A exposição, que abre ao público esta sexta-feira e que encerra a 28 de janeiro do próximo ano, no edifício da Monnaie de Paris, cruza a noção do género feminino com o espaço doméstico, pretendendo mostrar que "não é uma fatalidade" a "evidência histórica" de que "a arquitetura e o espaço público foram masculinos, enquanto o espaço doméstico foi muito tempo o das mulheres".
"Esta casa-mulher é um refúgio, uma prisão ou pode ser um local de criação? As artistas desta exposição agarram neste tema complexo e, através dele, recolocam a mulher no centro da história da arte e da arquitetura em que esteve ausente e/ou vítima", escreveram no catálogo de "Women House", as comissárias Camille Morineau e Lucia Pesapanne.
As três artistas portuguesas selecionadas figuram entre 39 nomes dos séculos XX e XXI, como Louise Bourgeois, Claude Cahun, Cindy Sherman, Niki de Saint Phalle, Martha Rosler, Mona Hatoum e Rachel Whiteread, com expressões mais recentes de Pia Camil (México), Nazgol Ansarinia (Irão), Isa Melsheimer (Alemanha) e Laure Tixier (França), entre outras.
Da portuguesa Ana Vieira (1940-2016), a exposição escolheu a obra "Sala de Jantar" (1971) da série "Ambientes", uma estrutura metálica com um véu de nylon que reproduz uma sala onde estão pintados objetos do espaço doméstico, como cadeiras e armários, e na qual o espetador não pode entrar.
A peça está em destaque na secção "Construire c'est se construire" ["Construir é construir-se"], que evoca os anos 70 quando "as artistas se rebelaram contra a privação do espaço real - o espaço de trabalho - e o simbólico - o do reconhecimento", colocando, através das suas obras, "a mulher no centro de uma história da arte da qual esteve ausente".
Esta secção conta com apenas duas obras: a instalação de Ana Vieira e uma escultura da italiana Carla Accardi, "duas artistas que construíram obras que podem ser consideradas como manifestos destes anos, ainda que tanto uma como a outra tenham tardado a serem reconhecidas pelos historiadores de arte".
"A sala de jantar da artista portuguesa Ana Vieira parece-nos simultaneamente familiar e estranha", lê-se no catálogo da exposição, que completa: "Esta obra coloca em cena os clichês de um espaço burguês onde o rigor que determina a disposição dos objetos é igualado pela sua opressora banalidade".
De Helena Almeida foram escolhidas quatro fotografias de 1977, "Estudo para dois espaços", que são apresentadas na secção "La maison, cette blessure" ["A casa, esta ferida"], na qual "as artistas revelam e afrontam os limites do seu espaço, tanto físico quanto psicológico".
"Helena Almeida, artista portuguesa, dá conta de um sentimento de prisão ao colocar a sua mão em portões metálicos de casas. As suas fotografias simbolizam o isolamento do país sob a ditadura portuguesa que reprimiu o país até 1974", continua o catálogo.
Para a secção "Maison de Poupée" ["Casa de boneca"], inspirada na peça homónima de Henrik Ibsen (1879) - que teve um forte eco nos primeiros movimentos de emancipação feminina no final do século XIX - a exposição conta com a escultura em ferro forjado em forma de bule de chá, "La Theiére", de Joana Vasconcelos (2010).
A peça, que esteve exposta no Palácio de Versalhes em 2012 e que é inspirada em "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll, vai ficar num dos pátios do edifício da Monnaie de Paris, situada entre a Ponte das Artes e a Ponte Nova (Pont Neuf).
"Women House" é organizada pela Monnaie de Paris, em colaboração com o National Museum of Women in the Arts (NMWA), de Washington, nos Estados Unidos, seguindo depois para o NMWA onde vai estar exposta a partir de 08 de março de 2018.
Comentários