"Que Europa é esta que não incentiva a difusão do que cada país faz?"
A pergunta é de Álvaro Covões, promotor e empresário nacional, e é-nos feita, em conversa, pouco depois do painel que o juntou a João Gil, da iniciativa Portugal Muito Maior, no painel que abriu a décima edição do MaMA — Festival & Convention, em Paris.
"Neste capítulo dos concertos ao vivo, dos festivais, da música que passa nas rádios, ainda há uma predominância anglo-saxónica", critica.
Apesar de assumir que este "é um fenómeno mundial", lamenta o facto de não haver uma estratégia europeia de divulgação da cultural interna. "A Europa está sentada, não faz nada para divulgar a música que os países membros fazem", diz.
"Chegamos a Espanha e a música espanhola tem muita força, a par da anglo-saxónica; chegamos a Portugal e a música portuguesa tem muito sucesso, a par da anglo-saxónica".
"Os ingleses encaram a música ou o cinema como uma indústria. E, portanto, o governo tem por missão vender. Já me convidaram, por várias vezes, para ir ver bandas novas porque sou um importador", conta.
Álvaro Covões faz, no entanto, questão de frisar que não tem nada contra a música anglo-saxónica — "como é óbvio". "Mas não deixa de ser estranho porque é que não incentivamos mais a troca de experiência e o fomento de espetáculos de artistas portugueses na Dinamarca, na Noruega, mais em Espanha, e vice-versa. Não dá para perceber como é que não conseguimos isso".
Este é um tema que, diz, mais do que nunca é "relevante". Seis letras justificam-no: Brexit. "Se o Brexit se concretizar, isso significa que a Europa não vai ter música anglo-saxónica no seu seio. Alguma coisa se deveria fazer".
Com alguma coisa quer dizer a existência de uma estratégia, "da mesma forma que o faz para cinema". O empresário português considera que "não existem grandes apoios nem uma estratégia" para a música na Europa comunitária. Porque, diz confiante, "há muito talento em todos os países e nós não o conhecemos".
E mais uma pergunta: "Se eu lhe perguntar quantas bandas alemãs conhece, talvez digam-me apenas três nomes e fica por aí". Mas, contrapõe, " se formos falar de bandas saxónicas nunca mais nos calamos".
O que deve então ser feito? — e desta vez a pergunta é nossa. "É preciso fomentar, divulgar e apoiar iniciativas. Numa fase inicial tem de se dar apoios" — "até mesmo criar festivais europeus", propõe. "De início obviamente não iria vender muitos bilhetes, o NOS Alive com só bandas da Europa ocidental ia ter dificuldade em vender 55 mil bilhetes [diários]", salienta. "Mas ainda neste ano tivemos duas bandas espanholas de primeira linha; e temos uma parceria com o Mad Cool em que todos os anos trocamos uma banda e temos um bilhete comum. Isso é uma forma de criar intercâmbio", exemplifica.
Aproveitando a referência ao NOS Alive, que já tem o seu espaço no mercado europeu de festivais, questionamos Álvaro Covões sobre os desafios do evento que já vai para a 14.ª edição. "Como tudo na vida, quando se atinge um determinado patamar, o grande desafio é manter os dois pés assentes nesse patamar. Esse é que é o desafio e essa é que é a grande dificuldade. Porque há concorrência, não só interna como externa".
"É um desafio muito grande conseguir manter esse patamar. Por isso temos de investir mais, que é o que tem acontecido, todos os anos aumentamos o nosso orçamento. Acho que atingimos a Liga dos Campeões, e estamos no roteiro nos grandes artistas que fazem os grandes festivais europeus, portanto agora é conseguir manter". "E manter não é fácil", remata.
(A jornalista esteve no MaMA Festival & Convention, em Paris, a convite da JUMP – European Music Market Accelerator.)
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