A esperança está agora numa palavra difícil de dizer

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

A história de hoje tem tudo aquilo que o mundo quer e que precisa de ouvir sobre a pandemia: existe algo no mercado que é eficaz, barato e reduz a probabilidade de morte pela covid-19.

A Universidade de Oxford anunciou esta terça-feira um estudo que dá conta do primeiro medicamento com resultados positivos para tratar os doentes infetados com a covid-19. O seu nome: dexametasona.

O que é e o que faz? É um corticoide que reduz infeções e é utilizado no tratamento de doenças como a artrite reumática ou a asma. E, hoje, é visto como sinal de esperança no Reino Unido — e no mundo.

O estudo ainda não foi revelado na sua totalidade (será publicado em breve), mas já se sabe que se tratou de "um teste grande e rigoroso" que durou 28 dias e envolveu de forma aleatória mais de dois mil pacientes — que tomaram o medicamento via oral ou intravenosa.

Depois, os resultados foram comparados com 4.321 pacientes que receberam apenas os cuidados "normais". Isto é, houve um grupo em ambiente controlado que tomou o medicamento e outro não.

O resultado?

Reduziu as mortes em 35% nos doentes que precisavam de tratamento com aparelhos respiratórios e em 20% naqueles que precisavam apenas de oxigénio suplementar. Segundo o líder do estudo, Peter Horby, da Universidade de Oxford, isto cobre cerca de 75% dos pacientes hospitalizados que reduziram "a sua mortalidade ao usarem este medicamento". Há apenas um senão: o medicamento parece ser pouco eficaz nos doentes que não são fortemente atacados pelo novo coronavírus.

Os resultados positivos levaram mesmo o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a considerar que este terá sido "o maior avanço" na luta contra a covid-19 até agora. Tanto que já afirmou, em conferência de imprensa, que haverá dexametasona para todos: "A dexametasona pode ser agora disponibilizada no NHS [Serviço Nacional de Saúde]. Tomámos medidas para garantir que temos stock suficiente, mesmo em caso de um segundo pico".

Em comunicado, a Organização Mundial da Saúde (OMS), revelou que esta "é uma ótima notícia" e felicitou "o Governo do Reino Unido, a Universidade de Oxford e os muitos hospitais e doentes que contribuíram para este avanço científico que salva vidas".

Porém, não se pense que se trata de um medicamento novo. A dexametasona tem sido utilizado desde os anos 60 e está na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS desde 1977.

À RTP, questionado sobre o estudo, o pneumologista Agostinho Marques salientou que a utilização de corticoides — e neste caso em concreto a dexametasona — é um tratamento "certo", mas não é "surpreendente". "Os corticoides foram largamente utilizados no início, nomeadamente, em Portugal. Não tínhamos era a certeza absoluta da sua eficácia", rematou.

Porém, a esperança hoje não veio só em forma de um medicamento dos anos 60. Chegaram notícias daquilo que o mundo realmente precisa: mais uma vacina promissora contra a covid-19. Há uma abordagem inovadora em desenvolvimento por cientistas da universidade britânica Imperial College London, que vai iniciar esta semana testes clínicos em humanos com o objetivo de ter um produto final em 2021.

"Se a nossa abordagem funcionar e a vacina fornecer uma proteção eficaz contra doenças, poderá revolucionar a forma como responderemos a surtos de doenças no futuro", vincou um dos autores do estudo.

Os investigadores esperam publicar os resultados assim que os dados dos testes estiverem disponíveis. A visão é de que possa haver uma vacina viável disponível na primavera de 2021.

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