Inquirido sobre o assunto, o próprio diz apenas que não tem “nada a dizer sobre qualquer possível nomeação”, pois aguarda “instruções sobre a nova missão”. E ela tanto pode passar por “continuar em Lisboa, ir para Setúbal, para as Forças Armadas, para a Cúria em Roma ou qualquer outra missão”, acrescenta. Recorde-se que Américo Aguiar esteve no passado dia 8 no Vaticano, tendo-se encontrado com o Papa, naturalmente para confirmar a sua nova missão. No mesmo dia, aliás, o bispo cruzou-se no Vaticano com o actor Sylvester Stallone, tendo na ocasião feito uma foto com ele, que publicou nas redes sociais.
A diocese de Setúbal está vacante há 596 dias, desde 28 de Janeiro do ano passado, quando o anterior bispo, José Ornelas, foi nomeado para Leiria-Fátima (a confirmar-se a nomeação em breve, atinge-se a marca dos 600 dias). O facto de o bispo Aguiar ter estado à frente da JMJ terá sido uma das razões para protelar a nomeação do novo responsável da diocese católica. Em Julho, no entanto, vários membros do clero acreditavam que o presidente da Fundação JMJ iria trabalhar a seguir para Roma, no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (DLFV).
Nessa altura, como o 7MARGENS deu conta, havia vários argumentos que corriam entre sectores do clero e que pareciam confirmar essa possibilidade: o actual responsável do Dicastério, cardeal Kevin Farrel, poeria tomar posse do cargo de presidente do Tribunal de Cassação do Estado da Cidade do Vaticano, desse modo deixando o lugar livre; e o próprio Américo Aguiar afirmou que a JMJ de Lisboa seria a última com o modelo actual e que o Papa pretendia mudar – o que significava que ele poderia ser escolhido por Francisco para pôr em marcha esse novo modelo.
Agora, no entanto, terminada a JMJ, vários membros do clero de Lisboa e Setúbal garantem que o destino de Américo Aguiar é mesmo a diocese sadina. O próprio terá confiado já a diferentes pessoas que prefere estar na acção concreta de uma diocese a ficar a trabalhar num gabinete. Além de que Aguiar, nascido em Leça do Balio, Matosinhos (fará em Dezembro 50 anos), tem evocado ainda o facto de ser natural da mesma localidade onde nasceu o primeiro bispo de Setúbal, Manuel Martins.
As vagas que se seguem
Se se confirmar esta escolha, ficam de fora outros nomes que foram sendo avançados, nestes últimos 19 meses – sobretudo no último ano, quando se começou a falar mais intensamente de hipóteses de sucessão: entre outros que apareceram, os bispos Vitorino Soares, auxiliar do Porto, e Nuno Brás, actual responsável do Funchal, que andou na baila, tal como o de Américo Aguiar, também para Lisboa (diocese de onde é originário).
O clima em Setúbal já é de aguardar ansiosamente que chegue um bispo. A diocese esteve entregue durante este tempo ao administrador apostólico, padre José Lobato, que podia, tal como estabelece o Direito Canónico, tomar apenas decisões de gestão corrente. E houve mesmo, ao longo deste tempo, reacções públicas mais destemperadas. Um dos últimos exemplos foi o padre Francisco Mendes, pároco da Charneca da Caparica. No dia 10 de Agosto, quando foi anunciada a nomeação do novo patriarca de Lisboa, o bispo Rui Valério, o padre Mendes fez duas publicações na sua página no Facebook usando linguagem em calão para acusar o núncio (embaixador da Santa Sé) em Portugal de ser ele o principal responsável pelo largo tempo de sede vacante. O núncio, de acordo com as mesmas fontes eclesiásticas, preferiu não responder ao padre.
Américo Aguiar estará no final do mês em Roma para receber os símbolos cardinalícios, depois de o Papa Francisco ter anunciado, no dia 9 de Julho, um consistório para a criação de mais 18 cardeais – entre os quais o português Américo Aguiar, que passa a ser o quarto cardeal do país com direito a voto num eventual conclave.
Em Setúbal, uma das tarefas complexas do novo bispo será a de unir um clero dividido, marcado por um importante grupo de padres do movimento Comunhão e Libertação – que vê a missão da Igreja numa lógica de afirmação e, se necessário, confronto social. Alguns deles não estarão de acordo com a escolha, mas o bispo da JMJ terá já confidenciado a várias pessoas que com o diálogo tudo se resolve. Nos próximos dias, a confirmar-se a escolha, estas intenções podem ser reafirmadas pelo novo titular da diocese católica.
Para já, depois de preenchida a “vaga” de Setúbal, ficam as dioceses da Guarda e de Beja a aguardar conhecer os novos titulares. Manuel Felício (Guarda) completou em Novembro último os 75 anos, a idade canónica para a resignação. E João Marcos (Beja), que só completará os 75 anos em Agosto do próximo ano, pediu já para sair, por razões de saúde. Depois destes, o novo patriarca de Lisboa quererá fazer a sua equipa de bispos auxiliares e outras duas dioceses têm titulares à beira de completar os 75: Portalegre-Castelo Branco (Antonino Dias, em Dezembro) e Algarve (Manuel Quintas, Agosto de 2024).
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