Já a 13 de janeiro é a renhida escolha do parlamento e do governo do território de Taiwan que é epicentro da maior tensão entre EUA e China. O ano eleitoral termina em 5 de novembro com os eleitores dos EUA a decidirem a presidência e o rumo que querem ter.

O ano que está a começar também tem as eleições para o Parlamento Europeu, através das quais é definida a cúpula no comando da União Europeia. É um momento de teste ao peso das direitas ultra na Europa, também à capacidade de resistência dos partidos tradicionais. A atual Comissão Europeia assenta numa aliança entre populares, social-democratas e liberais, com abertura aos verdes. Há entre os populares uma corrente aberta a maior cooperação com essa direita mais à direita. Não parece no horizonte a maioria absoluta das direitas, mas o eventual ganho de influência dos ultras empurraria a Europa para recuo em políticas sobre o clima, sobre a transição energética e, sobretudo, no acolhimento aos migrantes. Também ficaria em questão o empenho europeu no apoio ao governo Zelensky na guerra da Ucrânia.  O poder e influência crescente do Parlamento Europeu justifica que os cidadãos deixem de lhe dedicar escasso interesse.

Nos próximos meses também há eleições no país que neste último ano se tornou o mais populoso no mundo: a Índia. Narendra Modi candidata-se a terceiro mandato, com o crédito interno de ter impulsionado o crescimento económico da Índia, mas com o pecado de exacerbar o nacionalismo hindu em modo que leva a tensões com a grande minoria muçulmana que conta com uns 200 milhões de fiéis na Índia. Modi é favorito para a recondução e é previsível que com esse reforço do peso político pessoal  seja reforçado o peso geopolítico da Índia no cada vez mais determinante sul global.

Também estão agendadas para os primeiros meses deste 2024 eleições legislativas num instável vizinho nuclear da Índia: o Paquistão. Vai ser reforçada em Islamabad a condução política mais alinhada com Pequim? É uma das incógnitas na escolha deste país com 240 milhões de pessoas e que é retaguarda de muitas das movimentações no vizinho Afeganistão.

México e Indonésia têm eleições presidenciais e muda a liderança. No México chegam ao fim os dois mandatos de Lopez Obrador, com alinhamento à esquerda. Os estudos de opinião dão favoritismo a uma académica, Claudia Sheinbaum, que aparece como candidata de continuidade mais dialogante e moderada.  Na Indonésia chega ao fim o segundo mandato do muito popular Joko Widodo. Um veterano general, com fama de duro, Subianto é dado como favorito. Quem quer que seja o presidente nada mudará no cordial e cooperante relacionamento com Timor-Leste iniciado em 2001 pela presidente Megawati Sukarnoputri.

No calendário de 2024 há eleições na Rússia e no Irão. Na Rússia, a eleição está programada como mais uma etapa do percurso triunfal de Putin, destinado a ser presidente até 2034. No Irão, o poder é dos aiatolas e esses não vão a votos. Mas a eleição do parlamento pode ser ocasião para que se levantem vagas de contestação à teocracia de Teerão.

A escolha que vai marcar grande parte do ano 2024 é a dos Estados Unidos, marcada pela incógnita Trump. O ex-presidente disruptor, com agenda judicial carregada, vai voltar a ser candidato? É o mais provável. Pode ser eleito? Esta é uma pergunta ainda sem resposta. Todos já sabemos como é turbulento, egoísta e isolacionista o mundo de Trump. Parece legítimo afirmar que a eleição de Trump faria mal à ideia de planeta solidário. Joe Biden vai ser candidato à reeleição?  Ele quer. Os estudos de opinião mostram que mesmo entre o eleitorado democrata não há grande entusiasmo por este presidente.  É provável que nos próximos meses a vice Kamala Harris apareça com mais protagonismo a dar mais energia à candidatura democrata. A campanha presidencial nos EUA vai ser um centro de atenção ao longo dos próximos 10 meses.

Já em 13 de janeiro é a escolha em Taiwan, sob o olhar vigilante de Pequim e a inquietação dos EUA. O partido Kuomintang, defensor de boa harmonia nas relações com Pequim aparece, nas sondagens das últimas semanas, a reduzir a distância para o Partido Democrático Progressista que está no poder com ideário nacionalista que irrita Pequim. Estas eleições podem agitar a tensão geopolítica naquela região do Pacífico.

Ao todo, 2024 é ano de eleições em mais de 70 países. Metade da população do planeta é chamada a votar. Também a portuguesa, que a 10 de março escolhe a composição do parlamento, o que por sua vez dará lugar a um novo governo. São eleições por toda a parte, com muitas incógnitas.