percorreu os principais temas dos negócios do grupo e também do país. A minha principal memória desse dia não tem, contudo, nada a ver com isso. Belmiro chegava por essa altura aos 60 anos e a pergunta era sobre sucessão e sobre como vivia a passagem do tempo (eufemismo para envelhecer). Recostado no cadeirão, Belmiro de Azevedo inclinou-se para a frente e apenas respondeu: “Sabe, a idade é a coisa mais democrática que existe. Passa por todos”.
OUTRAS LEITURAS
É fim de semana de óscares. Há um no ano inteiro e é este. Vai poder acompanhar tudo aqui com uma janela actualizada ao minuto na homepage do SAPO. Faça-nos companhia.
E, parece de propósito num dia em que o tema desta coluna é o emprego: a rede social LinkedIn estreia-se em grande no prime time de tv ao lançar o seu primeiro anúncio no intervalo da transmissão da cerimónia de entrega dos Óscares. O mote da campanha é “You’re closer than you think" e é sobre o emprego dos seus sonhos.
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