O preconceito histórico relativo aos indivíduos que se identificam como mulheres lésbicas (L), homens gays (G) ou mulheres e homens bissexuais (MB e HB) conduz à discriminação por estereótipos negativos na interação em contextos sociais e culturais.
A tomada de consciência da orientação sexual e a sua revelação aos outros denomina-se de processo de Coming Out, um processo contínuo, com início na adolescência, podendo ser uma autodescoberta sexual simples ou um processo complexo e emocionalmente negativo, determinado pelo ambiente em que o indivíduo está inserido.
Este processo de Coming Out implica um conjunto de etapas, por vezes com percursos de ‘ida’ e ‘vinda’ (vários comes e outs), desde a ‘saída do armário’ até à persistência em continuar ‘no armário’, mesmo que a orientação sexual LGB já tenha sido assumida.
E como era "sair do armário" há 50 anos?
A dissertação de mestrado intitulada “Coming Out e Envelhecimento Bem Sucedido em mulheres Lésbicas, homens Gays e mulheres e homens Bissexuais com 55+ anos em Portugal: um estudo misto”, desenvolvida na Universidade de Aveiro, pelo autor Manuel João Monteiro Barbosa, sob a orientação científica da Professora Doutora Margarida de Melo Cerqueira, Professora Adjunta da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, CINTESIS.UA (Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde) e coorientação científica do Professor Doutor Henrique Marques Pereira, Professor Associado com Agregação do Departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior, Centro de Investigação em Ciências da Saúde e do Research Center in Sports Sciences, Health Sciences and Human Development, teve o propósito de contribuir para o conhecimento sobre este processo nesta faixa etária, quer no domínio académico, quer no domínio público, revestindo-se de uma natureza exploratória e pioneira em Portugal. Este estudo, contou com uma amostra não-probabilística, por conveniência, constituída por 43 pessoas, com idade média de idade de 61 anos.
Nos relatos, destaca-se o sentimento de "repressão" associado ao processo de Coming Out, uma vez que viveram a sua adolescência no período do Estado Novo, um período histórico onde não se podia assumir uma sexualidade não heteronormativa por medo de rejeição e perseguição, internalizando os estereótipos negativos que a sociedade impunha. Alguns demoraram muitos anos a ‘sair do armário’ e dizem sentir-se parte da última geração que teve que passar a juventude escondida, aqueles para quem a oportunidade de assumir publicamente a sua identidade sexual só se proporcionou no final da idade adulta.
Quando surgiram os primeiros estudos nesta temática, no início do século XXI, a comunidade LGB mais velha era ‘invisível’. A percepção geral é de que nos últimos anos o processo de Coming Out foi facilitado muito devido ao trabalho realizado pelos movimentos associativos da comunidade LGB, que têm vindo a delinear um caminho para que esta temática deixe de ser tabu e receba uma maior atenção por parte dos profissionais da área social e da saúde (e.g. educadores sociais, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros, médicos, entre outros).
Não há, todavia, um consenso sobre a forma como este processo de reconhecimento privado e público da sexualidade é vivido, e sobre os fatores que esta experiência influencia, bem como sobre a prevalência de comportamentos de risco associados. O processo de Coming Out é diferente de indivíduo para indivíduo, e muito determinado pelo contexto socioeconómico onde decorre.
É portanto fundamental realizar de mais estudos nos domínios LGB com pessoas mais velhas em Portugal, dado que a literatura não é clara sobre o que constituem as melhores praticas e medidas sobre a praxis de gestão direta de serviços sociais e de saúde direcionados à população em estudo.
Esta análise mais profunda pode contribuir não só para o conhecimento académico, mas também como ponto de partida para o desenvolvimento de boas práticas para os profissionais que trabalhem, de forma direta ou indireta, na área da Gerontologia Aplicada.
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