Em conversa com a Lusa semanas antes da atuação no festival Reverence Santarém, a 09 de setembro, Gill disse nunca pensar se algo que está a compor é “original o suficiente, diferente o suficiente, radical o suficiente”.
“Passo por fases durante as quais não penso muito em escrever canções, mas depois atravesso fases em que penso em compor e estou nesse momento atualmente, o que significa que posso ir no metro a tomar notas, provavelmente no meu telefone, escrever coisas e ideias, cantarolar pedaços, e quando chego ao estúdio começo a dar forma a essas ideias. Não penso, faço-o”, disse o músico da banda responsável por “Damaged Goods”.
Desta forma, segundo Gill, quando escreve um tema não é a pensar se é radical, “é apenas uma canção”. “Estou sempre a tentar reinventar a roda dos Gang of Four”, afirmou.
“Sempre adorei música pop e embora não seja sempre óbvio, a música de Gang of Four por vezes tem uma grande relação com a música pop. Gosto da ideia de uma linguagem que é acessível e que não tens de estudar para a compreender. É acessível porque toca em muitas das coisas que usamos na nossa cultura diária”, explicou Gill.
Face a uma eventual comparação do que são os Gang of Four hoje com o que eram há 40 anos, Gill considera que, apesar do tempo que passou, continua a abordar cada canção “de uma maneira muito pensada”.
“Muitas coisas são essencialmente as mesmas, a maneira como abordo as batidas é praticamente igual, no sentido em que tento fazer com que funcionem em conjunto com as letras e a voz. Quando começámos, o rock, a música em torno das guitarras, nada disso era ‘funky’. Havia banda brancas de soul que tentavam imitar a música negra até certo ponto, mas hoje é comum”, afirmou o único membro que resta da formação original, que se prepara para lançar o segundo disco neste modelo.
Gill lamenta o que vê hoje noutros músicos que “se dão por contentes ao copiar o trabalho de outros” e afirma que a maior parte da música que ouve não mexe com ele, mas que tal sempre foi assim: “Daí eu sempre ter feito as coisas de forma diferente das outras pessoas”.
Gang of Four apresentam nova canção no Reverence na expectativa de novo disco
s britânicos Gang of Four estão a preparar novo disco de originais, com data prevista de lançamento para 2018, e vão já mostrar um excerto desse novo trabalho no Reverence Santarém 2017, disse à Lusa o guitarrista.
Em entrevista semanas antes da atuação no festival Reverence, que este ano se muda para a Ribeira de Santarém depois de três edições em Valada, no Cartaxo, o guitarrista e único membro fundador ainda nos Gang of Four, Andy Gill, afirmou que o novo álbum está numa fase inicial, mas já tem cerca de nove canções escritas, embora não gravadas.
“[Gravar] é a próxima fase. Vou lançar uma faixa em outubro ou novembro, e depois o álbum vai sair no começo do próximo ano. Em fevereiro, possivelmente”, afirmou Gill, falando sobre o sucessor de “What Happens Next” e garantindo que no concerto de dia 09 de setembro um tema do novo disco, ainda sem título, vai ser tocado.
Sobre o novo disco, o músico disse que quer que seja "entusiasmante, mais acelerado de certa forma, que te atinja quase fisicamente", mas ao mesmo tempo que seja "mais simples, sem camadas de coisas".
Gill revelou ainda que, pouco antes do telefonema da Lusa, estava a masterizar temas que escreveu com Michael Hutchence há 20 anos, uma vez que em 2017 estão a ser realizados vários filmes sobre o músico australiano, vocalista dos INXS, que morreu em 1997.
Este ano assinala-se outra data redonda, uma vez que passam 40 anos sobre a criação dos Gang of Four, banda que tem no álbum “Entertainment!” (1979) o quinto melhor disco de punk de sempre, segundo a Rolling Stone, e o oitavo melhor registo dos anos 1970, segundo a Pitchfork.
Questionado sobre um eventual impacto de acontecimentos políticos como o voto do Reino Unido para abandonar a União Europeia, o guitarrista e produtor declarou que assuntos políticos da atualidade nunca fizeram parte da abordagem da banda à composição, embora faça uma ressalva: “Há uma canção na qual estou a trabalhar que é um pouco inspirada na [filha do presidente dos Estados Unidos] Ivanka Trump, mas que não é sobre a situação dos Trump”.
Sobre o caso específico do denominado ‘Brexit’, Gill considera que se trata de um “erro”, embora simpatize com “muitas pessoas que ficam fartas com a forma como a União Europeia é gerida”.
“Consigo compreender a frustração, tudo isto em torno da União Europeia parece um pouco estagnado, precisa de ser um pouco mais pensado. Por outro lado, penso que é uma má jogada afastarmo-nos desta maneira, porque o Reino Unido é fundamentalmente um país muito aberto e cosmopolita. Obviamente Londres. A história do Reino Unido tem sido feita de ondas de imigração. A ideia de virar as costas à Europa continental vai contra o sentido das coisas”, afirmou o músico.
Os Gang of Four atuam no festival Reverence Santarém no dia 09 de setembro, o segundo de dois dias do evento, que vai contar com nomes como Amenra, Moonspell, Oathbreaker, Esben and the Witch, entre muitos outros.
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