A pergunta também se coloca com o nome de Mélenchon: ele pode vir a ser eleito presidente da França? Provavelmente, se fosse eleito, Mélenchon até teria como presidente da França o perfil mais de monarca. Tenderia a ser, como Mitterand foi nos anos 80 do século XX, um rei republicano, das esquerdas.
Todos sabemos que há 11 candidatos nesta eleição e que apenas quatro juntam apoios que os colocam na área de photo finish com possibilidade de triunfo. Le Pen e Mélenchon, para além de Macron e Fillon formam esse quarteto de possíveis ganhadores.
Sim, o cenário de Présidente Le Pen ou de Président Mélenchon, existe. Não é o mais provável, mas não é uma impossibilidade matemática. A abstenção e o voto táctico tendem a ter grande expressão na primeira volta desta eleição e uma carambola desse efeito até pode levar que no decisivo dia 7 de maio os franceses venham a ter de escolher presidente entre Le Pen e Mélenchon. É pouco provável que assim venha a ser, mas há alguma possibilidade de acontecer.
O resultado mais provável do voto francês é a eleição de Emmanuel Macron, que a seguir governará na área do centro-esquerda e a puxar pelo relançamento da União Europeia. Se Macron ficar hoje apurado para o duo de finalistas de 7 de maio, torna-se altíssima probabilidade, uma quase certeza, que Macron venha a ser o próximo presidente.
Para Macron, o maior obstáculo é a dispersão de votos na primeira volta. É isso o que faz da votação de hoje a mais imprevisível e também crucial eleição francesa.
Seja qual for o resultado, vai acontecer uma revolução na paisagem política francesa: o PS, após cinco anos em que acumulou a presidência (Hollande) e a chefia do governo (Ayrault, Valls, Cazeneuve) caiu para estado ruinoso; o partido Les Républicains, herdeiro da direita clássica com tradição gaulista, confronta-se com uma crise se Fillon vier a perder esta eleição - e Fillon só aparece com possibilidade de conseguir a eleição num cenário de duelo final todo à direita, Le Pen/Fillon, que já foi o mais plausível mas que se tornou improvável.
Outra certeza: Marine Le Pen, mesmo que hoje fique eliminada, vai continuar a crescer. A Frente Nacional, fundada pelo pai Le Pen, em 35 anos, passou da insignificância de 0,18% dos votos em 1981 para o partido mais votado, com 6,8 milhões de votos (30%) nas eleições regionais de 2015. A escalada do partido da família Le Pen tem sido constante.
Apenas a conjugação de dois factores tem barrado o acesso dos Le Pen aos lugares de poder executivo em França: é o sistema eleitoral proporcional que selecciona nas segundas voltas exclusivamente os dois candidatos mais votados, e a alergia que a maioria dos franceses continua a ter às ideias políticas de Le Pen. É a barreira que torna altamente improvável que Marine Le Pen saia desta eleição como a primeira mulher presidente da França.
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