Lembro-me exatamente do momento em que desliguei a chamada Skype com o chef Vítor Sobral. Passavam apenas 45 minutos desde que tínhamos começado a cozinhar um prato de bacalhau para a Páscoa, de inspiração brasileira. Digo “tínhamos” porque tentámos fazer a receita ao mesmo tempo. Quando se despediu de mim, aquele que é um dos melhores cozinheiros do país parecia fresco que nem uma alface. Já eu, pensei colocar-me numa banheira de água com gelo, como aqueles pugilistas ou lutadores de MMA depois de um combate. Estava exausto do processo de tentar acompanhar o ritmo de um chef de cozinha – um dos melhores do nosso país, já agora – numa receita que até é relativamente simples.
Mas recuemos um pouco. Quando convidámos o chef Vítor Sobral para nos trazer uma sugestão de receita para a Páscoa, sabendo que eu estaria do outro lado a conversar com o chef e a tentar reproduzir a receita ao mesmo tempo – parece ridículo agora, eu sei – estava longe do que me esperava.
Comprei os ingredientes, fiz os preparativos com a antecedência possível e, à hora marcada, lá estava eu com o chef para confecionarmos um “bacalhau de Páscoa”, como Vítor Sobral lhe chamou, que serviria como uma sugestão para esta quadra.
O que se seguiu, pelo menos para mim, foi uma autêntica maratona que se tornou, ao mesmo tempo, uma espécie de “jogo de apanhada”, uma vez que, desde o momento em que começámos até que terminámos, o sentimento que tive foi de que andei sempre a “correr atrás do prejuízo”, como se costuma dizer.
Não que a receita seja super complexa – o chef Vítor Sobral teve a amabilidade de propor um prato que está ao alcance de todos. Mas a verdade é que – e o vídeo mostra isso bem –, enquanto um dos lados fazia a “corrida” de mota, o outro pedalava uma bicicleta.
Costumo cozinhar em casa, os meus amigos e família (regra geral) gostam dos meus cozinhados, e talvez por isso tenha tido a ignorância de pensar, mesmo que por um segundo, que conseguiria fazer uma receita ao mesmo tempo que um dos melhores cozinheiros de Portugal. Não consegui. Houve alhos que não consegui laminar, cebolas que não tive tempo de cortar e favas que não cheguei a juntar no preparado final. Simplesmente não tive tempo de fazer tudo.
Contudo, e isto é que é o mais relevante, o resultado final não podia ter sido mais satisfatório. Ou seja, se é verdade que no final do processo de confeção estava exausto e com a sensação de que tinha feito um mau trabalho, o facto é que quando provei o que cozinhei não podia ter ficado mais contente. A junção das diferentes texturas e sabores que compõem o prato eram surpreendentes, mesmo que simples. E basicamente acabei por cozinhar algo delicioso quase sem perceber como, tal a velocidade do processo.
Por tudo isto (e pela paciência demonstrada durante o processo), fica aqui o meu obrigado ao chef Vítor Sobral. Tirou-me o fôlego, mas valeu a pena.
Boa Páscoa a todos!
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