A comissão que em janeiro de 2022 começou a investigar abusos sexuais na igreja católica em Portugal e já recebeu centenas de testemunhos divulga esta segunda-feira as conclusões do seu trabalho, que serão entregues hoje à Igreja.
O relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica começou a recolher testemunhos em 11 de janeiro do ano passado e esta é a cronologia dos principais acontecimentos.
- 10 janeiro de 2022: A Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal apresentou, em Lisboa, o seu plano de trabalho até final do ano, quando deveria apresentar um relatório sobre a situação, que só vai acontecer na segunda-feira.
- 11 janeiro: Começou a funcionar a comissão para investigar abusos sexuais na igreja católica em Portugal, de casos ocorridos desde 1950. No primeiro dia, a comissão independente informou que a linha telefónica “esteve quase sempre preenchida” e que ao final da tarde já tinham sido validados “cerca de 50 testemunhos”.
- 26 janeiro de 2022: Comissão de Proteção de Menores do Patriarcado de Lisboa anunciou que tinha recebido uma denúncia de abusos praticados, há mais de 30 anos, por um padre que estava na diocese de Vila Real.
- 12 fevereiro de 2022: O arcebispo de Braga, José Cordeiro, afirmou que a igreja estava a “sofrer muito” com a questão dos abusos sexuais, mas sublinhou que a aposta era “curar todas as feridas”, através do apuramento da verdade.
- 15 abril de 2022: O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, defendeu que um eventual afastamento preventivo de clérigos em funções ligados a abusos sexuais na igreja católica deve ser analisado “caso a caso”, depois de no dia anterior ter manifestado o compromisso da igreja em pedir perdão às vítimas.
- 10 maio de 2022: O juiz conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, que faz parte da comissão de investigação independente, disse que se a Igreja católica optar pela “ocultação da ocultação” dos abusos sexuais cometidos no seu seio estará a torná-los seus, retirando-lhes o caráter de responsabilidade individual de quem os cometeu.
- 10 julho de 2022: A comissão independente criada para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa anunciou já ter recolhido 352 testemunhos de vítimas desde a sua criação e disse ter convidado o arquiteto Álvaro Siza para projetar um memorial de homenagem, tendo este aceitado o projeto.
- 5 agosto de 2022: A Diocese de Setúbal refutou o encobrimento ou ocultação de queixas de abusos sexuais na Igreja Católica alegando que a investigação feita a um padre suspeito da diocese cumpriu as orientações canónicas e civis em vigor à data.
- 6 agosto de 2022: A RTP noticia que o cardeal patriarca, Manuel Clemente, "terá protegido um padre fortemente suspeito de abuso sexual de menores" em 2003, quando era bispo auxiliar de Lisboa e reitor do seminário dos Olivais.
- 24 agosto de 2022: O coordenador da comissão independente, Pedro Strecht, disse que muitos dos acusados podem continuar a abusar e que há um setor da Igreja que quer manter os segredos.
- 4 outubro de 2022: O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, assumiu que foram abafados casos de abusos sexuais de menores na igreja católica e confessou uma “tristeza muito grande” por ver envolvido o nome do bispo timorense Ximenes Belo, revelado pela Comunicação Social dias antes.
- 11 outubro de 2022: Pedro Strecht anunciou que a comissão independente já recebeu 424 testemunhos, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu.
- 11 outubro de 2022: O Presidente da República afirmou que o número de casos de abusos de menores validado pela comissão "não parece particularmente elevado face à provável triste realidade", gerando fortes críticas na política e na sociedade e acabando por se desculpar perante as vítimas.
- 12 outubro de 2022: José Ornelas disse em Fátima que os abusos sexuais na Igreja Católica são acontecimentos dramáticos que “não têm desculpa”, considerando que qualquer “número é sempre demasiado” e uma derrota.
- 25 outubro de 2022: O bispo do Porto, Manuel Linda, que foi alvo de muita polémica devido a declarações que proferiu sobre o tema, reconheceu que os abusos sexuais na Igreja portuguesa são uma realidade “muito mais sombria” do que pensava e disse ser este o tempo para “clérigos e leigos” assumirem responsabilidades e denunciarem os crimes.
- 10 janeiro de 2023: A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assegura estar preparada para “tomar medidas adequadas” que se imponham pelo relatório da Comissão Independente que estuda os casos de abusos na Igreja, mas recusa apontar uma expectativa sobre os resultados do documento.
- 1 fevereiro de 2023: O diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ), Filipe Diniz, disse acreditar que a divulgação do relatório sobre os abusos sexuais do clero em Portugal não afetará a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa), mas admitiu que a situação faz “estremecer” a Igreja.
- 4 fevereiro de 2023: O ex-procurador-geral da República José Souto Moura revelou, em Fátima, que as Comissões Diocesanas de Proteção de Menores já tinham recebido até aquele dia 26 participações de abuso em todo o país.
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