5. FEDERAÇÃO DA RÚSSIA (1991-actualidade)
Boris Ieltsin – a sede de poder
Nasceu numa aldeia (Butka) dos Urais, em 1 de Fevereiro de 1931. Tal como Gorbatchov, o futuro presidente da Rússia nasceu e cresceu numa família tipicamente soviética. O pai, Nikolai Ieltsin, operário da construção civil, foi também vítima da máquina repressiva estalinista. A mãe era costureira. Na infância, uma granada rebentou-lhe nas mãos quando tentava desmontá-la, tendo perdido dois dedos, o que lhe permitiu, mais tarde, escapar ao serviço militar. Depois de terminar a escola, ingressou na Faculdade de Construção do Instituto Politécnico dos Urais em 1950, tendo-se formado em Engenharia da Construção Civil. Em 1961, Ieltsin aderiu ao PCUS, onde iniciou a sua carreira política que o iria levar a Moscovo. Porém, antes disso, em 1977, cumpriu uma decisão do Bureau Político do CC do PCUS de destruir a «casa de Ipatiev», onde a família real russa tinha sido fuzilada pelos comunistas em 1918.
Em Abril de 1985, por recomendação de Egor Ligatchov, Gorbatchov chamou-o para Moscovo e nomeou-o chefe da Direcção de Construção do CC do PCUS. Em Junho do mesmo ano, foi eleito secretário do CC do PCUS para a Construção. Em Dezembro, Ieltsin passou a dirigir o Comité da Cidade de Moscovo do PCUS, tendo-se notabilizado por acções populistas como viagens nos transportes públicos e inspecções nas lojas. No XXVI Congresso do PCUS, em Fevereiro de 1986, foi eleito membro suplente do Bureau Político do CC do PCUS. Ieltsin começou a tecer fortes críticas a alguns membros da direcção soviética, incluindo Gorbatchov e Ligatchov, acusando-os de não darem o ritmo necessário à perestroika, mas foi obrigado a retratar-se.
Em 9 de Novembro de 1987, foi internado devido a uma presumível crise cardíaca, mas Gorbatchov, Rijkov e outros dirigentes comunistas soviéticos afirmam que se tratou de uma tentativa de suicídio. Dois dias depois, num plenário do Comité de Moscovo do PCUS, Ieltsin reconheceu os seus erros, o que não evitou ser afastado da direcção desse órgão, mas Gorbatchov nomeou-o vice-presidente do Comité Estatal de Construção da URSS. A posição de Ieltsin reforçar-se-ia seriamente depois de ter sido eleito deputado do I Congresso de Deputados do Povo da URSS, em 26 de Março de 1989. Em Moscovo, conseguiu o apoio de 91,53% dos votos, infligindo uma derrota humilhante ao candidato comunista Evgueni Brakov. Gorbatchov tentou impedir a sua eleição para membro do Soviete Supremo da URSS, mas perdeu, pois um dos eleitos para esse órgão, A. Kazankin, cedeu-lhe o lugar.
Boris Ieltsin viu-se envolvido em escândalos e incidentes pouco claros. As autoridades comunistas atribuíam-nos ao álcool, mas essas acusações apenas contribuíram para o aumento da sua popularidade entre os russos. Em 16 de Maio de 1989, venceu as eleições para deputado do povo da Federação da Rússia e, no dia 29, foi eleito, à terceira tentativa, presidente do Soviete Supremo da RSFSR. Vendo o seu poder legitimado e reforçado, abandonou o PCUS no Verão de 1990 e, em 19 de Fevereiro de 1991, exigiu, numa intervenção televisiva, a demissão de Mikhail Gorbatchov e a entrega do poder ao Conselho da Federação, organismo que devia reunir os dirigentes das 15 repúblicas soviéticas.
Em 12 de Junho de 1991, Ieltsin, nas primeiras eleições presidenciais realizadas na Rússia, foi eleito com 57,30% dos votos, o que lhe deu uma legitimidade bem mais sólida do que a que detinha Gorbatchov. Quando o seu adversário político ficou isolado na tentativa de golpe de Estado de 19 de Agosto de 1991, Boris Ieltsin dirigiu a onda popular de descontentamento contra essa e outras medidas dos golpistas comunistas e, depois de os vencer, aproveitou também a oportunidade para se livrar de Gorbatchov ao enveredar claramente pela via do desmembramento da União Soviética.
