O stress e a fadiga mental podem expressar-se em diferentes sintomas, nas diferentes dimensões do nosso corpo, de dores na lombar ou ombros a uma apatia sem aparente explicação. Também é certo que o exercício não só pode responder a qualquer um desses sintomas, como também pode ajudar a criar mais clareza mental, de modo a analisar melhor as suas causas, a olharmos para dentro e para as circunstâncias de uma forma diferente.
Antes de celebrarmos o regresso ao ginásio com este texto, acho que vale a pena mencionar algo que vim a presenciar nestes tempos. Durante estas temporadas em que dei aulas de treino personalizado online tive a oportunidade de ver os meus alunos no seu lar, no seu dia-a-dia. Isto criou em mim um respeito ainda maior pelo esforço e pela dedicação de cada um, em honrar o compromisso daquela hora de treino apesar das horas de trabalho extra ou dos filhos que, estando em casa, naturalmente necessitam de mais atenção.
Os ginásios reabriram, por isso surge a oportunidade de, pela primeira vez em meses, sair de casa para regressar a um espaço que propicia a prática do exercício. Isto foi algo que criou um brilho especial nos olhos de todos os meus alunos. É inegável a importância que os treinos online tiveram em manter uma rotina e atividade em tempos de confinamento, mas a possibilidade de sair de casa e reencontrar pessoas e um contexto do qual se esteve privado durante quase três meses é algo que também não se nega.
Nestes últimos tempos, ouvimos muito dizer que a área do exercício e os seus profissionais são “parte da solução”. A solução de criar uma imunidade de grupo que nos permita não só melhorar a nossa saúde como também prosperar na vida e naquilo que fazemos. Por isso, quando escolhemos continuar a treinar durante o confinamento, assim como quando regressamos ao ginásio e retomamos a nossa rotina, estamos a trabalhar nisso mesmo, na solução para uma vida melhor, que não se abale tanto com algum desequilíbrio externo que aconteça. Mas de que forma uma sessão de treino pode ajudar?
Ao trabalhar na capacidade contrátil de cada músculo, estaremos a permitir que o nosso corpo execute as suas tarefas de uma forma mais eficaz e confortável. Melhorar a saúde dos músculos que rodeiam a coluna, por exemplo, pode retirar imensa pressão desta quando estamos sentados a trabalhar. Ou então ensinar os ombros a permanecer longe das orelhas pode retirar a necessidade de pedir a um familiar uma massagem urgente para descomprimir. E isto, muitas vezes, implica contrair e ativar um conjunto de músculos que eventualmente nem sequer se situam nos próprios ombros. Assim como ensinar o corpo a deslocar-se de uma forma eficaz implica trabalhar em exercícios que se calhar nem envolvem o próprio padrão de locomoção.
Toda esta análise é feita durante um treino, e isso cria no nosso corpo uma capacidade de resposta que o permite aguentar pressões e agressões do quotidiano que, por razões maiores, são difíceis de evitar.\\
O nosso corpo reconhece o estímulo do treino e responde de forma a estar à altura desse estímulo. Por outras palavras, se contrair um determinado músculo, este, a médio-longo prazo, fica mais forte e apto pois o corpo gerou uma mensagem que tem como objetivo responder à demanda do estímulo. Este processo de estímulo-resposta, quando feito e repetido com consistência, ao longo do tempo, transpõe-se para tudo o que fazemos durante o dia. E sem darmos por isso, uma simples posição de sentado a trabalhar no computador já não se reflete em dores e tensões excessivas, pois já ensinámos os nossos músculos a contrair de forma eficaz. Um corpo sem tensões em excesso é um corpo mais confortável e mais apto. E isto, por sua vez, liberta o caminho para que a nossa mente não se foque nas dores, mas sim nas nossas tarefas, naquilo que realmente importa.
Uma mente que se foca naquilo que importa, na execução eficaz das tarefas, alimenta uma das necessidades básicas humanas: a competência. Os e-mails serão enviados mais rapidamente, aquele relatório que surge à última hora já será feito com mais calma, a atenção à família tornar-se-á mais eficaz e agradável, os tempos de descanso serão mais bem aproveitados. Mesmo que os dias sejam os piores que já vivemos, conseguimos retirar deles o melhor.
É isto que cada aluno procura quando se compromete a reservar uma hora do seu dia para o treino, e eu, como profissional do exercício, comprometo-me a corresponder. O conforto, a sensação de competência e a procura de objetivos e metas que permitam aos meus alunos não só evoluir no próprio treino como em tudo o resto que fazem nos seus dias. A saúde mental, por sua vez, melhora significativamente.
Para mim, é isto que significa ser “parte da solução”.
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