Margarida Gabriel, coordenadora do curso profissional de Artes do Espetáculo – vertente Interpretação, da escola secundária Dr. Ginestal Machado, em Santarém, disse hoje à Lusa que este tema dominou o I Encontro Nacional de Cursos de Interpretação (ENCI) que juntou na cidade, durante uma semana, uma centena de alunos e professores de escolas de Braga, Évora, Lisboa (com a presença de duas escolas secundárias) e Portalegre, além da escola anfitriã.
Os problemas colocados pelas novas regras de financiamento, nomeadamente com a alteração da aprovação de um projeto para três anos por aprovações anuais, vão voltar a ser debatidos numa reunião a realizar “em data próxima”, dadas as dificuldades sentidas pelos docentes em “concretizar a ampla formação destes cursos, cuja integração na comunidade e empreendedorismo local tanto beneficiam os alunos e a região”, disse.
“Tem de se compreender que este é um curso diferente. Todos os cursos devem ter possibilidade de proporcionar outras experiências, e este, particularmente, tem de ter uma componente prática muito grande”, afirmou Margarida Gabriel, realçando que os alunos têm que ver teatro e ter acesso a formação com outros técnicos, "observarem outras técnicas, e não ficarem limitados aos professores que têm”.
“Sem financiamento é muito mais difícil”, afirmou, frisando que não tem sido fácil às escolas estarem a assegurar o pagamento dos subsídios de alimentação e transporte aos alunos porque o dinheiro, que existe, está cativado à espera de aprovação quando os módulos foram aprovados e o ano está praticamente concluído.
O docente Artur Dagge disse à Lusa ser igualmente incompreensível que as escolas do ensino profissional privado tenham visto as suas candidaturas aprovadas, tendo o financiamento assegurado para este e para o próximo ano letivo, não tendo acontecido o mesmo para as escolas públicas com cursos profissionais, com a agravante de que estas “não puderam incluir todas as rubricas”, ao contrário das privadas.
“Na prática não vai haver financiamento para este ano letivo, não temos qualquer garantia para anos futuros e isso cria uma situação clara de desigualdade”, declarou, frisando que não se trata de dinheiros do Orçamento do Estado, mas de fundos comunitários, canalizados através do Programa Operacional Capital Humano.
Margarida Gabriel afirmou que o encontro realizado a semana passada em Santarém, proposto por outra docente do curso, Sara Gabriel, “ultrapassou” as expectativas iniciais, só tendo sido possível graças à colaboração do município, que “permitiu receber as pessoas com o mínimo de condições”.
Convicta de que haverá nova edição do ENCI, pelo "entusiasmo" com que esta foi vivida e pela vontade manifestada pelos professores que participaram, a docente referiu a importância da partilha não só dos problemas de financiamento e da forma como vão sendo ultrapassados, mas também pela reflexão “sobre o próprio trabalho, formas de o melhorar e de o mostrar às pessoas”.
Ao longo da semana, os alunos tiveram oportunidade de ter ‘workshops’ com docentes de outras escolas e de mostrar o trabalho que fazem em espetáculos que decorreram em vários espaços da cidade, disse.
Para Margarida Gabriel, o que o curso tem mostrado é que vale a pena discutir “para que serve o ensino”, se faz sentido centrar a discussão na questão das saídas profissionais ou antes no amadurecimento e nas experiências proporcionadas, frisando que as exigências de um curso de teatro, desde a compreensão dos textos à forma “como se coloca o discurso no corpo e no olhar”, dão a estes alunos “muita facilidade em ficar em qualquer sítio”, independentemente da profissão que venham a escolher.
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