Entre Trump e Biden, a grande discussão é a idade. O que se passa nos EUA?

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

O presidente dos Estados Unidos retomou este domingo a campanha, desesperado para salvar a sua candidatura à reeleição, enquanto líderes democratas se reúnem para discutir os apelos cada vez maiores para que Joe Biden abandone a corrida pela Casa Branca.

Como foi o dia de hoje?

Biden, de 81 anos, esteve na igreja pentecostal de Mt Airy, em Filadélfia, frequentada principalmente por afro-americanos, como parte de dois eventos de campanha no estado da Pensilvânia, antes de ser o anfitrião da cimeira de líderes da NATO em Washington.

"Sei que não tenho 40 anos", declarou na igreja, numa breve alusão ao debate sobre a sua capacidade de continuar no governo.

"Somos todos imperfeitos", acrescentou, referindo-se à necessidade de "unir novamente" os Estados Unidos. "É o meu objetivo. É o que vamos fazer", afirmou, enquanto os presentes gritavam "mais quatro anos".

Porquê os apelos à desistência?

Biden enfrenta uma pressão cada vez maior para deixar a disputa após a sua desastrosa participação no debate contra Donald Trump a 27 de junho.

Entretanto, o presidente norte-americano assumiu total responsabilidade pelo desempenho amplamente criticado no debate televisivo com Donald Trump.

Na primeira entrevista após o debate, concedida na sexta-feira ao apresentador da televisão ABC News George Stephanopoulos, ex-diretor de comunicações da Casa Branca, Biden assumiu que teve uma má noite contra o rival republicano, Donald Trump, mas assegurou não haver "nenhuma indicação de qualquer condição séria" em relação às suas capacidades.

"Foi um mau episódio, nada sério. Eu estava exausto. Não dei ouvidos aos meus instintos. (...) A culpa foi exclusivamente minha, de mais ninguém", justificou.

Questionado sobre se tinha visto o debate posteriormente, o presidente respondeu: “Acho que não vi. Não".

O debate de 27 de junho expôs fragilidades físicas e mentais do chefe de Estado norte-americano, de 81 anos, o que levou vários membros do Partido Democrata a equacionar uma mudança de candidato às eleições presidenciais deste ano.

A Casa Branca justificou a má prestação do presidente com um resfriado, cansaço acumulado e 'jet lag', uma vez que Biden tinha regressado de uma série de viagens à Europa.

Na entrevista, Biden afirmou que "ninguém está mais qualificado" do que ele "para ser presidente ou para vencer a eleição”, rejeitando assim os apelos para abandonar a corrida à Casa Branca. O chefe de Estado referiu-se ainda ao antecessor e rival republicano como um "mentiroso patológico".

Numa outra entrevista, o presidente voltou a baralhar-se, confundindo a sua vice, Kamala Harris, com o seu próprio mandato enquanto vice-presidente de Barack Obama.

E Biden pensa em desistir?

Questionado sobre se renunciaria à recandidatura caso se convencesse que não conseguiria derrotar Trump, o Presidente disse que só o faria a mando do "Senhor Todo-Poderoso".

“Se o Senhor Todo-Poderoso descesse e dissesse 'Joe, sai da corrida' eu sairia da corrida. O Senhor Todo-Poderoso não vai descer", afirmou.

Quem pede que Biden se retira da corrida presidencial?

O presidente tem-se mantido desafiador e afirma ser o único capaz de derrotar Trump. Mas, até agora, cinco congressistas democratas pediram que Biden se retire da corrida eleitoral — e a tendência só aumenta.

Este domingo, dois parlamentares democratas não pediram explicitamente a desistência de Biden, mas alertaram que este ainda precisa de conquistar os eleitores preocupados com a sua idade.

"Existe apenas um motivo para a corrida entre Trump e Biden estar acirrada, e é a idade do presidente", disse o deputado Adam Schiff ao programa "Meet the Press", da emissora NBC.

Enquanto alguns especulam que Biden poderá deixar os próximos dias de campanha nas mãos da vice-presidente Kamala Harris, Schiff acrescentou: "Acredito que ela poderia muito bem vencer de forma esmagadora".

Já o senador democrata Chris Murphy afirmou que "o presidente precisa de fazer mais", incluindo eventos não programados, como reuniões municipais, para garantir aos eleitores que ainda possui a acuidade mental e a aptidão física necessárias para um segundo mandato.

"Esta semana será absolutamente crítica", disse Murphy ao programa da CNN, "State of the Union".

Quais os próximos passos na campanha?

A primeira-dama Jill Biden, que, segundo alguns relatos dos meios de comunicação, está a incentivar o seu marido a continuar na corrida, planeia fazer campanha na Geórgia, Flórida e Carolina do Norte na segunda-feira.

No entanto, após os comícios deste domingo em Filadélfia e em Harrisburg, o presidente vai precisar de se afastar da campanha para participar na cimeira da NATO, que começa na terça-feira.

Durante o encontro, Biden também terá de tranquilizar os seus aliados, num momento em que muitos países europeus temem uma vitória de Trump em novembro.

O republicano de 78 anos critica há muito tempo a NATO como um fardo injusto para os Estados Unidos, elogiou o presidente russo Vladimir Putin e insistiu que poderia terminar rapidamente a guerra na Ucrânia, invadida por Moscovo em fevereiro de 2022.

Até agora, os "pesos pesados" democratas têm mantido sob controlo qualquer descontentamento latente com o seu líder, pelo menos em público.

Contudo, faltam apenas quatro meses para o dia das eleições — e qualquer movimento para substituir Biden como candidato deverá ocorrer mais cedo ou mais tarde. Enquanto isso, para o presidente e para a sua equipa de campanha, a estratégia parece ser aguentar a situação.

Por isso, foi apresentado um plano intenso para julho, incluindo uma enxurrada de anúncios televisivos e viagens a todos os estados-chave.

A agenda inclui uma visita ao sudoeste do país durante a convenção republicana de 15 a 18 de julho, onde Trump será oficialmente indicado como o candidato presidencial do partido.

*Com agências

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