"É o meu musical preferido desde que estreou na Broadway. Vi bastantes vezes o original e durante o processo de treino para esta adaptação revi ainda mais. Sempre foi o meu musical preferido e sempre foi o meu papel de sonho. Ainda não estou bem a acreditar no que aconteceu", começa por descrever o jovem protagonista João Sá Coelho, de 22 anos, depois do ensaio de imprensa em que o SAPO24 esteve presente.

'Querido Evan Hansen', uma adaptação do original da Broadway de 2016 'Dear Evan Hansen' escrito por Steven Levenson, chega ao Maria Matos no dia 11 de setembro, depois de também ter estado em Londres no Noël Coward Theatre, onde ficou até 2022. Passou ainda pelo Brasil, Canadá, Argentina, Finlândia, Israel, Austrália, Alemanha e República Checa, chegando agora a Portugal pelas mãos da Força de Produção, que também produziu recentemente os musicais “Avenida Q”, “Chicago” e “Mães”.

Adaptado e encenado por Rui Melo, o encenador admite que "este espetáculo fala sobre muitas coisas", além da saúde mental. "Não só sobre a ansiedade na adolescência, mas também a culpa da paternidade que está sempre presente. Logo na primeira canção conhecemos esta realidade quando se pergunta 'se alguém tem um mapa'".

Admitindo "não ser fã de musicais", conheceu a banda sonora deste espetáculo enquanto estava a fazer um filme em Moçambique. "Só depois é que li o texto que só acrescentou dimensões", recorda. "Eu quis desconstruir a complexidade do que é a vida online e transpô-la para uma versão ultrassimplificada em palco. Eu quero mostrar que a juventude está um pouco perdida e esta versão simples pretende fazer isso em palco", esclarece.

"Acho que todos estamos cada vez mais sós. Este é um espetáculo absolutamente intergeracional", acrescenta.

Viu o original em Londres, mas critica o facto de ter muito brilho cor e movimento. Por cá a sua versão, foca-se sobretudo no trabalho dos atores.

Não gosta de chamar ao seu trabalho uma "tradução", preferindo o termo "adaptação", mas depois de já ter adaptado musicais como “Avenida Q”, “Chicago” ou "Os Produtores", descreve este como um dos trabalhos mais difíceis que fez na vida devido ao tema complexo e linguagem. "Existem muitos temas que são cantados por adolescentes, por isso a linguagem não pode ser muito complexa e os temas também são muito difíceis de abordar de forma leve em canção".

Na adaptação portuguesa existem diferenças face à história original. Os nomes são os mesmos, bem como a linha base da história, mas foi necessário adaptar o texto ao público português. "Acho que qualquer pessoa se vai identificar com estas personagens", garante Rui Melo.

Questionado sobre o tema forte deste musical e a chamada de atenção para temas de saúde mental, diz que a preparação da peça foi alvo de muita investigação e quer que exista o "efeito espelho do teatro", que leva à reflexão sobre os problemas expostos em cena.

Neste musical, Evan (interpretado por João Sá Coelho), um adolescente do ensino secundário tímido, ansioso e com problemas de integração, vê-se envolvido numa mentira criada sem querer pelo próprio, desencadeada pelo suicídio de um colega.

O título da peça 'Querido Evan Hansen' parte das cartas que o protagonista escreve a si próprio por recomendação do seu psicólogo. Sem saber, as cartas acabam por ter um papel determinante na peça e na vida de Evan.

É um dos espetáculos mais premiados dos últimos anos. Ao longo do seu percurso arrecadou os mais importantes prémios da indústria, onde se contam, entre muitos outros, seis Tony, o Grammy para melhor álbum de teatro musical e três Lawrence Oliver.

Nesta adaptação portuguesa, o musical terá também música ao vivo com seis artistas a tocar em palco. A música é assinada pela dupla que escreveu as canções de “La La Land” e "The Greatest Showman", Benj Pasek e Justin Paul. Por cá quem dirige a banda é Artur Guimarães.

