O que são Acelerated Mobile Pages, conhecidas simplesmente como AMP? Na prática são a resposta do Google à ferramenta Instant Articles do Facebook. Ou seja, de forma muito resumida, uma ferramenta que permite carregar páginas de sites nos dispositivos móveis muito mais depressa. Porque é que isto é relevante? Porque 40% dos utilizados desiste de consumir um conteúdo online se a página demorar mais de 3 segundos a carregar. Menos leitores, menos audiência, menos receita.
Agora imagine que a página de um site de informação que normalmente leva 2,35 segundos a carregar (mais 13 segundos adicionais para a publicidade, principal fonte de receita dos grupos de media) passa a carregar em 168 milissegundos. É possível, e foi esta experiência que Björn Beth, responsável de SEO do grupo Ringier (que detém o tabloide suíço Blick), veio partilhar na Digiday Publishing Summit Europe que teve lugar no Estoril, entre 21 e 23 de fevereiro, e que juntou mais de 200 representantes de grupos de comunicação de todo os mundo, desde a BBC, passando pela CNN, até à Bloomberg ou à Condé Nast.
A ferramenta do Google foi lançada em fevereiro de 2016 e o mercado encontra-se dividido: se por um lado o impacto na audiência é manifestamente positivo, por outro as marcas estão preocupadas com as limitações da própria plataforma, quer ao nível dos formatos de publicidade que suporta, quer ao nível da capacidade de passar marca.
"Algo que as publicações não fazem com regularidade: colocar-se no lugar do utilizador."
Em declarações ao SAPO24, Brian Braiker, editor executivo da Digiday - que detém uma publicação online sobre media e marketing - disse que as AMP e os Instant Articles são “apenas uma forma de convencer as publicações a ceder conteúdo, (…) é outra forma de Facebook e Google se meterem entre os leitores e as publicações”, considera.
Björn Beth, do grupo de media suíço Ringier, tem outra opinião: recusa-se a ver o Google como um inimigo e encara as AMP como mais uma forma de distribuir conteúdo, algo que deve ser aproveitado em toda a linha, e é isso que está acontecer no grupo que integra.
“É algo que as publicações não fazem com regularidade: colocar-se no lugar do utilizador. (…) se tudo carregar depressa é uma boa experiência para o utilizador”, diz. Considerando o Google incontornável, o responsável de SEO defende que “para atrair mais tráfego através do Google é preciso inovar com o Google”, diz ao SAPO24.
E, de facto, nos últimos quatro meses, a Ringer tem trabalho para integrar o conteúdo noticiosos de desporto e de entretenimento nas AMP e Björn Beth explica como: “o que fizemos foi incluir a ferramenta [AMP] dentro do nosso sistema de gestão de conteúdo [backoffice]. Quando um jornalista cria um artigo, por defeito é criada de forma automática uma versão para AMP”. Os AMP representam já 800 mil pageviews por mês no Blick e a expectativa é que este valor aumente de forma significativa.
“Dentro de quatro semanas teremos 50% do nosso tráfego [em dispositivos móveis] através de AMP e 50% através de mobile [versão do site para dispositivos móveis]”, disse o responsável de SEO quando fez a apresentação da estratégia da Ringer durante a Digiday Publishing Summit Europe, adiantando que, contrariamente a sites da concorrência, a opção é colocar tudo em AMP e não apenas aproveitar as AMP para depois redirecionar o tráfego para a versão mobile ‘normal’ da publicação (o que implica, por exemplo, selecionar artigos específicos para a versão AMP e colocar nesses textos vários links que são usados como portas de entrada para versão tradicional do site para dispositivos móveis).
E a aposta parece, em termos financeiros, estar a compensar. Beth estima, escreve o Digiday, que estejam a ser gerados com os AMP 50.000 francos suíços (cerca de 47 mil euros, ao câmbio atual) por mês com as AMP.
Ao fazer esta incursão, conta Beth, a Ringier fez questão que a sua versão de AMP fosse trabalhada de forma a suportar vídeos, galerias de fotos e botões de partilha nas redes sociais.
“Apesar das AMP serem restritivas do ponto de vista da tecnologia, é um projeto open source [código aberto] e podem fazer-se recomendações. Se [as publicações] trabalharem de perto com o Google - e não se vir o Google como inimigo como muitos fazem - penso que tudo é possível”, considera Beth.
No que toca à gestão de publicidade dentro dos AMP, explica Beth, “temos o nosso servidor de publicidade integrado nas AMP, portanto, toda a publicidade está a vir do nosso servidor”.
Confrontado com o facto de não ter controlo sobre a ferramenta em si - nem mesmo se ela um dia vir a ser descontinuada, o responsável disso ao SAPO24: “Se as AMP acabarem, tens o teu site normal a funcionar, portanto as AMP são apenas um novo canal para distribuir o conteúdo existente”.
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