O cenário foi traçado pelo presidente do conselho diretivo do ICA, Luís Chaby Vaz, em entrevista à agência Lusa, numa altura em que cumpre um ano no cargo, numa fase de transição em que o instituto avaliará o plano estratégico 2014-2018 e prepara o próximo, a iniciar em 2019.
“Do processo de formação de públicos até à conservação fílmica, encontramos fragilidades em tudo. Em toda a cadeia de valor encontramos muitos pontos de intervenção e pontos a melhorar. Daí que, o processo de revisão estratégica vá ser tão desafiante”, afirmou Luís Chaby Vaz.
Sobre esse plano estratégico, o presidente do ICA quer ter metas e mecanismos objetivos que permitam perceber “se as políticas públicas estão a ter efeito ou não”.
E deu exemplos: O ICA que ter uma forma de avaliar como é que se podem aumentar “quotas de consumo de filmes portugueses”, ou impulsionar o aparecimento de novos realizadores e aumentar o número de salas disponíveis para exibição, perante uma rede nacional assimétrica.
O instituto terá seis meses para “envolver todo o setor e todo o país”, criar grupos de trabalho e definir as linhas orientadoras.
Um dos eixos deverá passar pelo plano internacional, não só para uma maior divulgação externa da produção portuguesa, mas também para mostrar Portugal como um território atrativo para nele investirem.
A propósito do sistema de benefícios financeiros para produtoras estrangeiras que queiram filmar em Portugal, Luís Chaby Vaz revelou que este ano o ICA recebeu pedidos para dez projetos, oriundos de países como Espanha, França, Bélgica, Índia e Alemanha. E há a expectativa de que os Estados Unidos também se interessem por filmar em território nacional.
Em maio, durante o festival de Cannes, já tinha sido anunciado que o norte-americano Ira Sachs irá rodar o próximo filme em Portugal, com o produtor Luís Urbano, e que a produtora Pandora da Cunha Telles vai trabalhar com o cineasta afegão Atiq Rahimi.
Em coordenação com esta estratégia internacional, está em curso a criação de uma ‘film commission’ nacional, que terá uma equipa própria dentro do ICA, e se coordenará com as estruturas locais e regionais existentes no país. A ‘film commission’ terá um responsável, ainda não escolhido, e Luís Chaby Vaz não avança datas.
“Não basta ser uma cara que saiba vender os principais destinos turísticos, porque as rodagens não passam exatamente por aí. Não interessa vender sol, golfe, praias. Interessa vender as características próprias do setor e, do ponto de vista patrimonial, apresentar soluções práticas para os problemas que são levantados”, explicou.
O presidente do ICA não tem quantificado o valor do impacto dessa maior abertura do país ao estrangeiro. “Se aparecer um património português num filme de James Bond, quanto é que isso vale? Não faço ideia, mas valerá qualquer coisa”.
No essencial, Luís Chaby Vaz quer o que os seus antecessores também apontaram como meta: “Reforçar a capacidade económica de toda uma indústria que todos identificamos como muito frágil”, “dar mais emprego a mais pessoas”.
Olhando para dentro, o presidente do ICA diz que tem o setor “a trabalhar de forma conjunta”, ao fim de vários meses em que o Ministério da Cultura foi duramente criticado por causa da nova regulamentação legislativa, e cuja aprovação levou a um atraso na abertura dos concursos de apoio financeiro.
“É um setor muito apaixonado e obriga-nos a ter permanente noção de que estamos sempre a aprender com as visões de cada um. Temos de manter uma preocupação constante para cobrirmos diversas áreas”, considerou.
Em 2017, as salas de cinema receberam 15,6 milhões de espectadores, que geraram 81,6 milhões de receitas de bilheteira. Das 372 longas-metragens estreadas em 571 salas, os portugueses preferiram o cinema norte-americano. Os filmes portugueses estreados em sala em 2017 foram vistos por 408.104 espectadores, segundo os dados estatísticos compilados pelo ICA.
Luís Chaby Vaz recusa-se a comparar dados em termos absolutos. “O número médio de espetadores de produção norte-americana é de 24 por sessão e o número de espectadores do cinema português dá uma média de 21 por sessão. É muito divertido e dá uma noção muito diferente do que é a realidade”.
“E põe em cima da mesa, para análise, outros fatores que não apenas o dos conteúdos e do afastamento dos públicos relativamente ao tipo de cinema que é produzido em Portugal. Põe em cima da mesa questões de distribuição, de exibição, de prolongamento da exibição de alguns projetos, da capacidade de produção e fidelização de públicos”, resumiu.
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