Uma audição com mais de 600 pessoas

Quando pensou em trazer o musical para Portugal, Rui Melo sabia que queria contar com três atores: Gabriela Barros, Miguel Raposo e Sílvia Filipe. Todos os outros apareceram em audição, e foram mais de 600. "Fiquei surpreendido por tantos jovens conhecerem este musical", confessa.

Um dos selecionados foi o protagonista João Sá Coelho, que ainda está a digerir o que lhe aconteceu: ser selecionado para o papel de Evan Hansen. "Ainda nem consigo acreditar sequer que o musical está a acontecer em Portugal".

Aos 22 anos, está no terceiro ano de uma licenciatura em teatro musical em Barcelona e esteve recentemente no espetáculo 'Broadway no Parque', organizado pela MTL, e que trouxe a Broadway a Lisboa durante dois dias. Descreve o seu interesse por esta arte simplesmente como "louco, desde sempre".

Confessa que viu "bastantes vezes" a versão original e baseou-se em várias pessoas que conhece para construir esta personagem. "Todos já passamos por alguma parte desta história".

A música preferida das várias que interpreta diz ser a última, "quando a personagem percebe tudo o que foi fazendo ao longo da peça", mas recomenda que cada espetador escolha a sua.

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Sobre a realidade dos atores em Portugal, em especial de aqueles que querem fazer teatro musical, não esconde que é "muito complicado, mas felizmente as coisas têm evoluído", apesar de não tão rápido como gostaria.

Sente-se sortudo por ter conseguido ser um dos selecionados de entre 600 candidatos em audição: "Felizmente a Força de Produção fez uma audição, que é algo que nem sempre existe".

Como conselho para outros jovens atores, destaca que devem investir na "formação em tudo aquilo que seja possível e arriscar muito". "Existem milhares de castings a acontecer, para figurações, para espetáculos, para tudo e não se pode perder oportunidades, não se deve ser específico", salienta.

Um musical para os pais aprenderem a perdoarem-se

Com mais experiência no mundo dos palcos e mãe recentemente, Gabriela Barros trouxe toda esta bagagem para o Maria Matos.

Acabada de terminar o sucesso 'Mães', no Villaret, aceita agora o convite para ser novamente mãe, desta vez de Evan, assumindo o papel de Heidi.

Longe dos conceitos de certo e errado, quer sobretudo que esta personagem abra a possibilidade aos pais de "aprenderem a perdoar-se". "Na minha personagem não interessa se ela é má mãe ou boa mãe, mas é sobre como é que se pode estar atento para este fator que hoje em dia é uma epidemia, que é a ansiedade, que está cada vez a ver-se e a falar-se mais", refere.

Quanto ao grupo em palco, diz que são todos muito unidos, numa média de idades que ronda os 23 anos.

Sobre o papel, sublinha que ser mãe a ajudou a 80%, apesar de nunca ter visto a versão original do musical em Londres ou na Broadway.

No que diz respeito à evolução desta arte, recorda que o primeiro musical onde esteve foi 'Os Produtores', estreado em 2008, também com Rui Melo, e apesar de "nessa altura o teatro musical ainda estar num cenário bastante árido em Portugal", agora a história é diferente. "Para nós é fantástico porque adoramos".

Além destes atores, o espetáculo conta com Miguel Raposo, Sílvia Filipe, Brienne Keller, Dany Duarte, Inês Pires Tavares e João Maria Cardoso, além dos músicos Artur Guimarães (teclados), Tom Neiva (bateria), André Galvão (baixo), Marcelo Cantarinhas (guitarra), João Valpaços (violoncelo) e Inês Nunes (viola de arco).

A primeira sessão de 'Querido Evan Hansen' já está esgotada e será no dia 10 de setembro, terça-feira, às 21h00, num ensaio solidário para o projeto de Lucas Rodrigues, "Lucas with Strangers", que se dedica a fazer os outros felizes, um estranho de cada vez.

O espetáculo estreia depois oficialmente no dia 11 de setembro, quarta-feira, e os bilhetes já estão à venda aqui. Custam entre os 20 e os 22 euros e existem sessões disponíveis pelo menos até ao início de novembro.