Todos nós temos sentimentos totalmente irracionais. O meu maior é sentir um orgulho imenso em ter nascido e vivido grande parte da minha vida em Setúbal. Emigrei em 2016 e apresento-me sempre como Setubalense, em primeiro lugar, e como português, em segundo. E apesar de irracional, na medida em que nada fiz para merecer o direito de pertencer a este grupo restrito de fortunados que são os Setubalenses, rapidamente entendi que esta lógica assentava na relação existente entre Setúbal e Portugal.

Desde pequeno que me lembro de Setúbal ocupar um espaço muito pouco mediático na comunicação social portuguesa. Mesmo quando mencionada, a cidade do Rio Azul encontrava-se sempre associada com os títulos e destaques mais negativos. Desde as crises diretivas e financeiras do Vitória Futebol Clube, às lutas sindicais dos estivadores que, ano após ano, reclamam por melhores condições laborais, passando ainda pelos protestos não menos frequentes dos habitantes do Bairro da Bela Vista que ocasionalmente levantam a sua voz para se revoltarem contra as condições verdadeiramente degradantes em que vivem há anos a fio.

Nas últimas semanas, contudo, Setúbal tem sido um dos centros urbanos mais observados nestas eleições autárquicas que se aproximam. A cidade Vermelha, Comunista e revolucionária (recordo-me de visitar a ilha da Madeira nos anos da minha adolescência e de ser interpelado por um taxista que, quando soube que vinha de Setúbal, perguntou à minha mãe se era realmente necessário apresentar um “Passaporte Vermelho” para entrar em Setúbal) volta a estar na boca de todos os analistas políticos que fazem previsões a uma escala nacional quanto a uma potencial mudança de cor política da Câmara Municipal desta cidade esquecida.

A resposta para Setúbal tem de passar por alargar a economia circular existente na cidade. Apesar do crescimento do sector turístico, Setúbal ainda se encontra demasiado dependente dos seus cidadãos, especialmente no que ao sector dos serviços diz respeito. Por outro lado, o saudosismo e as ilusões de que Setúbal pode aspirar a ser a “Terceira cidade do país” são completamente desfasadas da realidade. Quem visita Braga, Leiria, Aveiro, Coimbra entende que Setúbal não acompanhou o crescimento e desenvolvimento destes centros urbanos. Se a proximidade a Lisboa coloca inúmeros desafios, também são inúmeras as oportunidades que se encontram por explorar.

Um recente estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística, onde os diversos Concelhos portugueses são ranqueados consoante o seu salário mediano, Setúbal apresenta-se num invejável 13.º lugar. O crescimento de Setúbal desde o 25 de Abril é inegável, apesar de alguns candidatos nos quererem convencer do contrário. Setúbal é hoje uma cidade com um centro rejuvenescido, não só na apresentação do seu património histórico, como também na revitalização da zona ribeirinha. No entanto, estes importantes desenvolvimentos, apesar de meritórios, já o eram necessários e essenciais há duas décadas.

A falta de oportunidades para a sua população mais jovem, e cada vez mais qualificada, continua a obrigar os seus filhos a apostar em desafios fora da cidade que os viu crescer. A grande bandeira eleitoral do próximo edil da cidade Setubalense tem de passar por enfrentar os grandes desafios que continuam a impedir que Setúbal se assuma como um centro urbano relevante e atrativo no panorama nacional.

Permitir que o turismo seja uma fonte de rendimento dos seus habitantes, sem que Setúbal perca a sua tão invejável genuinidade e autenticidade, é essencial. A gentrificação verificada noutros centros urbanos portugueses deve ser prevenida na cidade de Setúbal e, uma vez mais, os diferentes candidatos autárquicos deveriam apresentar soluções para este problema que parece afetar as diferentes cidades do país que têm tido um crescimento exponencial do seu setor turístico.

Garantir investimentos para o desenvolvimento do empreendedorismo local, não só para garantir que a sua população desenvolva a sua atividade profissional na cidade, mas para permitir que a criação de um verdadeiro senso de comunidade, é igualmente fundamental. Ou seja, que os Setubalenses possam habitar, trabalhar e viver na cidade.

Setúbal não é a melhor cidade do mundo. Mas, para um Sadino, não há melhor cidade no mundo que Setúbal. Ensinam-nos as gentes de Setúbal, em forma de expressão local que “Setúbal é uma excelente madrasta, mas uma péssima mãe”. Cabe ao próximo Presidente da Câmara Municipal de Setúbal inverter esta tendência e proteger o património mais importante da cidade, os Setubalenses.

[*correção às 16:21 de 25/09]