Num encontro de apoio ao cabeça de lista da CDU às europeias, João Oliveira, na Casa do Alentejo, em Lisboa, Manuel Carvalho da Silva disse ter ouvido os debates e lamentar que haja forças políticas que tratem “o perigo da guerra como se a guerra fosse ir a uma romaria”.
“Eu vejo isso com apreensão e é muito importante que se desmonte esta coisa. Esse foi um dos aspetos que me chamou a atenção porque é preciso coragem, e tens levantado às vezes a questão: é preciso coragem para lutar pela paz”, elogiou o antigo secretário-geral da CGTP.
Carvalho da Silva afirmou que, quando houve personalidades políticas a dizer que é “preciso ser corajoso para ir para a guerra’, frisou que, para quem viveu a guerra, como ele, “sente uma enorme repulsa”.
“A guerra é a crise das crises, a invocação da guerra serve para eliminar tudo e mais alguma coisa de direitos às pessoas, aos cidadãos”, criticou, com João Oliveira a anuir que há “um distanciamento do discurso sobre a guerra”.
Há “a ideia de que é com mais armas e mais guerras que se chega à paz, como se isso fosse tudo uma realidade virtual, com um distanciamento tal que parece que é tudo uma realidade virtual, que não tem efeitos concretos na vida de cada um”, disse o cabeça de lista da CDU.
O antigo secretário-geral da CGTP concordou que “há uma carga de leviandade na abordagem das mudanças que estão em curso e do que pode acontecer”, advertindo que o “mundo está debaixo de uma dinâmica do ponto de vista geopolítico e geoestratégico de impactos enormíssimos”.
Depois, Manuel Carvalho da Silva criticou quem faz o “discurso demagógico” de dizer que “Portugal tem de contribuir para que a Europa seja uma potência que dispute, no plano tecnológico e em todos os planos, a situação à escala global”.
O ex-secretário-geral da CGTP considerou que isso “é uma tontaria e uma leviandade”, e criticou em particular as declarações de Aníbal Cavaco Silva este domingo, que disse que é preciso que Portugal tenha uma “voz credível” no Parlamento Europeu.
“A Europa em 15 anos distanciou-se em relação às dinâmicas tecnológicas à escala global. O que está aí não é uma Europa potência, o que é preciso é criar convergência, que leve a União Europeia a ter identidade própria, menos dependência e não ser cilindrada neste processo de dinâmicas geopolíticas e geoestratégicas”, defendeu.
É por isso que, segundo disse, é hoje essencial que haja forças políticas “com coragem de remar contra a maré, de questionar”: “Assumir a realidade hoje é imprescindível e a realidade não se assume criando um discurso ‘mainstream’ e não se saindo desse círculo”, disse.
Manuel Carvalho da Silva advertiu que, na prática, há hoje muitos direitos humanos que estão a ser postos em causa pelo próprio Ocidente e defendeu que a União Europeia deve defender esses “valores culturais, diversos”.
“Não podemos ser contraditórios, olhar distraídos para o que se passa com os dramas da Palestina e dos palestinianos, em particular, ou na guerra da Ucrânia, ficarmos a discutir a guerra numa de belicismo, em vez de numa procura de responsabilidade”, disse.
Nesta conversa, o ex-secretário-geral da CGTP foi questionado pelos jornalistas sobre como é que encara os primeiros três meses de Governo, e aproveitou para criticar as propostas fiscais do executivo, salientando que o que as famílias mais pobres recebem com o Banco Alimentar vale mais do que o que foi anunciado pelo Governo.
“Isto é que dá que pensar: que país é este, em que os direitos dos cidadãos são substituídos por esmola?”, disse.
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