Há muito que venho defendendo a ideia de retrocesso, muitas vezes associada à alimentação e à necessidade de uma vida (mais) saudável. As nossas avós não conheciam panrico ou panike, coca-cola ou ice tea. Tirando o facto de que havia privação e fome no tempo da Guerra e durante o Estado Novo, a ideia de adoptar uma despensa parecida com a das nossas avós procura recuperar práticas antigas, dos ingredientes sem embalagens e dos produtos não processados. Procura, igualmente, dar resposta à crescente necessidade de adoptarmos um estilo de vida mais simples porque, mesmo que teimemos em ignorar, tudo à nossa volta nos diz para parar, escutar e olhar, como fazíamos antigamente nas passagens de nível.
O nosso estilo de vida está a matar-nos, a vida desenfreada nas grandes cidades esgota-nos e os dispositivos electrónicos que nos acompanham, definindo o nosso dia-a-dia, contribuem para esse estado de permanente ocupação, como se estarmos assoberbados em tarefas nos tornasse mais eficientes ou fosse sinónimo de sucesso. Lamento: não é.
A palavra mudança está na ordem do dia, seja numa perspectiva individual, em busca de um propósito de vida, ou de grupo, relativa aos nossos comportamentos. Há uma certa urgência na mudança para evitar que sejamos consumidos pelo aparente idílio social que projectamos assente em estacas de madeira que estão, rapidamente, a apodrecer: individualmente, nunca se venderam tantos ansiolíticos e anti-depressivos como agora [ler], o stress é a doença crónica do século. A combinação dos dois factores provoca apatia, uma falta de sentimento que nos torna indiferentes a tudo o que acontece à nossa volta. Vivemos mas é como se não estivéssemos lá, sem energia e vontade, prisioneiros de algo que não sabemos identificar. Talvez esta apatia, que o uso intensivo da tecnologia tem feito crescer, explique o nosso desinteresse por aquilo que está a acontecer no planeta, num aparente descrédito pelos factos que estão à vista de todos.
“Se for só eu a fazer, não adianta” é a maior mentira que dizemos e Greta Thunberg está aí para o provar.
O mundo está triste, falta paixão, falta (re)apaixonarmo-nos pela vida para querermos fazer mais. Estamos defraudados, desiludidos, de coração partido, razão pela qual mantemos o foco na negatividade, desvalorizamos o nosso potencial e ignoramos, como diz a miúda de quem o mundo fala, que nunca somos demasiado pequenos para fazer a diferença. Greta tem discursado em diferentes assembleias e parlamentos, apresentando estimativas que prevêem o fim da nossa civilização. Baseia-se sempre em factos científicos, difíceis de refutar, a não ser pela apatia que invadiu muitos de nós.
Ingénuos como só na adolescência conseguimos ser, os jovens saíram à rua e ficou tudo na mesma, afirmou recentemente Greta Thunberg, a miúda sueca que está a inspirar o mundo a mudar. A sua presença impactante, palavras directas e mensagem simples deixam qualquer um sem resposta e os jovens continuam a fazer greves estudantis por todo o mundo para que os governantes percebam a dimensão do problema.
Resta agora actuar.
Em Portugal, os jovens vão voltar a sair à rua no dia 24 de Maio, juntando-se ao movimento internacional #SchoolStrikeForClimate, iniciado por Greta. Se vão mudar o estado das coisas? Não sei. Mas sei que também eu quero fazer a diferença, à minha maneira e à minha medida, comprando menos ou não comprando fast fashion, escolhendo produtos a granel, fazendo o meu próprio champô - porque afinal é mais simples do que parece [exemplos] -, recorrer ao vinagre de sidra para substituir o amaciador de cabelo (e resulta!), usando vinagre para limpar a bancada da cozinha evitando que a espuma e os químicos dos detergentes cheguem ao mar, mudando para uma casa energicamente mais eficiente, porque é mais pequena e com mais luz solar, mais perto dos transportes públicos que me permitem deixar o carro à porta ou implementando medidas (ainda) tão pouco habituais como a compostagem.
Se cada um de nós adoptar, pelo menos, uma destas medidas, não me digam que não vale a pena…
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