Depois de várias tentativas falhadas de Gorbatchov para salvar o que ainda era possível da URSS, Ieltsin reuniu-se com os dirigentes da Ucrânia e da Bielorrússia e dissolveram a União Soviética. A perspectiva de que a independência política e económica da Rússia permitiria a solução dos numerosos problemas que o país enfrentava não se concretizou. Pelo contrário, a Rússia mergulhou numa profunda crise económica e social, não obstante a terapia de choque realizada pelo primeiro-ministro liberal Egor Gaidar.
Afastado Gorbatchov, Ieltsin lançou-se num longo e duro confronto com o Soviete Supremo da Rússia, onde a oposição à sua política era forte. Por exemplo, em 10 de Dezembro de 1992, o presidente foi obrigado a substituir Gaidar por Victor Tchernomirdin à frente do Governo russo. As dissensões entre Ieltsin e o Soviete Supremo eram cada vez mais graves e transformaram-se num violento embate. Em 3 de Outubro de 1993, depois de destacamentos de apoiantes do Parlamento terem atacado vários edifícios em Moscovo, tanques das Forças Armadas da Rússia dispararam contra o edifício do Soviete Supremo, obrigando-o à rendição.
Ieltsin convocou eleições parlamentares e um referendo sobre a nova Constituição da Rússia para 12 de Dezembro, mas os resultados foram-lhe claramente desfavoráveis. A nova lei suprema foi aprovada por 58,4% dos votos, mas a Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento da Rússia passou a ser controlada por comunistas e nacionalistas. O presidente russo também foi incapaz de impedir a sangrenta guerra na Chechénia, o que não contribuiu para a sua popularidade. Esta era tão baixa que foi necessário falsificar os resultados das eleições presidenciais de 1996 para que fosse reeleito.
O poder concentrava-se cada vez mais nas mãos de um grupo de oligarcas que se tinham apoderado de forma pouco transparente dos sectores mais rentáveis da economia russa: extracção de gás e petróleo, metalurgia, siderurgia, etc. O baixo preço do petróleo e do gás, as dificuldades económicas cada vez maiores, os gastos com a guerra da Chechénia e a corrupção levaram o Estado a declarar falência no dia 17 de Agosto de 1998. Preocupada com a degradação da situação política, económica e social, a «corte do czar Boris» tentou encontrar uma saída: a demissão antecipada de Ieltsin do cargo de presidente e a sua substituição por um homem da sua confiança.
No último dia do século xx, Boris Ieltsin demitiu-se e entregou o poder a um coronel pouco conhecido dos serviços secretos russos: Vladimir Putin, que poucos meses antes fora nomeado primeiro-ministro. Como foi possível verificar mais tarde, a aposta da oligarquia russa foi funesta para si mesma. Boris Berezovski, que se dizia o «descobridor» de Putin, fugiu para Londres, onde morreu de forma misteriosa, e Mikhail Khodorkovski, dono da petrolífera Yukos, foi preso e condenado a uma pena de dez anos de prisão. Os restantes magnatas tornaram-se obedientes. Isolado numa datcha presidencial, ou melhor, numa gaiola dourada nos arredores de Moscovo, Ieltsin faleceu em 23 de Abril de 2007.
O separatismo na Rússia
Paralelamente aos movimentos separatistas na União Soviética, surgiam movimentações idênticas no interior da própria Rússia, sendo o caso da Chechénia o mais sério. O território da Chechénia passou a fazer parte do Império Russo durante a Guerra do Cáucaso, que decorreu entre 1817 e 1864. Após a revolução comunista de Outubro de 1917, o Cáucaso foi alvo de numerosas alterações territoriais, realizadas ao sabor das experiências dos bolcheviques no campo das nacionalidades. Em 1942 e 1943, as tropas nazis ocuparam parte da Chechénia, então uma república autónoma da Rússia, que foi reconquistada pelo Exército Vermelho em 1944. Esse ano transformou-se num dos mais negros da história dos chechenos e de outros povos caucasianos. No dia 31 de Janeiro de 1944, o Comité de Estado de Defesa da URSS decidiu deportar todos os chechenos e inguches para a Quirguízia e o Cazaquistão, alegadamente por terem colaborado com os ocupantes alemães. Em poucas semanas, foram deportadas cerca de 650 mil pessoas. A república autónoma foi desfeita e o seu território dividido entre a região russa de Stavropol, a Geórgia, o Daguestão e a Ossétia do Norte.
