Nasci em Lisboa e vivi em Benfica, virado para o Estádio da Luz, até aos 19 anos.

Aprendi a viver o Benfica pela mão do meu pai — que, em 1990, me levou ao Benfica-Marselha e pela minha mãe, antiga ginasta do clube, que sempre permitiu que o meu pai alimentasse a minha fome por esta doença benfiquista.

Foi à volta da antiga Catedral que o meu irmão me ensinou a conduzir, no velhinho Volkswagen.

Vivi, de frente, um Benfica inesquecível, inexplicável. Dos suecos, do Paneira, do João Pinto, do Isaías, do Rui Costa, do Lisboa e do Mike. Quem o viveu viveu, e não há palavras que descrevam a emoção que aquele Benfica nos deixou sentir.

Caí, na minha adolescência, na desilusão do Vietname encarnado. Daquele que achei que seria um pequeno Benfica irrepetível na História. Não foi. Aquele Benfica ferido nunca se recompôs. Ele enganou-nos, iludiu-nos, usou-nos com a sua história maravilhosa para nos fazer crer que estaríamos de volta.

O regresso estrondoso do Benfica democrático, vermelho quando precisou de ser, encarnado-glória quando quis, de Londres, de Leverkusen, de Alvalade, do velhinho Borges Coutinho…. não passou de uma ilusão disfarçada num bigode comprido, atrás do qual muitos se esconderam — e escondem.

Velhos ídolos caíram. A paixão esfriou. A Luz escureceu.

Luís Filipe Vieira foi, como Damásio e Vale e Azevedo, coroado sem glória no pódio dos que tentaram apagar a chama imensa. Rui Costa, o velho ídolo, segurava-o firme no lugar mais alto desse pódio, ainda que frágil, que nem um esbatido bibelô de loiça.

Com um orgulho muito próprio, em vésperas de outubro passado, os sócios do Sport Lisboa e Benfica reacenderam a chama. Perante um clube em cacos, afogado em mentiras, suspeições e omissões, saíram à rua no período mais difícil das suas vidas para mostrar a todos — e à dupla Costa-Vieira — que o Benfica é nosso e sempre será. Nesse dia, e sem parar desde então, aí foram eles, acendendo a chama, a incomparável massa associativa do Benfica!

Neste período, pleno de derrotas, dor e desilusão, voltei a sentir, com os incríveis companheiros que apenas quiseram Servir o Benfica, aquela emoção que nos enchia de orgulho no velhinho Pavilhão n.º 1, quando o pequeno enorme Benfica lutava cara a cara vencendo ou não — contra os gigantes do basquetebol europeu.

É neste período de enorme consternação, emoção e vergonha que os benfiquistas têm de — efetivamente — estar unidos. Estar unidos pelo Benfica, pela verdade, pela democracia, pela nossa história, contra aqueles que tentaram apagar a luz. Entre esses tem estado — na linha da frente — o velho ídolo.

Rui Costa assumiu a presidência do seu mentor, amigo e protetor, Luís Filipe Vieira. Enquanto este mentiu aos sócios, os ignorou, gozou, insultou, o velho ídolo assobiou para o lado.

Assumiu-a nervoso, escondido, protegido pelos comparsas de sempre, à imagem do seu mentor. Ilegítimo.

Questionado pelos sócios, no exercício do seu legítimo direito à informação, o velho ídolo lançou a carta da vitimização, da família, do bom-nome, ao antigo estilo vieirista, gasto, cansado e desinformado. Olhou os benfiquistas, fugiu e omitiu.

O velho ídolo, com quem sonhámos, desceu à Terra para nos mostrar que afinal todos os homens são reais, e só mesmo o Benfica é divino.

Neste Benfica de loiça, prestes a quebrar, um irredutível movimento de sócios anónimos resiste e resistirá. Até voltarmos a cantar na nova Luz, honrando, hoje e sempre, os verdadeiros ídolos que nos honraram no passado. À Benfica.

[Artigo corrigido às 17h26]