A iniciativa, anunciada na sexta-feira à noite e intitulada Mecanismo Africano de Produção Alimentar de Emergência, vai beneficiar 20 milhões de agricultores africanos, que receberão sementes e tecnologia certificadas para produzir rapidamente 38 milhões de toneladas de alimentos, um aumento de 12 mil milhões de dólares na produção de alimentos em apenas dois anos, explicou o BAD em comunicado.
A insegurança alimentar em África, já afetada pela pandemia de covid-19 e por fenómenos decorrentes das alterações climáticas, agravou-se com a rutura do abastecimento alimentar resultante da guerra na Ucrânia, e África enfrenta agora uma escassez de pelo menos 30 milhões de toneladas de alimentos, especialmente trigo, milho e soja importados de ambos os países, alertou a instituição.
“A ajuda alimentar não pode alimentar África. África não precisa de tigelas nas mãos. África precisa de sementes na terra, e máquinas de colheita para colher alimentos abundantes produzidos localmente. África quer alimentar-se a si própria com orgulho, porque não há dignidade em mendigar comida”, disse o presidente do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, citado no comunicado.
A crise alimentar será um dos temas a discutir nos encontros anuais do BAD, que se realizam no Gana entre hoje e sexta-feira, com sessões presenciais após dois anos em formato virtual devido à pandemia.
“Os encontros são há muito esperados. Quarenta e uma economias africanas estão gravemente expostas a pelo menos uma de três crises simultâneas — aumento dos preços dos alimentos, aumento dos preços da energia e condições financeiras mais restritivas”, disse no dia 13 o ministro das Finanças do Gana, país que acolhe a reunião.
Em conferência de imprensa durante uma visita do BAD para preparar os encontros, Ken Ofori-Atta recordou que os preços dos alimentos em África estão 34% mais altos, os preços do petróleo subiram 60% e a inflação afeta todos os países.
“Os novos pobres em África aumentaram em 55 milhões e cerca de 35 milhões de empregos formais estão em risco”, disse o ministro, lembrando que isto acontece quando o continente está ainda a tentar recuperar da pandemia de covid-19.
Ofori-Atta recordou também que os participantes do encontro irão discutir uma proposta para o Fundo Africano de Desenvolvimento (FAD), o braço concessional do BAD, que celebra este ano 50 anos, poder aceder aos mercados de capitais para alavancar 25 mil milhões de dólares (23 mil milhões de euros).
Com o tema “Alcançar a Resiliência Climática e uma Transição Energética Justa para África”, o encontro deverá também focar-se em apresentar recomendações para o continente sair mais resiliente das várias crises que enfrenta.
Numa conferência de imprensa virtual de lançamento dos Encontros Anuais do BAD, em abril o economista-chefe em exercício e vice-presidente de Governança e Gestão do Conhecimento do BAD, Kevin Urama, explicou a escolha do tema da reunião.
“Quem conheça bem o desenvolvimento de África sabe que África irá acolher a COP27 [conferência das partes sobre alterações climáticas, no Egito] e sabemos que as alterações climáticas serão um fator de mudança para a trajetória do desenvolvimento global e África, como sempre, terá implicações significativas da transição climática”, afirmou.
Os participantes irão discutir como aumentar o financiamento da adaptação climática, quando África recebe apenas 3% dos fluxos globais de financiamento climático.
Os encontros anuais são o evento mais importante do BAD, que tem 54 Estados-membros africanos e 27 não africanos, e reúnem cerca de 3.000 delegados e participantes anualmente.
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