A reabilitação desses povos chegou em 1956 e a República Autónoma Socialista Soviética da Chechénia-Inguchétia foi restabelecida no ano seguinte. Com vista a compensar um dos muitos crimes do ditador comunista José Estaline, o seu sucessor, Nikita Khruschov, integrou na Chechénia dois distritos da região de Stavropol, mas à Inguchétia não foi devolvido o território entregue à Ossétia do Norte, o que originou um sangrento conflito armado em 1992, rapidamente controlado, mas ainda por resolver. Em Novembro de 1990, o Soviete Supremo da República Autónoma Socialista Soviética da Chechénia-Inguchétia aprovou a Declaração de Autonomia e, no ano seguinte, chechenos e inguches voltaram a viver em repúblicas separadas. Entretanto, na Chechénia, começa a destacar-se a figura de Djokhar Dudaev, general do Exército Soviético, de origem chechena, que prestou serviço militar na Estónia e regressou à sua república em 1991, para dirigir o Congresso Nacional do Povo Checheno (CNPCh).
É de assinalar que os dirigentes do movimento autonomista, e depois, separatista, na Chechénia, eram chechenos que fizeram carreira fora dessa república. A elite local estava integrada no sistema administrativo e burocrático soviético e não estava interessada em mudanças radicais. A base do nacionalismo e separatismo era constituída pelos chechenos que tiveram de abandonar a sua terra por falta de trabalho depois de terem regressado do exílio em 1956, bem como aqueles que continuavam a ser discriminados e não se integraram «na nova comunidade histórica de pessoas: o povo soviético».
O CNPCh começou, desde o início da sua actividade, a desenvolver esforços com vista à criação de estruturas paralelas de poder. Em 6 de Setembro de 1991, destacamentos armados do CNPCh protagonizaram um levantamento militar e dissolveram o Soviete Supremo da Chechénia, sob o pretexto de que a organização chechena do PCUS tinha apoiado os golpistas em 19 de Agosto de 1991. Em 27 de Outubro do mesmo ano, Djokhar Dudaev foi eleito presidente da República da Chechénia e, no dia 1 de Novembro, proclamou a independência, passo que não foi reconhecido pelas autoridades russas. Uma semana depois, o presidente da Rússia, Boris Ieltsin, assinou o decreto «sobre a imposição do estado de emergência na República da Chechénia-Inguchétia», mas essa decisão não foi apoiada pelo Soviete Supremo da Rússia, onde a maioria dos deputados eram opositores do dirigente russo.
Os três anos seguintes foram caracterizados por um reforço das posições dos separatistas na Chechénia e pela instabilidade nas relações com Moscovo. Em 3 de Março de 1992, Dudaev anunciou que a Chechénia só se sentaria à mesa das conversações com os dirigentes russos depois de Moscovo reconhecer a sua independência. No dia 12, o Parlamento da Chechénia aprovou uma nova Constituição, que a declarava um Estado independente laico. Esta situação de indefinição levou a que milhares de russos, voluntária ou involuntariamente, tenham abandonado a república, agravando as já difíceis condições sociais e económicas, uma vez que, por exemplo, 70% da população não tinha emprego. Além disso, a economia chechena tornou-se rapidamente um terreno de criminalidade, com todo o território da Chechénia a transformar-se num centro de tráfico de armas, venda ilegal de petróleo, lavagem de dinheiro e pilhagens de meios de transportes. Em 1993, registaram-se ataques contra 559 comboios e foram pilhadas 4000 carruagens. Entretanto, Moscovo tentou organizar a oposição chechena ao general Dudaev, com vista a «vietnamizar» o conflito.
