A denúncia é feita pelo Centro Arco-Íris, que promoveu a realização de um conjunto de iniciativas durante os dias da JMJ de Lisboa, e que já na quinta-feira, dia 3, tinha visto boicotada a celebração de uma eucaristia.
O incidente de sábado à noite não provocou danos físicos, mas “os danos morais são inúmeros”, diz o comunicado do Centro, a que o 7MARGENS teve acesso. “O desespero de serem atacados e insultados sem que outros peregrinos os apoiem deixou marcas profundas e receios do que possa vir a acontecer no futuro, à medida” que aumentar a sua visibilidade, enquanto cristãos LGBTQIA+, acrescenta o texto. “A estes factos juntam-se outros ataques de LGTBIfobia conhecidos pela comunicação social.”
“Não daremos nenhum passo atrás, iremos avançar e mostrar quem somos, pois temos todo o direito de estar nestes actos como os demais”, disse nesta quarta-feira à noite ao 7MARGENS Aníbal Neves, 62 anos, um dos responsáveis do Centro Arco-Íris e do CaDiv = Caminhar na Diversidade, grupo de católicos LGBT do Porto. “Se as pessoas têm ódio, que não apareçam; só estávamos ali para mostrar que existimos dentro da Igreja e que deve ser assim e que não podemos ser postos fora.”
Aníbal Neves era uma das cinco pessoas que integrava o grupo que entrou no Parque Tejo para participar na vigília. Outros grupos provenientes do Centro Arco-Íris tinham já entrado noutros locais do Campo da Graça, o nome com que o espaço foi baptizado no fim-de-semana da JMJ. Foi ele o principal ofendido, tendo sido mesmo atingido por pequenas pedras, retiradas da gravilha do chão.
Aníbal Neves ficou com a sensação de que o pequeno grupo de atacantes era francês, mas não tem a certeza. Um deles era bem mais alto que o português e encostou-se a ele num tom de ameaça. Depois disso, Aníbal já não se recorda se alguém o puxou para trás, evitando que o agressor consumasse alguma ofensa física.
“Estes acontecimentos ensinaram-nos que ainda há um longo caminho a percorrer, porque pensávamos, erradamente, que a vigília papal era um acto seguro, onde todos, todos, todos tinham um lugar”, diz o Centro Arco-Íris. Tendo em conta o que aconteceu, “em ocasiões futuras vamos organizar-nos para o fazer juntos, juntos e juntos, porque a união faz a força”. Claramente, ainda não é hora de um pequeno grupo de pessoas LGBTQIA+, “especialmente se forem mulheres e pessoas vulneráveis, o perfil de pessoas covardemente atacadas, poder entrar neste evento sozinhas, sem encontrar algum obstáculo violento. Tomamos nota para o futuro e trataremos deste assunto com a organização”.
Por isso, os católicos LGBT pedem que os organizadores da Jornada Mundial da Juventude, sediados em Lisboa ou no Vaticano, se reúnam com os líderes e os membros dos seus grupos “para aprender” sobre as experiências e a necessidade de as pessoas se sentirem seguras e respeitados nos eventos da Igrejaa. Queremos que esta experiência resulte na verdadeira segurança e na capacitação de todas as pessoas, independentemente da sua identidade de género ou orientação sexual, participarem de forma livre e segura em futuros eventos da Jornada Mundial da Juventude.
O Centro Arco-Íris faz apesar disso uma avaliação positiva da JMJ, “que ofereceu a qualquer participante a experiência de encontro e formação com outros cristãos LGBTQIA+, apesar de não ter podido incluir as suas atividades no programa oficial, aparentemente por razões formais de temporalidade”.
No comunicado, o grupo agradece também ao Papa Francisco, por ter afirmado: “Na Igreja cabemos todos”, “Não tenhais medo”
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