O speaker do Parlamento Britânico não vai permitir que a terceira votação do acordo do Brexit seja votada se for igual à que foi chumbada duas vezes. Isto poderá levar a um adiamento que pode até fazer com que o Reino Unido venha a participar nas Eleições Europeias de Maio. O que seria uma espécie de jantar de anos da namorada com a qual acabámos durante a tarde. Ainda é suposto ir, por uma questão meramente formal e burocrática, mas na verdade ninguém te quer realmente lá. Em princípio, se abrires a boca para dizer o que quer que seja sobre a vida dela durante o jantar, serás agredido. Por outro lado, alimenta a ideia de que, mais tarde ou mais cedo, poderá ter lugar uma reconciliação.
John Bercow, o speaker, ficou conhecido pela compilação de gritos autoritários de “order!”. Fui descobrir mais intervenções do senhor, que impressionam pela incrível desenvoltura, vocabulário, dicção e pela piada. É um “remainer”, pelo que está agora a ser acusado de parcialidade, por ter ido desenterrar uma convenção do século XVII que alegadamente impede a apresentação repetida de moções iguais. De facto, Theresa May parece uma criança do banco de trás do carro, que em vez de berrar “já chegámos?”, “já chegámos?”, “já chegámos?”, insiste em “já saímos?”, “já saímos?”, “já saímos?”.
Não é a primeira vez que John Bercow é acusado de parcialidade em relação à questão do Brexit. Há uns tempos, um deputado do Partido Conservador acusou o speaker de pôr em causa a sua independência, uma vez que andava com um autocolante que gozava com o Brexit no vidro traseiro do carro. John Bercow disse que o carro era da mulher, com um sarcasmo essencial para não vermos a resposta como desculpa esfarrapada. Isto dificilmente passaria incólume no Parlamento português, onde é mais difícil pôr as culpas na mulher porque em princípio também trabalha lá.
O Brexit é uma confusão, mas, por muito trágica que seja a situação, a ironia daquela ilha sobreviverá. A húbris de Theresa May tem sido notável neste processo - e também a capacidade de os ingleses se rirem disso mesmo. Bercow tem ajudado nesse aspecto e talvez valha mais a pena uma crise política com protagonistas hilariantes, do que uma calmaria institucional com personagens monótonas.
Recomendações
Comentários