O mercado editorial português registou um crescimento significativo de cerca de 7% em 2023 com um volume total de 187 milhões de euros, face aos 175 milhões de euros de 2022, de acordo com o estudo "Mercado do Livro: Hábitos de Compra e Leitura em Portugal", hoje apresentado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), no evento Book 2.0, a decorrer no Museu do Oriente, em Lisboa.

Segundo a informação disponibilizada ao SAPO24, estes valores referem-se a 87% do mercado livreiro e não têm em conta os livros vendidos em plataformas de comércio eletrónico.

Comparativamente ao ano passado, "a percentagem de portugueses que compraram livros aumentou para 65% em 2023 (62% em 2022), mas o grande destaque vai para a mudança no perfil dos compradores, tendo em conta que a faixa etária dos 25 aos 34 anos passou a ser a que mais compra (76%) e que a faixa etária dos 15 aos 24 foi a que respondeu ter comprado mais livros do que em 2022, com 41% do total dos inquiridos".

Neste momento é a classe média quem lidera a compra de livros, já que representa 73% das compras em 2023. Além disso, o número médio de livros adquiridos por pessoa subiu, passando de 4,7 em 2022 para 4,8 em 2023 — e 82% dos portugueses compram para consumo próprio e 44% para oferecer.

"Ao nível das principais categorias, 61% dos portugueses continua a preferir o romance (69% em 2022), seguido do policial com 49% (42% em 2022), do romance histórico com 43% (52% em 2022) e do infantil-juvenil com 42% (50% em 2022), é também referido nas conclusões do estudo feito pela Nielsen/GFK para a APEL.

Por ano, os portugueses leem em média 5,6 livros, "com 73% dos portugueses a afirmarem ter lido pelo menos um livro nos últimos 12 meses. Destes, 34% leram menos livros que em 2022, 23% leram mais livros e 39% leram a mesma quantidade de livros".

E não há dúvidas: "o papel continua a ser o formato preferido de 93% dos portugueses para ler", embora 17% referira que "também lê livros em formato digital".

Feitas as contas, o que prova tudo isto? Na prática, os portugueses estão a ler mais — e isso mostra ao setor livreiro quais os passos a dar. "Os dados atualizados sobre os hábitos de compra e leitura dos portugueses dão-nos pistas muito relevantes sobre a forma como devemos fortalecer o diálogo com as autoridades públicas, as editoras e as instituições educacionais, de modo a continuar a promover ações concretas para estimular a leitura e a literacia no nosso país", afirma Pedro Sobral, presidente da APEL.

"Parece que finalmente estamos a adquirir hábitos de leitura e que mais pessoas estão a abrir portas a novos mundos e ideias, em especial nos mais novos, e isso advém da preocupação dos pais e cuidadores em envolvê-los na experiência da leitura e da compra do livro", refere ainda.

Por isso, o futuro dos livros parece estar em bom caminho. "São boas notícias, estamos a criar estes leitores e a crescer neste campo, mas também é verdade que partimos de uma base muito baixa, o que significa que ainda temos um longo trabalho pela frente. Cada um destes livros comprados é mais uma oportunidade para influenciar a próxima geração a resistir à manipulação e a ter um pensamento crítico robusto".

O Book 2.0, que pretende pôr editores, empresários e psicólogos a debater o futuro dos livros, cumpre a segunda edição entre hoje e sexta-feira no Museu do Oriente, em Lisboa.

De acordo com o programa 'online', os protagonistas destes debates serão escritores, sobretudo autores ‘best-sellers’, mas principalmente diretores e presidentes de empresas, psicólogos, oradores e editores, nacionais e internacionais.

O Book 2.0 vai decorrer em complementaridade com a Festa do Livro de Belém e com o alto patrocínio da Presidência da República, pelo que Marcelo Rebelo de Sousa fará hoje o discurso de encerramento do primeiro dia.

Hoje haverá, por exemplo, um debate sobre a importância das bibliotecas públicas municipais, com responsáveis da área editorial, da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e da rede das bibliotecas municipais de Lisboa.

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, e o secretário de Estado Adjunto e da Educação, Alexandre Homem Cristo, vão debater a “intersecção entre a cultura e a educação”, está prevista ainda a gravação ao vivo do ‘podcast’ “Porque Sim Não é Resposta”, com Eduardo Sá e Judite França, e uma conversa entre o escritor brasileiro vencedor do Prémio Saramago Rafael Gallo e a escritora especialista em biblioterapia Sandra Barão Nobre.

O segundo dia do evento, na sexta-feira, começa com psicólogos, analistas, jornalistas e empresários a debater temas como as emoções, a felicidade e a educação.