A propaganda russa falava de um grande descontentamento no interior da república em relação à política de Djokhar Dudaev e, em finais de 1993, a oposição deu início a uma guerra de guerrilha e, no Verão do ano seguinte, pediu ajuda à Rússia. Em 26 de Novembro de 1994, os órgãos de informação russos noticiaram que forças armadas da oposição a Dudaev, apoiadas por 40 tanques, entraram em Grozni, mas foram derrotadas. Constatou-se que os tanques que foram queimados ou capturados eram tripulados por militares russos contratados pelos serviços secretos nos quartéis dos arredores de Moscovo. Apesar da derrota, esta investida russa pode ser considerada a primeira operação de duas guerras (1994-1996 e 2001-2009) com um número incalculável de vítimas entre civis e militares.
Após a chegada de Vladimir Putin ao poder, em 1999, foi lançada uma forte e maciça operação para esmagar o movimento separatista, tendo sido liquidados os principais comandantes da guerrilha. À frente da República, o dirigente russo pôs um antigo guerrilheiro independentista, Ramzan Kadyrov, que governa a Chechénia com mão de ferro.
Putin, o salvador
Em 30 de Dezembro de 1999, na véspera de ser nomeado presidente interino da Rússia, Vladimir Putin publicou na imprensa russa um artigo programático sobre o futuro do país, no qual prometeu entre outras coisas: «Para atingir o PIB per capita de Portugal ou de Espanha, que não são considerados líderes da economia mundial, precisaremos de cerca de 15 anos.» Com esta comparação, o líder russo sublinhava o estado de atraso em que se encontrava a economia do país.
Vinte anos passados, verifica-se que aquilo não passou de uma promessa. Não obstante as pesadas crises económicas que atravessaram Portugal e Espanha, aquela promessa de Putin não foi cumprida, tal como muitas outras.
Vladimir Putin começou a sua carreira política na cidade de Leninegrado (São Petersburgo), depois de ter trabalhado longos anos nos serviços secretos soviéticos.
Em 1996, depois da derrota do seu chefe Anatoli Sobtchak, presidente da Câmara de São Petersburgo, nas eleições municipais, Putin foi para Moscovo, onde passou a ocupar cargos de responsabilidade na Administração de Ieltsin. Em Julho de 1998, foi nomeado director do Serviço Federal de Segurança da Rússia. É a partir desse momento que começa a rodear-se de homens dos serviços secretos e de São Petersburgo. Em 16 de Agosto do ano seguinte, foi nomeado primeiro-ministro da Rússia e, nesse mesmo dia, o «czar» Boris anunciou pela televisão que o queria ver como seu sucessor.
Anteriormente, de forma directa ou indirecta, o presidente já tinha nomeado vários sucessores, nomeadamente o liberal Boris Nemtsov, e, como um déspota cada vez mais senil, mudava de ideias, ou talvez seja mais plausível que a sua corte o tenha feito mudar de ideias. Boris Berezovski, oligarca e eminência parda do Kremlin, dizia ter sido um dos impulsionadores dessa decisão. As eleições parlamentares e presidenciais aproximavam-se e era preciso alguém que substituísse Ieltsin e continuasse a ser manipulado.
Estas manobras políticas coincidiram com o recrudescimento do conflito na Chechénia. Em várias cidades russas, como Moscovo, Buinaksk e Volgodonsk, ocorreram fortes explosões em edifícios residenciais, provocando 307 mortos e 1700 feridos. O terror e o medo pareciam apoderar-se novamente dos russos. Neste contexto, o Governo de Vladimir Putin lançou fortes ataques contra os separatistas chechenos, obrigando-os a abandonar Grozni e a refugiarem-se nas montanhas. A popularidade do jovem primeiro-ministro cresceu rapidamente. Em 31 de Dezembro de 1999, depois de se comprometer por escrito a garantir a segurança da família Ieltsin, Putin recebeu dele o poder na presença de Alexis II, patriarca da Igreja Ortodoxa Russa. Terminava assim a era de um dos políticos mais demagogos e populistas da História da Rússia.
