Em declarações à France-Presse (AFP), especialistas consideraram “improvável” a interrupção total do abastecimento de gás natural russo, mas apontaram alternativas.
“Os gasodutos vêm da Noruega, Argélia e Azerbaijão, mas esses países não têm capacidade de produção adicional”, indicou Thierry Bros, professor da Sciences Po Paris.
Assim, prosseguiu, a Europa está de olhos postos no fornecimento de gás natural liquefeito (GNL), que pode chegar por navio, proveniente de qualquer parte do mundo.
Do outro lado do Oceano Atlântico, os Estados Unidos anunciaram que estão a trabalhar em “fornecimentos alternativos, que cobrem uma maioria significativa de potenciais cortes” no fornecimento de gás russo à Europa.
Nesse sentido, o Presidente Joe Biden tem já uma reunião agendada com o Emir do Catar, o maior exportador mundial de GNL, na próxima semana.
Também a Austrália disse estar pronta para enviar gás natural para a Europa.
“Em termos de volumes [de GNL], os três gigantes, atualmente, são o Catar, a Austrália e os Estados Unidos”, indicou Vincent Demoury, delegado-geral do Grupo Internacional de Importadores de Gás Natural Liquefeito (GIIGNL).
“São sobretudo aqueles três países que teriam flexibilidade para produzir mais, ou redirecionar para a Europa volumes tradicionalmente direcionados para outros mercados”, acrescentou.
No entanto, “não é possível substituir todo o gás russo por GNL”, advertiu Thierry Bros.
As capacidades de regaseificação na Europa (incluindo o Reino Unido) são de cerca de 19 mil milhões de metros cúbicos (bcm) por mês, dos quais cerca de 8 bcm, em média, já estão utilizados, sobrando cerca de 11 bcm de capacidade para uso.
Aquele valor, apontou o especialista, não é suficiente para compensar os cerca de 14 bcm por mês vindos da Rússia.
Este inverno, as reservas de gás na Europa estão baixas e os suprimentos da Rússia atingiram um nível historicamente baixo este mês.
Ainda assim, os especialistas duvidam que a Rússia chegue ao ponto de fechar completamente a torneira.
“A suspensão total das exportações de gás continua a ser o menos provável dos cenários”, considerou o Eurasia Group.
Para o grupo de consultoria e pesquisa de risco político, “isso acarretaria sérios riscos de longo prazo para a estabilidade financeira e influência política da Rússia na Europa, já que a União Europeia, provavelmente, responderia agressivamente, diversificando o seu suprimento de energia”.
“Os russos não têm interesse em interromper as entregas”, realçou Thierry Bros.
Além do interesse financeiro, apontou, a manutenção das suas entregas “permite criar discordância na Europa”, uma vez que a Rússia poderia continuar a abastecer alguns países (Alemanha, Grécia, Hungria, por exemplo), mas outros não (Polónia, Lituânia).
Perante uma crise que ilustra a forte dependência energética da Europa em relação ao seu vizinho russo, os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) estão a ponderar soluções a médio prazo.
O primeiro caminho, que acaba de ser discutido numa reunião informal dos ministros da energia europeus, em Amiens, França, passa por estabelecer “regras mais rígidas sobre armazenamento de gás”, conforme indicou a ministra francesa para a Transição Ecológica, Barbara Pompili.
O modelo francês, que garante o preenchimento das reservas para o inverno, poderia, assim, ser ampliado.
Também o Luxemburgo sugeriu a assinatura de contratos de fornecimento de longo prazo com países produtores considerados mais fiáveis do que a Rússia.
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