“Temos de reconhecer os momentos mais dolorosos da nossa longa e complexa relação”, disse o Rei num discurso proferido durante um banquete oficial oferecido pelo Presidente queniano, William Ruto, no primeiro dia da sua visita de Estado à antiga colónia britânica, que se prolonga até sexta-feira.

No jantar realizado na State House (sede da presidência queniana), Carlos III sublinhou que “os erros do passado são, evidentemente, motivo de grande dor e arrependimento”.

Carlos III não chegou a pedir desculpa por estas ofensas históricas.

Durante o jantar na State House, Carlos III sublinhou que “os erros do passado são, naturalmente, motivo de grande tristeza e pesar”.

“Foram cometidos actos de violência abomináveis e injustificáveis contra os quenianos que travavam uma luta dolorosa pela independência e não há desculpa para isso”, admitiu o monarca.

“Ao regressar ao Quénia”, continuou, “o mais importante para mim é aprofundar a minha própria compreensão destes males e conhecer algumas das pessoas cujas vidas e comunidades foram tão severamente afectadas”.

“Nada disto pode mudar o passado, mas se abordarmos a nossa história com honestidade e abertura, talvez possamos demonstrar a força da nossa amizade atual”, concluiu Carlos III.

Durante o banquete, o Presidente queniano agradeceu a “vontade de reconhecer os aspectos dolorosos da (…) história comum” dos dois países.

“Se o colonialismo foi brutal e atroz para o povo africano, a reação colonial às lutas africanas pela soberania e pelo autogoverno foi monstruosa na sua crueldade”, recordou Ruto no seu discurso.

Essa crueldade, sublinhou, culminou no chamado Estado de Emergência (1952-1960), declarado face à luta travada pela organização guerrilheira popularmente conhecida como Mau Mau, durante a qual morreram pelo menos dezenas de milhares de quenianos, se bem que não existam números definitivos.

“Embora tenham sido feitos esforços para reparar a morte, os danos e o sofrimento infligidos aos africanos quenianos pelo governo colonial, ainda há muito a fazer para conseguir uma reparação total”, acrescentou Ruto.

Antes do seu discurso, Carlos III depositou uma coroa de flores nos Uhuru Gardens em Nairobi, onde o Quénia declarou a independência em 1963, com o gesto simbólico de baixar a bandeira britânica e hastear a bandeira queniana.

O rei depositou uma coroa de rosas brancas e lilases no Túmulo do Soldado Desconhecido, sob o olhar atento do Presidente do Quénia, William Ruto.

O monarca, que chegou a Nairobi na segunda-feira à noite acompanhado pela Rainha Camilla, prestou homenagem aos heróis do Quénia, militares e civis, num memorial marcado por uma chama eterna.

A homenagem floral do Rei tinha uma nota escrita à mão que dizia: “Em grata recordação – Charles R.”.

Charles caminhou depois até à árvore Mugomo, uma figueira plantada no local exato da declaração de independência do Quénia, onde a bandeira britânica foi arriada e a primeira bandeira queniana hasteada em 12 de dezembro de 1963.

No início da manhã, o Rei e a Rainha britânicos foram calorosamente recebidos por Ruto e pela sua esposa, Rachel Ruto, na State House, abrindo oficialmente a sua visita de quatro dias.

Esta é a primeira visita de Carlos III, de 74 anos, como rei a um país da Commonwealth desde que sucedeu à sua mãe, Isabel II, que morreu a 8 de setembro de 2022, com 96 anos, e foi a monarca britânica mais antiga.

Carlos, no entanto, já efetuou três visitas oficiais ao país africano, em 1971, 1978 e 1987.

O Quénia também tem um significado especial para a família real britânica, já que Isabel II viajava para lá quando se deu a morte, em 1952, do seu pai, Jorge VI, marcando o início do seu reinado.