Desde o primeiro momento que Putin, a pretexto da luta contra o separatismo e o terrorismo, começou a edificar um sistema de concentração de poderes no Kremlin em prejuízo da democracia. É opinião corrente que o dirigente russo pôs fim ao regime oligárquico na Rússia, o que não passa de um dos muitos mitos criados pelos órgãos de informação controlados pelo Kremlin. Vladimir Putin criou uma nova espécie de feudalismo. Os lugares dos antigos oligarcas e os que ainda havia para preencher foram ocupados por fiéis agentes do KGB ou amigos de Vladimir Putin de São Petersburgo. É verdade que, na era de Putin, o nível de vida de grande parte dos russos melhorou, a classe média aumentou, mas isso deveu-se apenas à subida do preço do petróleo e do gás nos mercados internacionais. Logo que o preço dos combustíveis baixou no mercado externo, a economia russa ressentiu-se de imediato, nomeadamente porque Putin não cumpriu duas das suas mais importantes promessas: a modernização e a diversificação dos sectores de produção.
A aproximação à Europa
Inicialmente, tudo parecia encaminhar-se para uma maior aproximação entre a Rússia e o Ocidente, em especial após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos. Nessa altura, em que o chefe da diplomacia russa era Igor Ivanov, as autoridades russas tentaram reconquistar a sua influência geopolítica e aproveitar-se do dinamismo europeu para estimular o desenvolvimento nacional, ao mesmo tempo que a UE recorria cada vez mais aos fornecimentos de gás russo e via na Rússia um dos principais mercados para o escoamento dos seus produtos e serviços.
Além disso, o crescimento dos laços económicos ocorre numa base institucional, o que favorece esse processo. Em Maio de 2003, foi anunciada, na Cimeira Rússia-UE, a criação de quatro espaços: o espaço económico único; o espaço comum de liberdade, segurança e justiça; o espaço de cooperação na área da segurança externa e o espaço da ciência e da educação.
Todavia, acções como a invasão norte-americana do Iraque, realizada com o apoio de alguns países da União Europeia em 2003, reflectiram-se não só nas relações entre a Rússia e os Estados Unidos mas, também, no relacionamento com a Europa.
A UE continuava a alargar-se rapidamente. Em 2004, aderiram a esta organização nove países, oito dos quais antigos Estados do campo socialista, aumentando no Kremlin o receio de a Rússia ser marginalizada. Além disso, Moscovo viu, nas chamadas «revoluções coloridas» em antigos territórios soviéticos (Geórgia em 2003, Ucrânia em 2004 e Moldávia em 2009, 2013), formas de retirar esses países da esfera de influência russa e ensaios para derrubar o próprio regime de Vladimir Putin.
Do outro lado, o descontentamento da UE em relação ao Kremlin começou a aumentar com o início do segundo mandato do presidente Putin (2004-2008), mantendo-se por muitos anos. A UE acusava-o de violações sistemáticas dos direitos humanos, das liberdades cívicas e da imposição de um sistema autoritário. Além do mais, Bruxelas considera que a Rússia recorre, cada vez mais, aos fornecimentos de combustíveis como arma política de pressão.
Pelos vistos, quando chegou ao poder, e principalmente depois dos atentados de 11 Setembro de 2001, o dirigente russo esperava, a troco do seu apoio à luta contra o terrorismo islâmico, ser recebido de braços abertos no mundo ocidental e na condição de o Ocidente reconhecer o espaço pós-soviético como zona de influência russa. Ora, isso não aconteceu. Em 2003, a despeito dos protestos do Kremlin (verdade seja dita, desta vez sensatos e justos), as tropas norte-americanas invadiram o Iraque sob o falso pretexto de o ditador Saddam Hussein deter armas de destruição maciça.
Esta nova política materializou-se em Agosto de 2008, quando tropas russas invadiram a Geórgia a pretexto de defender os interesses dos «cidadãos russos residentes na Ossétia do Sul», região separatista da Geórgia.
Então, a UE e os Estados Unidos limitaram-se a protestos verbais, o que levou o Kremlin a considerar que podia ir mais longe na política agressiva em relação aos países vizinhos. Se, quando a Rússia invadiu a Geórgia em 2008, o Ocidente tivesse exercido represálias efectivas, talvez Moscovo não ousasse invadir a Ucrânia nem anexar a Crimeia em 2014, mas o mesmo Ocidente ficou-se pelas palavras, uma vez mais, quando, em de Setembro de 2014, o Kremlin reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abcásia em relação à Geórgia.
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